Elevador de Tensões

**Anna Lúcia**

O fim do expediente finalmente chegou. Eu estava exausta, mentalmente drenada — mas não por causa do trabalho. Era Steven. A presença dele parecia me perseguir. O maldito dono de tudo o arrogante, que andava por aqueles corredores como se o mundo girasse ao redor dele.

Tudo aquilo me irritava. O modo como ele andava como se fosse o dono de tudo, sem se importar com quem estava na sua frente. Como se cada passo fosse uma afirmação de domínio, uma tentativa de mostrar quem mandava. Não era apenas uma questão de autoridade, era uma demonstração de poder. E, de alguma forma, ele parecia saber exatamente o efeito que tinha sobre mim. Talvez fosse uma confiança excessiva, o olhar fixo e desafiador, ou até aquela mesma postura de quem tenta controlar tudo ao redor e que tudo gira ao seu redor.

*“E talvez gire. Mas não no meu.”*

Eu, por outro lado, senti a necessidade de me esconder daquele olhar, de fugir dali e manter distância dele.

Queria apenas descer, fugir do lugar, desligar minha mente por alguns minutos, tomar um banho quente e deixar aquele olhar arrogante se dissipar da minha memória. Queria apagar da minha cabeça a sensação de estar sendo avaliado, como se cada movimento meu fosse um erro a ser corrigido.

Mais quando a porta do elevador finalmente se abriu, meu coração acelerou.

Claro, lá estava ele Steven.

Sozinho, recostado no canto do elevador, com a gravata solta no pescoço e um sorriso torto de canto  e a expressão de quem sabia exatamente o que causava em mim.

— Que sorte — ele comentou, soltando um risinho que carregava toda a ironia do mundo.— Achei que teria uma viagem entediante pra garagem.

O que eu quis dizer era: Sorte uma ova  mais em vez disso, apenas encarei, tentando manter a calma.

Aperte os dedos ao redor do botão do elevador, aumentando a pressão. Queria gritar ou pelo menos mandar algo de volta, mas me controlei.

— Não se empolga, chefe. É só coincidência — respondi, com a voz firme, ao entrar no espaço pequeno, decidida a não dar o braço a torcer. Minha postura se tornou mais rígida, meus passos mais resolutos. Não queria parecer vulnerável, nem deixar que ele pensasse que tinha alguma vantagem sobre mim. Assim que a porta se fechou, aquele espaço apertado virou meu campo de batalha silencioso.

O silêncio reinava entre nós, pesado e quase surdecedor. Uma vibração quase palpável, como uma corda tensa prestes a se romper. Parecia que cada sensação se amplificava nesse espaço claustrofóbico. E o elevador, que geralmente parecia maior, parecia encolher, deixando-nos ainda mais próximos e, ao mesmo tempo, mais distantes.

**Steven**

Ela usa salto, mas anda como se esmagasse o chão.

Olhar firme, ombros retos. Uma pose de mulher que ninguém controla.

*“Exceto talvez eu.”*

— Você sempre é assim... mandona até no silêncio? — provoquei.

Ela me lançou um olhar afiado, como se eu fosse uma distração incômoda. Mas eu vi. Os olhos dela desceram até minha camisa meio aberta. Ela notou. Ela sempre nota.

— Só mando onde preciso. Diferente de você, que tenta dominar até o ar. Ela respondeu, com uma coragem que me fez ficar louco. Cada palavra, cada gesto, parecia um desafio.

A tensão cresceu. Nosso palco era aquele espaço apertado, em que cada respiração parecia mais pesada, mais compartilhada. A luz piscou, interferindo na cena, antes de apagar por completo.

O elevador parou.

— Tá de brincadeira… — ela sussurrou, o olhar fixo no teto, quase procurando alguma resposta no escuro.

— Elevador preso. — Suspirei. — Ótimo.

Ela bufou, cruzando os braços.

Aquele espaço era minha prisão, e ela, minha tortura.

**Anna Lúcia**

Presos. Com ele.

A sorte definitivamente me odiava.

*“Se ele me olhar desse jeito por mais cinco minutos, eu vou cometer um erro.”*

— Não se anima. Ainda não estou com medo — falei, só pra quebrar a tensão.

— Medo de mim? — ele se aproximou meio passo, a voz mais baixa. — Você devia. Eu costumo deixar as pessoas sem chão.

Eu ri, seca.

— Eu já vim sem chão de casa, Steven. Não é você que vai me desestabilizar.

Mas minha pele ardia. Meu corpo inteiro estava consciente da proximidade dele. Do calor. Daquela tensão absurda entre a gente.

**Steven**

Ela fala como se fosse inabalável, mas eu vejo. Os lábios entreabertos. A respiração mais curta.

— Você me desafia porque quer ver até onde eu aguento — falei, perto o suficiente pra ela sentir meu cheiro. — Mas você não faz ideia do que tá provocando.

Ela engoliu em seco, mas ainda assim, não vacilou. Os olhos fixos nos meus, desafiando cada movimento, cada palavra. Essa mulher não recuava. Era como uma chama que só aumentava, e minha vontade de atiçar aquilo tudo crescia junto.

A provocação dela alimentava o fogo dentro de mim. Eu queria ela ali, de uma forma que se tornasse quase doentia.

*“Essa mulher vai ser meu veneno. Mas eu vou provar cada gota.”*

A luz voltou. O elevador recomeçou o movimento. A tensão, no entanto, ficou.

Ao abrir a porta, ela saiu antes de mim, com a cabeça erguida, passos rápidos, como se estivesse se despedindo de um combate que ela mesma tinha iniciado.

Mais antes de sumir pelo corredor, virou-se por um instante, jogando uma última frase ao ar:

— Da próxima vez, tenta manter o controle, chefe.

E sumiu pela garagem.

*“Da próxima vez, você vai perder o seu.”* — pensei, com um sorriso torto.

Sorri torto, refletindo sobre tudo aquilo. A guerra ainda não terminou. E, de alguma forma, ela era o meu veneno mais doce.

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