Nos Limites do Desejo e Prazer
O som grave da batida eletrônica vibrava pelas paredes luxuosas da boate mais disputada da cidade, o “Éden Privé”. Era uma noite temática — festa de máscaras —, e a pista estava repleta de corpos em movimento, luzes piscantes e olhares curiosos escondidos sob véus de seda e rendas.
No canto esquerdo da pista principal, entre risos e passos tímidos, Isabela aproveitava sua rara noite de descanso. Seu vestido preto simples até os joelhos delineava seu corpo com uma elegância sensual e sem exageros. A meia-calça levemente transparente alongava suas pernas e o scarpin preto completava o visual discreto, mas marcante. O cabelo, solto em ondas retas até a cintura, estava preso apenas na parte da frente com grampos discretos. A máscara negra de renda deixava os olhos cor de mel ainda mais intensos.
Ao seu lado, Renata, sua melhor amiga desde o segundo semestre da faculdade, não parava de rir e incentivá-la a “pelo menos aceitar um drink”. Mas como de costume, Isabela apenas sorria e desconversava.
— Você não pode passar o tempo todo fugindo — provocou Renata, segurando o braço dela. — Olha à sua volta, tem no mínimo dez homens tentando descobrir seu nome.
— Problema deles — respondeu Isabela, dando de ombros com um sorrisinho de canto. — Não vim pra isso.
— E veio pra quê, então?
— Pra dançar. Pra respirar. Pra lembrar que ainda existe vida fora do trabalho e da faculdade.
Renata revirou os olhos, mas sabia que não adiantava insistir. Isabela era centrada, prática, e raramente se deixava levar por impulsos.
No andar superior, isolado por vidros escurecidos, Dante Ferraz observava a boate com um copo de whisky na mão. Os amigos o cercavam, todos mascarados, rindo alto e puxando papo com mulheres que se aproximavam. Mas ele parecia alheio a tudo isso.
Seus olhos verdes estavam fixos na figura misteriosa que dançava abaixo. Aquela mulher não apenas se destacava — ela dominava o espaço ao seu redor com uma confiança silenciosa. A máscara escondia parte do rosto, mas a beleza era inegável. A maneira como se movia, como ignorava qualquer aproximação com um leve aceno ou um simples passo para o lado, o deixava ainda mais intrigado.
— Aquele olhar não é de alguém entediado — comentou um dos amigos, notando a fixação de Dante. — Já escolheu o desafio da noite?
Dante apenas sorriu de lado, aquele sorriso que combinava charme e arrogância em medida perfeita.
— Eu não escolhi. Ela escolheu me intrigar — murmurou.
---
Do lado de fora, o ar fresco da madrugada acariciava o rosto de Isabela. Ela se encostou na parede lateral do prédio, longe da movimentação, tentando equilibrar os próprios pensamentos. A cidade lá fora parecia mais calma do que sua mente.
Foi então que ele surgiu.
— Fugindo da festa? — perguntou Dante, com a voz baixa e provocante.
Ela virou o rosto em sua direção e, mesmo com a máscara, o impacto da beleza dele foi imediato. Alto, ombros largos, pele levemente bronzeada, cabelos pretos perfeitamente desalinhados e aqueles olhos verdes... intensos, quase hipnóticos.
— Estou apenas respirando — respondeu ela com firmeza, cruzando os braços.
— Você parece... diferente. Não como as outras.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Isso seria uma cantada disfarçada ou apenas uma observação aleatória?
Ele riu, relaxado, se aproximando com calma.
— Uma constatação. Você tem uma presença... forte. Intensa. Dá pra notar até do andar de cima.
Isabela desviou o olhar por um segundo e, ao voltar a encará-lo, viu duas garotas observando Dante como se ele fosse uma celebridade.
— Entendo — disse ela, séria. — Então você é o centro das atenções por aqui.
— Não exatamente.
— Olha, não tenho interesse em caras como você.
— Como eu?
— Bonito, arrogante, cercado de gente querendo um pedaço. Gente que acredita que tudo pode ser conquistado com um sorriso. Eu passo.
E antes que ele pudesse responder, ela se virou e entrou novamente na boate, deixando Dante parado, entre confuso e fascinado.
---
Nos dias seguintes, Isabela voltou à rotina intensa de estudos, trabalho na lanchonete e algumas festas extras como garçonete. Não havia espaço para distrações, muito menos para lembranças de uma noite fora do normal. Mas aquele olhar verde teimava em surgir em sua mente nos momentos mais aleatórios.
Na quarta-feira pela manhã, seu celular vibrou com uma notificação que a fez quase derrubar o café.
“Parabéns! Você foi selecionada para a vaga de estágio no departamento jurídico da Ferraz & Coelho Empreendimentos. Apresente-se na sede às 8h da próxima segunda-feira.”
Ela gritou de alegria, pulou sozinha no meio do apartamento e imediatamente ligou para Renata.
— Rê! Eu consegui! Fui chamada pra Ferraz & Coelho! Aquela empresa enorme!
— Mentira! É aquela que tem o CEO todo gato que vive nas capas de revista?
Isabela franziu o cenho.
— CEO gato? Eu só quero o estágio.
— Ah, amiga, você precisa olhar um pouco mais ao redor...
Isabela riu e, animada, passou os dias seguintes se preparando para sua nova etapa. Era a chance de ouro, e ela sabia disso. Colocou sua melhor roupa social, separou os documentos, estudou um pouco mais sobre a empresa e chegou cedo no dia marcado.
O prédio da Ferraz & Coelho era imponente, com uma arquitetura moderna e espelhada que refletia o céu da cidade. Ela respirou fundo ao entrar, tentando conter o nervosismo.
— Você é a nova estagiária? — perguntou uma recepcionista simpática.
— Sim, Isabela Nunes.
— Ótimo, pode subir para o 15º andar. A equipe jurídica já está te esperando.
Quando as portas do elevador se abriram, Isabela caminhou até o setor indicado com passos firmes. Mal sabia ela que, do outro lado do vidro fumê da sala principal, alguém a observava com o mesmo fascínio da primeira vez.
Dante ergueu os olhos de um relatório e congelou por um segundo.
— Não pode ser...
A garota da boate. Aquela que o ignorou. Aquela que disse que não se interessava por “caras como ele”.
Um sorriso lento surgiu em seu rosto. O jogo acabava de começar — e ele adorava um bom desafio.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments