O sol começava a se deitar no horizonte quando Lorena tirou as sandálias e afundou os pés na areia morna da praia de Ponta Negra. A brisa do mar acariciava seus cabelos cor de mel, fazendo-os dançar contra o colo dourado pela luz do entardecer. Ela fechou os olhos por um instante, inspirando o cheiro de sal e liberdade, tentando esquecer — ainda que por algumas horas — o peso que era viver sob os muros invisíveis da mansão onde cresceu.
— Amiga, eu vou precisar ir — disse Jully, com o celular ainda na mão. — Minha mãe passou mal. Acabaram de me ligar. Eu vou pegar um táxi. Tu ficas ou vais comigo?
Lorena hesitou. Sabia que os pais a tinham deixado sair apenas porque estava acompanhada da amiga. Mas olhou para o
mar, sentiu o vento e a paz que aquele lugar trazia. Precisava daquilo.
— Eu vou ficar só mais um pouquinho, prometo. Só até o sol se pôr. Depois eu pego um táxi. Diz à tua mãe que eu mando um beijo.
— Qualquer coisa, me liga. — Jully sorriu e saiu apressada, deixando as pegadas para trás.
Sozinha na areia, Lorena sentou-se. Ficou observando as ondas quebrarem em um ritmo quase hipnótico. Foi então que o destino começou a traçar sua linha.
Do outro lado da praia, um rapaz a observava.
Alto, pele clara dourada, olhos de tempestade e expressão serena. Ele vestia uma camisa branca aberta sobre uma regata e uma bermuda cáqui. Tinha nas mãos um caderno de anotações — talvez algo de estudo ou trabalho —, mas sua atenção estava completamente voltada para ela.
Lorena não percebeu de imediato. Só notou quando ele se aproximou e sentou a uma distância respeitosa.
— Essa é uma das praias mais bonitas que já vi — disse ele, em português com um sotaque charmoso. Americano. — Mas acho que ficou ainda mais bonita hoje.
Ela o olhou com um estranhamento e um leve sorriso defensivo nos lábios.
— E o que te faz pensar isso?
— A luz. A areia. E... você — completou, apontando discretamente para ela. — Desculpa. Isso soou meio cafona, né?
Lorena não pôde evitar o riso. E então ele estendeu a mão.
— Ethan Wolfe. Vim para um programa de estágio aqui em Natal. Universidade Federal. Engenharia e Administração. Estou aproveitando o fim do dia.
Ela apertou a mão dele, hesitante.
— Lorena. Só Lorena.
— Nome bonito. Você é daqui?
— Sou. Nasci e cresci aqui. Só estou curtindo um tempinho de liberdade. — Ela olhou para o céu que começava a mudar de cor. — O mundo lá fora não me pertence muito, sabe?
Ethan a olhou com curiosidade genuína. Diferente dos rapazes que ela conhecia, ele parecia ouvir de verdade. Com atenção, com respeito.
— O meu mundo também é cheio de obrigações — ele disse. — Mas aqui... parece que o tempo para.
Conversaram por quase uma hora. O sol sumiu, as estrelas surgiram discretamente no céu, e a noite se aproximava com promessas de algo novo. Lorena nem percebeu o tempo passar.
Foi Ethan quem olhou o relógio e comentou:
— Já escureceu. Você quer jantar? Tem um restaurante ali na orla... simples, mas com a melhor moqueca que já provei.
Ela se encolheu um pouco.
— Eu não posso. Meus pais são rigorosos. Eles só me deixaram vir porque eu estava com a minha amiga. Eles nem sabem que ela já foi embora. Se eu demorar, vão desconfiar.
— Entendo. Mas... — ele sorriu de canto. — E se a gente se encontrar de novo? Amanhã? Ou depois?
— Onde?
— Onde você puder.
Ela pensou, mordeu o lábio inferior e então respondeu:
— No shopping. Eu posso dizer que preciso comprar material para a faculdade. Costumo ir sozinha. Se for por volta das três da tarde...
Ethan assentiu.
— Combinado. Eu espero por você. No café perto da livraria.
Naquela noite, Lorena chegou em casa atrasada. Inquieta, com o rosto corado e o coração batendo de forma estranha. Como se algo tivesse sido despertado dentro dela.
Nos dias seguintes, encontraram-se várias vezes. No shopping. Na saída da faculdade. Às vezes apenas para conversar. Outras, para passearem à beira-mar em horários estratégicos.
Ethan era tudo o que ela não sabia que existia: gentil, inteligente, com um humor leve, mas uma profundidade nos olhos que a puxava como um redemoinho suave.
E então, num fim de tarde mais nublado, num chalé alugado por ele para os fins de semana, ela se entregou. Inteira. Corpo e alma.
Aquela foi a primeira vez de Lorena. E, para ela, seria a única.
Desde aquele fim de tarde em que se despediram com promessas e um horário marcado, os dias começaram a correr com outra cor. Lorena acordava mais cedo, cuidava dos cabelos com mais capricho, e vivia com um sorriso que nem ela percebia. Os encontros com Ethan tornaram-se o segredo mais precioso que ela já guardava.
Eles se viam quase todos os dias. Às vezes no café do shopping, outras em livrarias ou lugares pouco movimentados na cidade. Lorena dizia que precisava comprar livros para a faculdade, estudar com uma colega ou resolver questões na biblioteca. A desculpa mais recorrente era sempre: "Vou encontrar com Jully". E os pais, ocupados demais com a imagem da família, aceitavam sem suspeitar — até porque Jully era “a companhia segura”, a amiga com nome de confiança.
Ethan era encantador. Ele sabia ouvir, fazia perguntas que a faziam refletir sobre si mesma e tinha uma calma que contrastava com a impulsividade do mundo em que ela vivia. Às vezes, eles falavam sobre os livros que Lorena lia no curso de Letras. Outras, ele contava sobre as empresas da família, sobre a pressão de ser o sucessor de um império que nunca escolheu.
— Não pense que é fácil ser livre só porque vim de fora — ele disse uma vez. — Lá também há regras... só que são ditas com sorrisos. Meu pai quer que eu assuma tudo em dois anos. Estou correndo com a pós e o mestrado ao mesmo tempo.
— E você quer isso?
Ele fez silêncio, depois deu de ombros.
— Quero ser alguém que não me perca no caminho.
Naquela tarde, ele segurou o rosto de Lorena com ambas as mãos e a beijou como se estivesse memorizando. Como se já soubesse que, cedo ou tarde, aquele momento teria fim.
Foi ali, semanas depois do primeiro olhar na praia, que Lorena soube. Ethan era seu primeiro amor. E, mesmo sem falar, ela já sentia que seria o único.
A entrega aconteceu num sábado, no chalé que ele alugava para finais de semana, afastado da cidade, rodeado por mata e silêncio. Lorena hesitou, não por medo, mas por consciência. Sabia o que aquilo significava. Não era apenas desejo. Era confiar, doar-se, despir corpo e alma.
Ethan foi delicado, paciente, respeitoso. Seus toques eram suaves, os olhos fixos nos dela, os beijos como juras silenciosas. Foi ali que ela descobriu que amor e prazer podiam andar juntos — e que, mesmo sem promessas faladas, havia um elo sendo criado entre eles.
Depois, deitada com a cabeça no peito dele, ouvindo as batidas calmas do coração, Lorena acreditou que aquilo duraria para sempre.
Mas o sempre chegou cedo demais.
Na última semana do mês, ele apareceu diferente. Sentou-se no banco da praça onde costumavam se encontrar e demorou para falar.
— Lorena meu estágio aqui termina em três dias.
Ela sentiu o estômago revirar.
— Três dias?
— Eu preciso voltar. Meu pai me espera. Preciso concluir minha pós, o mestrado e começar a assumir parte das empresas.
Ela engoliu seco. Não queria chorar. Não na frente dele.
— Eu sabia que isso ia acontecer... só não achei que seria tão cedo.
Ethan segurou a mão dela com força.
— Eu vou voltar. Eu juro. Foi o melhor mês da minha vida. Eu nunca me senti tão vivo.
— Vai me escrever?
— Vou. — Ele parou por um segundo. — Você me passa seu número?
Lorena procurou o celular. Não estava com ele. Tinha deixado na mochila que Jully levara para consertar o zíper.
— E você? Me passa o seu.
Ethan franziu o cenho.
— Deixei meu telefone na república. Mas eu volto. É sério.
Eles se abraçaram ali, como se o tempo tivesse virado areia.
Ela viu Ethan partir dois dias depois, com a mala no táxi e um último aceno da janela.
Ela ficou.
E nenhuma ligação veio.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 73
Comments
Dulce Gama
tadinha que situação está ótima sua história Autora parabéns 🌟🌟🌟🌟🌟❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍
2025-07-13
0