“Eles tão aqui.”
Lara levantou os olhos do tablet, confusa. Estavam no jardim dos fundos, a mesa do café da manhã montada como um editorial de revista: croissants, flores frescas, suco de laranja em jarra de cristal. Tudo normal — até Santiago aparecer com o celular na mão e cara de quem já sabia do desastre.
— Quem tá aqui? — ela perguntou.
— A imprensa. Porta da frente. Alguém vazou a certidão de casamento. Agora eles querem “o casal do ano” na varanda sorrindo e parecendo apaixonado. — Ele deu uma pausa. — Ou no mínimo civilizado.
Ela travou.
— Isso é sério?
— Tão ao vivo. Telejornal matinal. "O bilionário mais cobiçado do país se casou em segredo com a herdeira sumida Lara Albuquerque". — Ele riu, sarcástico. — Você sumiu, eu apareci. Casal perfeito.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. Contou até três. E então, como boa profissional do caos que era, levantou-se, alisou os cabelos, estufou o peito e disse:
— Vamos dar o show.
Dois minutos depois, estavam de mãos dadas na varanda. Lara usava um robe de seda creme com um sorriso treinado no rosto. Santiago, de camisa branca aberta nos dois primeiros botões, encarnava o papel com a naturalidade de quem já nasceu CEO da manipulação.
— Santiago! Lara! É verdade o casamento?
— Quando aconteceu?
— Qual foi o motivo do segredo?
— Estão felizes?
Ela se virou pra ele, abrindo um sorriso doce — venenoso por dentro.
— Amor... responde você.
Ele puxou-a pela cintura, num movimento ensaiado demais pra parecer improvisado. Olhou pro grupo de repórteres com aquele olhar de eu-mando-nisso-tudo.
— Estamos casados, sim. Queríamos um começo só nosso. Discreto. E feliz. — Ele olhou pra ela. — E, como podem ver, está funcionando.
Antes que ela pudesse contestar, ele se inclinou e beijou sua têmpora, bem devagar, como quem ama — ou mente muito bem.
A imprensa aplaudiu. Flashs explodiram.
E Lara sorriu. Um sorriso tão falso quanto as flores da mesa. Mas funcionou.
Pelo menos por fora.
Por dentro? Ela queria socá-lo.
Mas também... queria beijá-lo de verdade e isso era o problema.
Assim que os repórteres se afastaram e a varanda ficou em silêncio, Lara entrou de volta pra casa num salto, arrancando as sandálias como se fossem algemas. Santiago veio logo atrás, calmo como sempre, mexendo no botão da camisa.
— Isso foi ótimo. Eles compraram tudo. Casal apaixonado, sorrisos, beijo no lugar certo... — ele dizia, satisfeito.
— Cala a boca, Santiago.
Ele parou, ergueu uma sobrancelha.
— Opa. Voltamos ao modo agressiva passiva?
Ela se virou devagar, firme, os olhos queimando feito brasa.
— Eu tenho alguns limites. E você passou direto por cima deles.
— Ah, por favor. Foi um beijo na têmpora. Nem foi na boca. Não sabia que tua fronte era zona proibida.
— Não foi o beijo, Santiago. Foi a encenação. A pose. A arrogância. A forma como você achou que podia me manipular ali, na frente de todos, como se eu fosse só mais um acessório no seu teatro de rico apaixonado.
Ele se aproximou, cruzando os braços.
— A gente tem um contrato, Lara. E um papel assinado dizendo que vamos parecer casados. Isso envolve toque, sorriso, aproximação. Eu só tô fazendo o meu papel.
— O seu papel não inclui invadir o meu espaço emocional como se você fosse meu marido de verdade. — ela disparou. — Você pode controlar empresas, investidores, mercados. Mas a mim? Não.
Por um segundo, o olhar dele mudou. Só um segundo. Depois, voltou o sorrisinho debochado.
— Então vamos deixar claro, esposa. O que posso e o que não posso fazer?
Ela deu um passo pra frente. A tensão entre eles era elétrica.
— Nada fora das câmeras. Nada de beijos que não estejam sendo filmados. Nada de dormir no mesmo quarto. E, acima de tudo, nada de tocar em mim como se fosse teu direito.
Ele inclinou levemente a cabeça.
— E se for você quem tocar?
Ela empalideceu.
— Cala a boca.
— Só tô me preparando pra eventualidades. — Ele sorriu. — Vai que sua mão resolve se aventurar de novo no campo minado.
Ela pegou uma almofada e atirou, de novo. E, de novo, ele riu.
Mas dessa vez... teve algo diferente no riso.
Menos provocação. Mais... admiração.
Porque ela podia ser fogo, raiva e caos — mas era a única que não se curvava diante do império dele.
E isso, para Santiago, era tão perigoso quanto irresistível.
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Atualizado até capítulo 51
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