Ecos da Arkheia

O Salão dos Ecos

As portas pesadas de ébano se fecharam com um rangido abafado, isolando completamente o cômodo do resto do Palácio Dourado de Edevan. O som do mundo lá fora desapareceu como se nunca tivesse existido.

As paredes da câmara eram talhadas com runas antigas de silenciamento e contenção de Arkheia.

Arkheia é a energia formada por quatro tipos de particulas de energia, sao elas a Mana, Qi, Éter e Essência Espiritual, estar particulas formam o que chamam de Arkheia.

Somente ali, longe de ouvidos e olhos mágicos, o imperador Caelis Tervan III se permitia falar sem máscara.

Ele caminhou até a janela arqueada de pedra negra, observando os telhados azul-escuros da capital sob o céu noturno. O frio do inverno era sutil naquela noite. O silêncio da cidade... incômodo.

Atrás dele, o conselheiro Seneth Voskar aguardava em silêncio, as mãos entrelaçadas nas costas, os olhos fixos em um mapa aberto sobre a mesa de mármore.

— Diga-me, Seneth, — começou o imperador, sem virar-se. — Há quanto tempo mesmo os estudiosos da Assembleia deixaram de usar o termo “Relíquias de Essência”?

O velho estrategista respondeu com a serenidade de quem pesa cada palavra como uma espada:

— Cerca de dois séculos, Majestade. Desde que os registros do evento de Vir’Almora foram selados. Aqueles que ousaram continuar a pesquisa foram banidos... ou desapareceram.

O imperador girou lentamente, os olhos âmbar penetrando o conselheiro como se procurassem algo escondido sob sua pele.

— E mesmo assim..., rumores voltam a circular. Instabilidades nos véus. Mutação de fauna mágica. E agora... picos de Arkheia surgindo no coração da única floresta que nunca conseguimos mapear.

Seneth assentiu, estendendo um pergaminho amarelado pela idade.

— Esta cópia foi extraída dos arquivos profundos da Biblioteca de Elyzar. Data de trezentos anos atrás. Uma descrição direta do colapso de Vir’Almora. Aqui — ele apontou com o dedo — menciona um artefato: um "coração de convergência", feito para canalizar todas as formas da Arkheia em um único fluxo.

— E o que aconteceu quando tentaram usá-lo?

— A cidade desapareceu em sete minutos. Nem os esqueletos permaneceram. Apenas cinzas da cidade e uma floresta contaminada com Arkheia instável. Mas o ponto, Majestade... é que a assinatura mágica daquela relíquia está surgindo novamente.

Caelis passou a mão pelo queixo, pensativo.

— Mavernia... A floresta que engole impérios. — Ele deu um passo à frente. — Você acredita que haja uma relíquia perdida no interior?

— Sim. Ou algo pior: fundido a um ser vivo. Restos de registros resgatados da pesquisa sugere que não é impossível que seja feita a fusão, especulações sugerem que este pode ter sido o motivo verdadeiro do desastre de Vir’Almora.

— As Duas Décadas de Declínio...

— Quando exatamente a instabilidade começou? — perguntou o imperador.

Seneth puxou um segundo pergaminho, mais recente.

— Há vinte anos. Inicialmente, como desvios pequenos de picos de Arkheia em regiões selvagens. Mas rapidamente evoluíram para fendas no véu, pulsos de éter sem fonte, e até mesmo inversões de afinidade mágica.

— E ninguém suspeitou de uma origem?

— Acreditavam ser consequência de saturação natural. Mas há uma anomalia permanente que se fixou no mapa há dezenove anos, Majestade. Uma única região onde o fluxo se recusa a ser lido... no centro de Mavernia.

O imperador se virou por completo, a voz agora carregando o peso do comando.

— Então que seja feita a primeira expedição em profundidade. Escolha um comandante. Escolha bem. Não quero fanáticos, nem tolos. Preciso de alguém que volte vivo.

Seneth fez uma leve reverência.

— Já tenho um nome: Kaleorn Dervan, guerreiro do Conclave das Lâminas, 6º Círculo, leal, pragmático... e acima de tudo, silencioso.

— Aprove — disse Caelis. — E selecione os seis melhores rastreadores e cultivadores disponíveis.

— Também sugeri Elyra Solvine, filha do Arquimago Solvine da Assembleia. Ela é jovem, mas extremamente sensível à Arkheia. A única que identificou o padrão da distorção se repetindo com exatidão.

O imperador assentiu lentamente.

— Que ela vá. Mas se não retornar... a culpa será sua.

Seneth sorriu de forma leve, como quem aceita um fardo inevitável.

— Como sempre foi, Majestade.

Infiltrar-se silenciosamente em Mavernia.

Investigar a origem da instabilidade e da distorção da Arkheia.

Verificar se há relíquias ativas, criaturas anômalas, ou outras forças desconhecidas no centro da floresta.

Voltar com provas — se possível.

O imperador se voltou à janela. A luz da lua recortava seu perfil de guerreiro cansado de guerras.

— Há algo lá dentro... e mesmo que esteja em silêncio agora...

— ...pode acordar.

A luz da manhã atravessava os vitrais dourados da Câmara de Comando do Conclave, tingindo de âmbar as armaduras e mantos dos que ali estavam reunidos. O mármore frio sob os pés refletia uma tranquilidade que não se estendia aos rostos. O peso da missão era real.

No centro do salão, parado como uma muralha viva, Kaleorn Dervan mantinha-se imóvel. Os olhos de bronze avaliavam o mapa etéreo de Mavernia projetado sobre a mesa rúnica. Um borrão opaco de silêncio e perigo.

Atrás dele, Seneth Voskar, conselheiro imperial, aguardava em silêncio — mãos entrelaçadas, rosto cansado, mas mente afiada.

— Já decidiu quem vai? — perguntou Seneth.

Kaleorn assentiu. — Oito nomes. Nenhum mais.

Seneth ergueu uma sobrancelha. — Esperava doze.

— Mais do que oito... só atrai morte. — A voz de Kaleorn era baixa, firme. — Essa floresta não perdoa números.

Um silêncio incômodo caiu entre os dois, até que Seneth falou:

— A floresta já levou alguém seu, não levou?

Kaleorn não respondeu imediatamente. Os dedos percorreram uma pequena pulseira de ferro presa ao pulso esquerdo — quase imperceptível, antiga e gasta.

— Meu irmão entrou lá há quinze anos, numa missão de reconhecimento com os batedores do Conclave. Nunca voltaram. Só restou isso... e um campo de Arkheia inerte.

Seneth não replicou. Apenas inclinou a cabeça em respeito. Aquilo explicava mais sobre Kaleorn do que todos os registros militares combinados.

Os Escolhidos, Kaleorn passou para Seneth um cristal brilhante.

O cristal de convocação brilhou com as insígnias dos nomes aprovados.

Ehran Faelwyn, caçador das Terras Rúnicas.

Alto, de corpo enxuto, olhos cinzentos como tempestade. Tinha ouvidos como lobos e pés que não deixavam rastros.

4º Círculo – Qi.

Capaz de sentir desvios na Arkheia como se sentisse cheiro de sangue.

Mirael Vonn, encantadora de muralhas.

Braços grossos, tatuagens rúnicas no rosto e mãos. Ria alto, mas combatia com brutalidade.

3º Círculo – Mana.

Especialista em proteção, encantamentos e suporte de campo.

Keven “Raiz” Dorran, espírito gentil.

Jovem, cabelos castanhos cacheados, olhos verdes vibrantes. Trazia um bastão vivo que crescia conforme sua vontade.

2º Círculo – Essência Espiritual e Qi.

Tímido, mas seu coração nobre o tornaria peça-chave em algo muito maior.

Dois arqueiros (Círculo 2) e um alquimista de campo (Círculo 3) completavam o grupo. Experientes e discretos.

E por fim...

Elyra Solvine, filha de um dos principais anciões da Assembleia Arcana.

Entrou com passos decididos. Cabelos azul-escuros presos às pressas, olhos agora tingidos de um prata etéreo.

— Você rompeu o Círculo, — disse Kaleorn, surpreso.

— Ontem à noite, — ela respondeu. — A simulação da distorção me levou ao 3º Círculo.

Ela agora era mais do que uma estudiosa: era uma rastreadora da própria Arkheia viva.

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Sistema de Governo de Edevan

Na sala de reuniões ao lado, Seneth explicou a um dos comandantes recém-chegados:

— A Coroa decide o rumo.

A Assembleia Arcana molda a mente do Império — conhecimento, magia, verdade.

E o Conclave... é a espada.

— E quem vigia os três? — perguntou o homem.

Seneth sorriu... —

---

Na noite anterior à partida, Keven e Elyra conversavam em volta da fogueira nos jardins externos do Palácio, onde os suprimentos da expedição estavam sendo preparados.

— Nunca entendi bem essa coisa de círculos... — murmurou Keven. — Sei que estou no segundo, mas... o que realmente muda?

Elyra pasma, desviou o olhar dele e olhou para o céu suspirando e respondeu:

— A Arkheia é o tecido da realidade. Cada partícula dela é feita de quatro fios:

Mana, como o vento que carrega os feitiços.

Qi, como o pulso do corpo e da terra.

Essência Espiritual, a alma moldada em energia.

Éter, o reflexo da existência no além.

— Cada Círculo... — ela continuou — é uma engrenagem que refina o seu corpo com esse tecido. Mas ao subir, a própria realidade começa a resistir.

— E o 12º Círculo?

— Dizem que é onde a alma toca a origem. Mas ninguém chega lá sem pagar um preço, de acordo com as lendas, nao existem pessoas nesse nível... Pelo menos ate onde sabemos, o mundo e vasto, quem sabe o que realmente tem escondido por ai.

Ja nos preparativos finais antes da expedição, enquanto observavam os mapas da rota da floresta, Elyra divagava com Keven:

— O impérios de Aevaronn é o coração. Edevan, a mente. Dalrath, a fé. Ellvanor, as mãos.

— Tiar’Kel são os ossos — duros, inexplorados, orgulhosos.

— Mas Vel’Dharos... é o eco. Um sussurro que não existe mais.

Keven apontou para o vazio no mapa, o centro da floresta.

— E Mavernia?

— É o véu entre o que foi esquecido e o que nunca deveria ser lembrado. Disse com conhecimento de causa mas sem querer se aprofundar.

Com tudo preparado, Seneth entregou pessoalmente um códice selado a Kaleorn.

— Deixe Elyra estudar isso. Mas a faça queimar após leitura.

Era um pergaminho de Ellvanor, traduzido pelos magos de Dalrath.

Era um pergaminho curto, amarelado e enrrolado, abrindo levemente Kaleorn leu o breve conteúdo que dizia:

“Quando a realidade tremer em silêncio...

...o Coração Sem Tempo caminhará entre folhas.

E onde seus pés tocarem, nem a Arkheia ousará fluir.”

Kaleorn soltou um suspiro curto.

— Superstições. Tanto mistério pra isso?

Seneth apenas mostre a ela e queime.

Kaleorn assentiu mas não respondeu. Não insistindo no assunto e se apressando pra partir logo.

---

Na manhã da partida, o grupo da expedição cruzou a Praça dos Quatro Ventos.

O povo se afastava para abrir passagem assim que viam os longos mantos negros presos com a insígnia do Conclave.

Mas, entre a multidão na rua movimentada pelas barracas, um casal encapuzado caminhava na direção oposta.

As mãos estavam dadas, os passos suaves. Os mantos cinzentos os escondiam... bem, quase.

Elyra que seguia o grupo, parou por um instante. Olhou para o homem encapuzado — alto, de postura serena, barba nao tao longa e cabelos negros soltos, cobrindo parte do rosto. Seus olhos... cor de âmbar acinzentado, profundos como a noite antes do tempo.

Quando os olhos dele encontraram os dela, a Arkheia ao redor pareceu pausar.

Um pássaro caiu morto do céu, sem ferimentos. Um sussurro do desequilíbrio.

— Você viu aquilo? — perguntou Keven.

— ...Vi.

Mas quando olharam novamente, o casal não estava mais lá.

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