( narrado por Scott )
O cheiro de sangue ainda estava no ar. Forte. Quente. Vivo.
Lian estava ajoelhado no chão do meu quarto, segurando o próprio braço enquanto lutava contra a dor que parecia estar rasgando ele por dentro.
— Cara... — ele arfou, os olhos arregalados, piscando como se não acreditasse no que tava sentindo. — Que... que diabos tá acontecendo comigo?!
Me ajoelhei do lado dele, segurando seus ombros, tão perdido quanto ele.
— Eu... eu não sei, Lian! Mas... acho que... — respirei fundo, engolindo seco. — Acho que você também foi mordido.
Ele ergueu o olhar pra mim, os olhos escuros começando a ganhar um brilho dourado assustador.
— Não. — Balançou a cabeça, negando, quase como se pudesse se recusar a aceitar. — Não... Isso não pode ser real.
Senti as veias latejando, as mãos tremendo. A mesma dor que me atravessou mais cedo agora tava claramente engolindo ele.
— Eu também achei que não era real — falei, apertando os ombros dele. — Mas é. Eu... eu sou um...
Engoli a palavra, como se dizer em voz alta fosse tornar tudo ainda mais real.
— Lobisomem — completei, encarando Lian. — E agora... acho que você também é.
Ele arregalou os olhos. — Puta merda, Scott! — exclamou, passando a mão pelos cabelos. — Isso é... isso é loucura!
— Eu sei! — respondi, quase rindo de nervoso. — E adivinha? A gente não faz ideia do que fazer agora.
Nisso, ouvimos uma batida na janela. Um som seco, firme. Ambos nos viramos ao mesmo tempo.
E lá estava ele.
Derek Hale.
A cara de poucos amigos, braços cruzados, apoiado no parapeito da janela como se fosse o Batman, só que mais mal-humorado e com menos paciência.
Ele pulou pra dentro com a maior facilidade do mundo, pousando no quarto como se isso fosse completamente normal.
— Dois? — Derek arqueou a sobrancelha, olhando de Scott pra Lian, depois de volta pra Scott. — Vocês realmente não conseguem fazer nada sem se meter em encrenca, conseguem?
— Ah, claro — resmunguei, erguendo as mãos. — Porque é exatamente isso que a gente planeja quando sai pra uma caminhada noturna: ser mordido por um monstro!
Derek revirou os olhos. — Vocês dois foram mordidos pelo mesmo alfa. Isso... é um problema.
— Você acha?! — Lian respondeu, se levantando com dificuldade, respirando fundo, tentando ignorar a dor que corria nas veias. — Então, me explica, Derek. O que... exatamente... a gente virou?
Derek deu um passo pra frente, encarando nós dois com aquela intensidade que fazia a espinha gelar.
— Lobisomens — disse, seco. — E agora, vocês precisam aprender a se controlar. Porque, se não aprenderem... vocês podem matar alguém.
Eu e Lian trocamos olhares. O silêncio parecia pesar toneladas.
— Isso... — Lian respirou fundo, passando a mão pela nuca. — Isso é real demais.
— Bem-vindo ao meu mundo — Derek cruzou os braços, sério. — E esse é só o começo.
(Narrado por Lian)
Cara... nada, absolutamente nada, poderia ter me preparado pra isso.
Meu corpo parecia um campo de batalha. Cada célula tremia, ardia, queimava. Meus sentidos estavam loucos. Eu conseguia ouvir tudo. TUDO. O tic-tac do relógio, a respiração da mãe do Scott dormindo no quarto ao lado, o ranger das madeiras da casa... Até o coração do próprio Scott, disparado, batendo tão forte que parecia que ia explodir.
— Isso... isso não tá acontecendo — falei, andando de um lado pro outro no quarto dele, passando as mãos pelo cabelo, tentando pensar, tentando respirar. — Cara, eu... eu sinto cheiro de... tudo. Até... até de você.
Scott desviou o olhar, mordendo o lábio inferior, meio sem saber o que dizer. — É... é assim que começa. Eu também tô assim desde ontem.
Parei. Respirei fundo. E, droga, o cheiro dele tava me deixando mais confuso ainda. Era... estranho. Intenso. Quente.
Ele se aproximou um pouco, hesitante. — A gente vai entender isso, Lian. Eu prometo.
Levantei o olhar pra ele. — Cara... e se a gente não entender? E se... sei lá... a gente perde o controle?
— Não vai acontecer. — Ele segurou meu braço. — A gente tá nisso junto.
Por um segundo, tudo parou. O som. A respiração. O mundo. Só tinha eu... e ele.
Scott tava tão perto que eu podia ver cada detalhe. Os olhos castanhos vibrando com aquele dourado que teimava em aparecer quando ele se emocionava, a mandíbula marcada, os lábios meio entreabertos, como se ele também não soubesse exatamente o que tava fazendo.
Senti meu coração — ou sei lá, meu lobo interior — acelerar de um jeito que nunca tinha sentido antes.
— Scott... — sussurrei.
Ele engoliu em seco. — Eu... eu tô com medo, Lian.
— Eu também — admiti, num sussurro quase rouco. — Mas... não de você.
E foi como se algo nos puxasse. Numa fração de segundo, ele segurou meu rosto com as duas mãos e me puxou pra mais perto. Nossos lábios se encontraram de um jeito meio desajeitado no começo, como se estivéssemos tentando entender se aquilo era real... e, quando percebemos que era, ficou impossível de parar.
Era urgente. Quente. Cheio de uma energia que queimava tanto quanto a maldição que agora corria no nosso sangue.
As mãos dele seguraram minha nuca, puxando mais, enquanto eu segurava sua cintura, apertando, sentindo seu corpo inteiro colado no meu, como se isso fosse nos ancorar no meio desse caos.
Quando a falta de ar nos obrigou a parar, ele encostou a testa na minha, ofegante.
— Isso... — ele sorriu, meio perdido. — Isso aconteceu mesmo?
— Acho que sim — respondi, passando o polegar na linha do maxilar dele. — E, sinceramente, acho que nunca mais vai ser como antes, Scott.
Ele respirou fundo, segurando minha mão. — Então... que não seja.
O momento era perfeito. Ou, pelo menos, foi até...
— TOC TOC TOC! — batidas na porta.
— Scott? — era a voz da mãe dele, meio sonolenta. — Você tá bem?
Ele arregalou os olhos, me empurrou levemente e correu pra porta. — Tô, mãe! Tá tudo bem!
Me joguei no sofá do quarto dele, segurando o riso, tentando não parecer que tínhamos acabado de... bom... quase perder o controle, só que por um motivo muito melhor que a lua cheia.
Quando ele voltou, olhou pra mim e soltou um suspiro, se jogando do meu lado.
— Isso vai ser... complicado.
Virei de lado, olhando ele nos olhos, sorrindo. — Nem um pouco. Isso vai ser... uma aventura.
E, no fundo, a gente sabia que estava só começando.
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Atualizado até capítulo 34
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