O andar jurídico da Ferraz & Coelho era silencioso, bem iluminado e moderno. As paredes em tons claros, o vidro fosco e as prateleiras repletas de livros criavam um ambiente sério e elegante. Isabela entrou com passos firmes, mesmo que o coração batesse acelerado. Vestia uma calça social preta, camisa branca de tecido leve com gola delicada, salto discreto e cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. Profissional. Determinada. Impecável.
Uma mulher loira de uns trinta anos se aproximou com um sorriso educado.
— Você deve ser Isabela. Eu sou Marina, advogada sênior do setor. Seja bem-vinda.
— Obrigada. Estou muito animada com essa oportunidade.
— E tem motivos para estar. Essa empresa exige muito, mas também oferece muito em troca. — Ela fez um gesto para que Isabela a acompanhasse. — Vamos te apresentar ao restante da equipe.
Isabela absorvia cada palavra, cada passo. O local era enorme, e a responsabilidade de estar ali já começava a pesar positivamente sobre seus ombros. Era o tipo de pressão que ela gostava — aquela que a fazia se superar.
— Nossa diretora jurídica é a doutora Cláudia, e o diretor executivo geral... bem, provavelmente você já ouviu falar dele — disse Marina com um leve sorriso enigmático.
Isabela franziu o cenho.
— Não acompanho muito o mundo corporativo... sou mais das bibliotecas do que das revistas.
— Você vai entender logo.
Mal sabiam as duas que, atrás do vidro de uma sala executiva, Dante observava a conversa. As mãos apoiadas nos bolsos da calça social, a expressão divertida no rosto.
— Doutor Dante, o senhor quer que eu envie o relatório da filial agora? — perguntou seu assistente, entrando na sala.
— Manda depois — respondeu sem tirar os olhos da tela que exibia a câmera de segurança interna do corredor. — Estou ocupado.
— Com...?
— Curiosidade profissional.
---
O dia seguiu com apresentações, repasse de normas e dinâmicas de integração. Isabela foi impecável. Comunicativa, segura e cheia de perguntas inteligentes, conquistou boa parte da equipe logo nas primeiras horas.
No início da tarde, enquanto organizava alguns documentos ao lado de Marina, ouviu a porta se abrir com um clique seco. E foi como se o tempo congelasse por um instante.
Ele estava ali. Em carne, osso e provocação.
Dante Ferraz entrou como se o mundo girasse ao seu redor — e, de certo modo, girava mesmo. Usava um terno cinza escuro perfeitamente ajustado ao corpo alto e atlético. A camisa branca destacava ainda mais os olhos verdes intensos, e o sorriso discreto ao vê-la era um golpe direto.
Isabela endireitou a postura, disfarçando a surpresa com profissionalismo.
— Boa tarde, equipe. Vim dar as boas-vindas pessoalmente à nova estagiária — disse Dante, os olhos cravados nela.
Marina sorriu.
— Isabela, este é o senhor Dante Ferraz, CEO da empresa. Dante, essa é Isabela Nunes.
— Nos conhecemos — respondeu ele, com um tom quase imperceptivelmente carregado de ironia.
Isabela forçou um sorriso educado.
— Tivemos um breve encontro em uma festa, por acaso.
— Um encontro inesquecível — acrescentou Dante, fazendo Marina arquear uma sobrancelha discretamente.
— Foi mesmo? — rebateu Isabela, com um olhar firme. — Eu lembraria se fosse.
Dante sorriu mais largo, divertido.
— Que bom que agora vamos trabalhar juntos. Estou ansioso pra ver como você lida com... pressão.
— Eu lido muito bem com metas e prazos — retrucou ela. — Com distrações, nem tanto.
Marina tossiu de leve, desconfortável, e tentou mudar o foco.
— Isabela vai apoiar diretamente a equipe de contratos, mas em alguns casos poderá revisar documentos de diretoria, dependendo da necessidade.
— Perfeito. — Dante cruzou os braços. — Gosto de ver gente que não se intimida fácil.
— E eu gosto de ver líderes que sabem respeitar o espaço dos outros — respondeu ela, seca, mas mantendo a compostura.
Dante encarou-a com um brilho nos olhos, como se cada frase dela fosse combustível para sua vontade de provocar ainda mais.
— Seja bem-vinda, Isabela. Nos vemos em breve.
Ele saiu com a mesma tranquilidade com que entrou, e Marina soltou o ar que parecia estar prendendo.
— Uau... parece que você mexeu com ele.
— Eu? Só fui educada — disse Isabela, voltando ao trabalho com as mãos ligeiramente trêmulas.
Mas por dentro, havia um redemoinho.
---
Naquela noite, Isabela se jogou no sofá do pequeno apartamento com um suspiro profundo. Tinha a sensação de que o dia durara mais de 24 horas. A presença de Dante mexera com algo dentro dela que ela não queria nomear. E isso a irritava.
— Arrogante, convencido, egocêntrico... e por que diabos ele tem que ser tão bonito? — murmurou para si mesma, olhando para o teto.
Seu celular apitou com uma mensagem de Renata.
Rê: “E aí, como foi o primeiro dia? Conheceu o CEO gato?”
Isabela: “Conheci sim. Pior do que imaginei. Bonito, sim. E insuportável também.”
Rê: “HAHAHAA MEU DEUS. Vocês se falaram?”
Isabela: “Troca de farpas, nada demais. E ele claramente me reconheceu.”
Rê: “Hmmmm sinto cheirinho de tensão no ar!”
Isabela: “Não começa.”
Ela deixou o celular de lado e respirou fundo. Estava ali para aprender, crescer, construir o futuro. Não para se distrair com homens perigosos que pareciam ter saído direto de uma propaganda de perfume caro.
---
Na manhã seguinte, ao entrar no escritório, Isabela encontrou uma pequena caixa sobre sua mesa. Não havia remetente, apenas uma etiqueta escrita à mão:
“Para ajudar a lidar com a pressão.”
Ela abriu com cuidado e encontrou uma barra de chocolate amargo importado. Franziu o cenho e olhou em volta, mas ninguém parecia prestar atenção.
Marina passou e sussurrou:
— Presente do andar de cima.
— Eu não aceito suborno — disse Isabela, cruzando os braços.
— Às vezes, é só um agrado. E chocolate ajuda com o estresse — piscou Marina, indo embora com um sorriso.
Isabela pegou a barra, deu uma mordida e revirou os olhos contra a própria vontade. Era delicioso. E sim, ajudava.
“Droga”, pensou. “Ele não vai me tirar do sério. Eu não vou me distrair. Nem um pouco.”
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments