Capítulo 5 – Sinais, Suspeitas e um Chamado do Universo (ou do Bilhete 3)

Dizem que o amor é uma ciência imprevisível. No meu caso, é um caso grave de detetivite aguda com surtos de ilusão e recaídas em devaneios aleatórios com trilha sonora de Sandy & Junior.

No dia seguinte, cheguei à escola com dois objetivos:

Sobreviver à aula de matemática.

Decifrar quem, pelo amor de todos os chocolates do mundo, é o autor dos bilhetes.

Mas o universo — esse safado enigmático — resolveu botar mais lenha na minha fogueira emocional. Porque, sim, ao abrir meu armário...

BILHETE 3.

“Se você sorrir hoje, meu dia já valeu a pena. — A.”

Respirei fundo. Segurei o papel como se fosse mapa do tesouro. Meus olhos brilharam. Minha espinha formigou. E minha mente surtou em looping:

— EU SOU UMA MUSA! — gritei mentalmente, enquanto por fora tentava manter uma pose casual, tipo “eu recebo bilhetes fofos TODO DIA, sou acostumada”.

Bibi apareceu do nada como fiscal de sanidade mental.

— Outro bilhete?! JU! O que é isso? Um admirador secreto ou um curso de escrita criativa querendo te recrutar?

— É o amor, Bibi. É o amor passando bilhete por frestas de metal.

— E você ainda acha que é o Gustav?

— Ainda... ou talvez Rafael... ou os dois... OU NENHUM DELES! — segurei a cabeça. — Tô vivendo uma fanfic onde eu sou a protagonista perdida num triângulo amoroso com ninguém confirmando nada.

Bibi revirou os olhos. E pela primeira vez na vida, ela mesma admitiu:

— Tá. Agora até eu tô intrigada. Isso virou novela.

MAIS TARDE...

Durante o recreio, Gustav estava na cantina. Eu me aproximei casualmente (ok, tropecei duas vezes, bati numa lixeira e fingi que era coreografia).

— Oi de novo! — disse, tentando esconder minha vontade de pedir um DNA de bilhete.

— Ei, Ju! Que bom te ver. Vai querer refri?

ALERTA: ELE SABE MEU REFRI FAVORITO. Coincidência? Flerte? Ou ele só decorou no dia da excursão? O mistério continuava.

— Aceito! — sorri.

Gustav pegou dois copos, serviu, e sem querer — juro que foi sem querer — esbarrou no balcão. O copo virou. O refrigerante caiu. No meu pé. E no meu tênis branco.

— AI! — pulei como se tivesse sido eletrocutada. — O MEU CONVERSE, GUSTAV!

— AI, JU, DESCULPA! Eu juro que foi um acidente! — ele ria. Eu ria. Mas por dentro, eu chorava pelo meu All Star recém-comprado.

Foi aí que Rafael apareceu. Silencioso. Presença firme. Olhou pra mim, depois pro Gustav, depois pro tênis encharcado.

— Quer ajuda? — perguntou, direto. Já puxando um pacote de lenço do bolso.

Quem anda com lenço no bolso em 2025? Rafael. Esse homem é um enigma de outro tempo.

— Obrigada... — falei, enquanto ele secava meu cadarço com mais cuidado que enfermeira em filme de época.

— A gente se vê depois, Ju — Gustav falou, se afastando com um sorrisinho arrependido.

Mas Rafael ficou. Me olhou por uns segundos.

E disse:

— Eu gosto da sua risada.

PÂNICO. Gelo. Taquicardia. Aquele calor na bochecha que não é de vergonha, é de ai meu Deus, será que é ele?

Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele foi embora. Simples assim.

Cena Final: O Quadro de Teorias

De volta ao QG com o grupo de apoio, montei um painel com tudo o que tínhamos até agora:

Gustav: Bonito, gentil, atencioso, mas negou os bilhetes.

Rafael: Misterioso, sensível, oferece lenços e fala coisas tipo “gosto da sua risada”.

Bilhetes: Assinados por “A”, poéticos, frequentes, sincronizados com minha vida.

Eu: Um tornado emocional tentando agir como se tivesse tudo sob controle. (Spoiler: não tenho.)

Luca olhou o painel, tomou um gole do capuccino da cantina e disse:

— Gata, isso tá parecendo novela mexicana com roteiro do Tarantino. Amo. Mas te aviso: ou você resolve isso logo, ou vai acabar casada com o carteiro.

Marcela fechou os olhos e falou:

— O universo está se comunicando com você, Juliana. Mas não com palavras. Com gestos. Repare nos detalhes.

Reparei sim. Reparei que meu coração tava começando a bater mais rápido toda vez que Rafael olhava pra mim.

E Gustav… bom… Gustav talvez fosse só bonito. Mas será que era isso?

O bilhete 3 ficou no meu bolso o dia todo.

À noite, sozinha no quarto, fiquei relendo.

“Se você sorrir hoje, meu dia já valeu a pena.”

E eu sorri. Por acidente. Por querer.

E me peguei pensando: talvez não seja sobre quem eu quero... mas sobre quem me enxerga.

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