O cartório parecia mais um campo de guerra silencioso. Nada de convidados, nada de flores, nada de vestidos bufantes. Lara usava um blazer branco impecável com salto agulha. Santiago estava de terno cinza grafite, elegante como o próprio diabo.
A funcionária do cartório, uma senhora sorridente que claramente não fazia ideia da bomba emocional que estava prestes a explodir, leu os papéis com doçura:
— Então vamos à parte oficial... Senhor Santiago Ferraz, o senhor aceita Lara Albuquerque como sua legítima esposa?
Santiago virou o rosto devagar na direção dela. A encarou com aqueles olhos escuros e frios como mármore polido.
— Aceito. Com todas as cláusulas anexas. — E sorriu. Aquele sorriso. O sorriso de quem já venceu.
Lara engoliu em seco.
A mulher continuou, animada:
— E a senhora, Lara Albuquerque, aceita Santiago Ferraz como seu legítimo esposo?
Ela olhou para o teto por um segundo, tentando não rir. Nem chorar. Nem socá-lo. Respirou fundo. Pensou na empresa. No nome da família. No jogo.
— Aceito. — Disse, com a voz firme e o coração uma bagunça.
Os dois assinaram os papéis. Sem emoção. Sem olhar nos olhos. A tensão era tão palpável que até a moça do cartório parou de sorrir por um instante.
— Bom... então estão oficialmente casados! — ela anunciou, hesitante. — Normalmente agora vem o beijo...
Lara virou pra Santiago com um olhar que dizia “nem tente”. Mas ele já estava ali, chegando perto demais.
— Faz parte do contrato, lembra? — sussurrou.
Antes que ela pudesse responder, ele a puxou pela cintura e encostou os lábios nos dela. Foi rápido, controlado, mas com pressão suficiente pra deixá-la sem ar por um segundo. O tipo de beijo que não dizia “te amo” — dizia “te tenho”.
Quando ele se afastou, os olhos dela estavam arregalados e as bochechas coradas. Santiago só ajeitou a gravata e deu um passo para o lado, como se nada tivesse acontecido.
— Bem-vinda ao jogo, esposa.
O jantar estava servido em silêncio. Velas acesas, luz suave, louça de porcelana e taças de cristal. Tudo digno de um casamento de luxo — exceto pelos noivos. Lara e Santiago estavam sentados frente a frente, como dois CEOs prestes a negociar uma fusão que ambos detestavam.
Ela mexia no risoto como se fosse explosivo. Ele, claro, comia com a calma de quem sabia exatamente o que estava fazendo.
— Vai passar a noite aqui ou vai voltar pro seu triplex milionário? — ela disparou, sem levantar os olhos.
— Isso depende — disse ele, limpando a boca com o guardanapo. — Nosso contrato exige convivência íntima, lembra? Vai ficar feio eu dormir em outro endereço na noite de núpcias.
Ela bufou.
— A imprensa não tá dentro da nossa casa, Santiago.
— Mas pode estar do lado de fora. E você sabe que eles adoram uma boa janela acesa e uma sombra suspeita.
Ela largou o talher.
— Você tá adorando isso, né?
— E você tá odiando porque perdeu o controle. — Ele apoiou os cotovelos na mesa, encarando-a. — Não é isso que mais te incomoda? Ter que me pedir ajuda?
— Eu não te pedi nada. Eu fiz uma proposta. Negócio. Frio. Calculado. Do jeito que você gosta.
— E ainda assim, sua voz tremia quando assinou.
Ela se inclinou pra frente, os olhos pegando fogo.
— Eu não vou cair no teu joguinho, Santiago.
— Não precisa. Você já caiu quando disse “sim”.
O silêncio caiu como uma bomba. Eles se encararam. Sem palavras. Só aquele tipo de olhar que arde mais que grito.
Ela levantou, pegando a taça de vinho.
— Vou pro quarto. E sim, o meu. Sozinha. Porque esse casamento é de fachada, mas minha paciência não é.
Ele deu um meio sorriso, sarcástico.
— Boa noite, esposa.
Ela subiu as escadas com o sangue fervendo e o vinho queimando na garganta. Ele ficou ali, sozinho, com o prato pela metade... e o ego pela metade também.
Porque por mais que estivesse no controle — ou achasse que estava — Lara ainda era a única que conseguia deixá-lo assim: puto, perdido e... curioso.
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Atualizado até capítulo 51
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