Capítulo 5 – Eu quero sentir o que ele tenta esconder
Alícia Montenegro
Ele tenta lutar.
Cada vez que nossos olhares se encontram.
Cada vez que eu rio alto de propósito só pra chamar atenção.
Cada vez que deixo o ombro à mostra, ou passo por ele com perfume demais, ou simplesmente respiro mais perto do que deveria.
Gabriel Vasconcellos está perdendo a guerra que travou com ele mesmo. E eu vejo. Eu sinto.
E, Deus…
Como eu quero que ele perca.
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Hoje o calor estava absurdo. A energia oscilou e o ventilador do meu quarto morreu de vez.
Fui pra sala com o mínimo de roupa permitido pra alguém que ainda quer fingir decência.
Short jeans curto, regata branca fina.
Sem sutiã.
Só pra ver o que aconteceria.
Ele estava na varanda, mexendo no celular, camisa preta colada no corpo e aquela maldita tatuagem no braço direito visível.
Eu nunca tinha reparado tanto em detalhes assim.
Mas agora, cada pedacinho dele parecia um mistério que eu queria desvendar.
— Tô morrendo de calor — murmurei, jogando o corpo no sofá como se não soubesse o quanto aquilo levantava a barra da minha blusa.
Ele olhou. Rápido. Abaixou os olhos logo em seguida.
Mas olhou.
— Você deveria se cobrir melhor — disse, como sempre.
Sorri.
— Por que, Gabriel? Vai me atacar se eu mostrar o ombro?
— Não é por mim. É por você.
Me levantei. Fui até ele.
Cada passo, um desafio.
Fiquei na frente dele. Me inclinei um pouco, como quem quer brincar.
A distância entre nós já era íntima. Mas agora… era insuportável.
— E se eu não quiser ser protegida de você?
Os olhos dele encontraram os meus.
Ficaram ali. Ardendo. Queimando.
— Você não tem ideia do que está dizendo — murmurou.
— Tenho sim.
Toquei o peito dele com a ponta dos dedos. Só encostei.
Mas foi como tocar fogo.
A respiração dele falhou. Os músculos se retesaram.
Mas ele não se afastou.
Subi os dedos até a nuca. Senti os cabelos curtos. A pele quente.
Ele fechou os olhos. Só por um segundo.
— Alícia… — a voz dele saiu quase um gemido. Uma súplica.
— Shhh... — sussurrei, aproximando meu rosto. — Só me deixa tocar em você. Só um pouco.
Minha mão escorregou pelo ombro dele, até o braço. O bíceps duro. Forte.
Ele ainda não se moveu.
Então encostei os lábios na bochecha dele. Um toque leve.
Só isso.
Mas ele virou o rosto.
E nossa boca quase se encontrou.
Quase.
— Eu tô no limite — ele disse, a voz grave, rouca, quente demais. — E se você continuar, eu não vou conseguir parar.
Sorri.
Porque era exatamente o que eu queria ouvir.
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Ele me afastou. Com cuidado. Com força.
— Não brinque comigo, Alícia.
— Eu não tô brincando.
— Você é uma garota. Eu sou um homem. Tem muita coisa errada nisso.
— Então deixa ser errado — sussurrei. — Pelo menos uma vez.
Os olhos dele me devoraram.
Ele estava tão perto de ceder.
Mas cedeu?
Não.
Ainda não.
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À noite, não consegui dormir. Me contorcia na cama como se minha própria pele estivesse inquieta.
Pensei nele. Em cada detalhe.
Em como ele me olha.
Em como eu queria as mãos dele… onde elas nunca estiveram.
Levantei. Descalça. Fui até a cozinha.
Ele estava lá. Camiseta branca, cabelo bagunçado, olhar cansado.
— Sem sono? — perguntou.
— Não.
Fome.
Sede.
Desejo.
Tudo junto.
Fiquei parada, observando ele beber água. A garganta dele se movia devagar.
Um músculo vivo. Um convite.
Ele me olhou.
E nesse momento… eu fui.
Me aproximei. Lentamente.
Fiquei na frente dele, peito contra peito.
Nossas respirações se confundindo.
Ele ergueu a mão. Devagar.
E tocou meu rosto.
Pela primeira vez.
Um carinho. Um deslizar de polegar na minha bochecha.
Fechei os olhos. Inclinei o rosto. Encostei minha boca no polegar dele.
Ele arfou.
Minha mão subiu pela barriga dele. A camiseta levantou. Senti a pele quente. Os músculos trêmulos.
— Eu quero você — sussurrei.
— Eu não posso.
— Mas quer.
— Quero.
Ele me puxou.
Os braços ao redor da minha cintura. Minha boca perto demais da dele.
Os narizes encostaram.
E então...
Um beijo.
Quente. Lento. Ardente.
Não era um beijo de filme. Era um beijo de quem estava esperando por isso há tempo demais.
As mãos dele desceram pela minha cintura. Apertaram.
As minhas subiram pelas costas, até encostarem na cicatriz.
Ele travou. Parou.
— Não — ele sussurrou, ofegante.
— Eu não ligo — respondi, encostando a testa na dele.
— Eu ligo.
— Eu quero você inteiro. Com cicatriz e tudo.
Ele me olhou. O olhar mais vulnerável que já vi.
E então... se afastou.
— A gente não pode, Alícia. Ainda não.
Me deixou ali. Com os lábios trêmulos. O corpo queimando.
Mas o coração… cheio.
Porque ele me queria.
E eu?
Eu estava pronta pra cair nesse abismo com ele.
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Atualizado até capítulo 53
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