Evento

O salão do hotel Belvedere estava lotado. Tapete vermelho, flashes, socialites ricas e empresários com cara de tédio. Era um daqueles eventos beneficentes de fachada, onde o que menos importava era a causa.

Lara entrou pelo braço de Santiago.

Vestido preto, justo, costas nuas. Um veneno silencioso. Cada passo dela era um tapa na cara do passado. E ele, claro, vestia um terno cinza-chumbo, com aquela cara de “sou rico, bonito e sei disso”.

— Lembre-se: sorria, pegue na minha mão, e não esgane ninguém. — ele sussurrou.

— Só se ninguém me provocar. — ela devolveu, firme.

Mas como o universo adora rir da cara da gente… ele apareceu.

Henrique. Ex-namorado de Lara.

Bonito. Presente. Arrogante. E, aparentemente, sem vergonha nenhuma.

— Lara... — ele surgiu do nada, um drink na mão e um sorriso cínico no rosto. — Nossa, tá mais linda do que eu lembrava.

Ela congelou por meio segundo. Depois, virou com um sorriso profissional, daqueles que a alta sociedade ensina.

— Henrique. Que... surpresa desagradável.

— Ah, ainda debochada. Gosto disso. — Ele olhou pra Santiago. — E você deve ser o marido sortudo.

Santiago estendeu a mão, apertando com força calculada.

— Santiago Ferraz. E você é?

— Henrique Mendonça. Ex. — ele disse com gosto. — Daqueles que deixam saudade.

Santiago deu um risinho discreto, mas seus olhos diziam: fala mais uma e eu te afundo num processo.

— Que sorte a minha então — respondeu Santiago. — Porque saudade é coisa que Lara não cultiva. Ela só olha pra frente.

Lara tentou interromper, mas Henrique insistiu:

— Vocês tão juntos há quanto tempo mesmo? Porque esse casamento me pegou de surpresa. Achei que ela fosse do tipo... difícil de domesticar.

Ela deu um passo à frente.

— Henrique, você é a última pessoa no mundo que pode falar sobre o que eu sou.

Mas Santiago puxou-a com delicadeza pela cintura, selando o teatrinho com uma taça de champanhe.

— Lara e eu somos intensos. Mas quando é verdadeiro, não precisa fazer sentido pros outros.

Henrique riu.

— Claro. Só espero que seja real.

— E eu espero que você tenha algo melhor pra fazer do que remoer o que perdeu. — Lara rebateu, agora com os olhos faiscando.

Henrique levantou as mãos.

— Ok, ok. Boa sorte pra vocês. De verdade. — E saiu.

Quando o ar voltou a circular, Lara olhou pra Santiago, irritada.

— Obrigada por nada.

— Eu só fiz o que maridos fazem. Te protegi do embuste.

— Me proteja de você, isso sim.

— Tarde demais, amor.

E brindaram.

O flash bateu bem na hora.

Foto perfeita: casal perfeito. Mentira perfeita.

Mas o sangue dela fervia. E o dele... também.

O carro deslizou pelas ruas da cidade como uma promessa de calmaria. Mas por dentro... era furacão.

Lara sentou-se do lado direito da limusine, braços cruzados, olhos fixos na paisagem. Santiago, do outro lado, afrouxava a gravata com a paciência de um predador.

— Vai ficar muda até em casa? — ele perguntou, voz baixa, provocativa.

Ela virou o rosto num estalo.

— Você foi ridículo.

— Eu te defendi.

— Você competiu. Com meu ex. Como se isso fosse sobre ego.

Ele deu uma risadinha de canto, cínica, gostosa de odiar.

— Você queria que eu ficasse calado enquanto ele te chamava de “difícil de domesticar”?

— Eu sei lidar com gente como ele, Santiago. Eu não sou uma mocinha indefesa que precisa do herói salvador com terno caro e frases de efeito.

— E eu não sou teu cão de estimação pra ficar quieto vendo macho tentar diminuir minha mulher na frente de todo mundo.

Silêncio.

Aquela palavra — minha mulher — caiu como dinamite entre os dois.

Ela se inclinou pra frente, os olhos cravados nos dele.

— Não repita isso.

— O quê?

— “Minha mulher.” Não sou tua. Isso aqui é um acordo. Um contrato. E você tá confundindo as coisas.

Ele também se inclinou. Mais perto. Olhos nos olhos.

— Tô confundindo? Ou você é que tá com medo de admitir que gosta quando eu ajo como se fosse?

O ar rarefez. A tensão invadiu o espaço como perfume forte. Ela podia sentir o cheiro da pele dele, o calor do corpo, a raiva misturada com algo que — droga — ela não queria nomear.

— Não me testa, Santiago.

— Por quê?

— Porque você não vai aguentar a resposta.

Ele sorriu. Devagar. Perigoso.

— Então me mostra.

Um segundo.

Dois.

Ela se aproximou. Os lábios a milímetros dos dele. O coração dos dois batendo num ritmo que ignorava qualquer cláusula contratual.

E então… ela virou o rosto.

— Pare o carro. — disse, fria.

Santiago bateu no vidro e o motorista encostou na calçada.

Lara saiu sem olhar pra trás, o salto ecoando no asfalto como uma declaração de guerra.

Ele ficou ali, sozinho no banco de couro. Olhando o lugar onde ela estava sentada.

E sorrindo.

Porque ela podia negar com a boca.

Mas o corpo dela... o corpo dizia outra coisa.

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