Entre Sombras e Luzes:Dois Anos de Prova

O campo da arena estava silencioso, o eco das batalhas recentes ainda vibrando no ar, agora apenas lembrança. Os herdeiros, exaustos e suados, permaneciam reunidos na tribuna principal, atentos, esperando o desfecho daquele momento que marcaria suas trajetórias.

De repente, uma figura imponente e serena surgiu no centro do campo. Era Maedros Halden, o curandeiro lendário do continente. Homem robusto, de presença calma e olhos profundos, cuja aura transmitia tanto respeito quanto autoridade. Curioso para muitos, Maedros nunca empunhara uma espada, mas sua fama de vencer batalhas apenas com o poder da cura e da manipulação da aura era incontestável.

Ele caminhou até o grupo dos Top 10, parando um instante em Galen e Arthur, fixando neles um olhar que parecia enxergar além do físico — via força, potencial e determinação.

— Parabéns a todos vocês — disse, com voz firme e calma —. Vocês enfrentaram o impossível, e por isso merecem mais que apenas aplausos.

De um saco de couro, retirou pequenos frascos brilhantes, contendo um líquido dourado, vibrante. Um Elixir de Absorção Superior.

— Este é um presente raro — explicou —. Um elixir que vai acelerar e estabilizar a absorção da sua mana e aura nos próximos meses. Usem com sabedoria.

Distribuiu um para cada um, antes de concluir:

— Espero vê-los em breve na academia. Lá, o verdadeiro combate começa.

Arthur tirava a armadura pesada com movimentos lentos, sentindo o peso sair dos ombros. Seus cabelos longos e loiros caíam soltos, quase escondendo os olhos azuis, enquanto se deixava levar por pensamentos que não saíam da cabeça.

Por que Galen ainda mexia tanto com ele? Por que havia um alívio estranho em lembrar do respeito que recebera, mesmo depois da luta intensa?

Era difícil entender. Desde sempre, ele havia escondido muito — não apenas seu passado, mas algo mais profundo que pesava como uma armadura invisível. Nunca permitira que ninguém realmente o visse além do guerreiro. Mas agora, pela primeira vez, parecia que alguém enxergava algo mais, algo verdadeiro.

Naquele momento, decidiu ir até o mirante do castelo temporário. O vento fresco era quase um convite para a conversa que queria evitar, mas precisava enfrentar.

E lá estava Galen, sozinho, olhando para o horizonte.

Sem rodeios, Galen falou:

— Você é diferente da maioria. Aguentou firme. Gostei disso.

Arthur quase soltou palavras que ficaram presas na garganta, algo como “E se eu não for quem você pensa?”. Mas recuou, escondendo a inquietação sob um sorriso contido.

— Só foi o duelo — respondeu, e os dois trocaram um olhar breve antes de se despedirem.

O silêncio que ficou era pesado, mas havia uma promessa não dita: o próximo passo estava logo ali, esperando.

O sol nascente ainda mal havia tocado os telhados de pedra branca da propriedade dos Aurelis quando um som de trombetas suaves ecoou pelos campos. Galen, com o torso nu e coberto de suor do treino matinal, ergueu os olhos para a estrada principal. Três carruagens, cada uma adornada com detalhes prateados e brasões do norte, aproximavam-se escoltadas por cavaleiros com armaduras elegantes. No estandarte principal, o lobo coroado da Casa Varesth tremulava sob o vento. Angel, ao ver o brasão, empalideceu levemente. Não de medo — mas de lembrança. Respirou fundo. — Então ele voltou... — murmurou para si. Sara se aproximou com expressão desconfiada. — Não esperava essa visita, imagino? — Não. Mas era inevitável. — Angel virou-se para os guardas. — Preparem a sala de recepção principal. Tratem-nos como aliados.

Quando a porta da carruagem principal se abriu, um homem alto, de cabelos grisalhos e olhos tão frios quanto a neve do Norte, desceu com passos calculados. Sua presença impunha respeito — não por palavras ou gestos exagerados, mas pelo silêncio pesado que o acompanhava. Ao seu lado, Arthur Varesth caminhava com a mesma compostura contida. Ambos transmitiam uma aura de disciplina inabalável. Angel os recebeu à porta com um leve aceno de cabeça. Seu sorriso era cortês, mas contido. — Lorde Varesth. Uma visita inesperada... — disse Angel, observando o olhar glacial do nortenho. Darian fez uma breve reverência, formal. — Nem todas as visitas vêm com convite, Angel. Algumas vêm por necessidade. Angel assentiu lentamente. Não o abraçou — compreendia que o homem diante de si não era mais o mesmo dos tempos antigos, ao menos não em público. 🔹 Conversa Privada (ajustada) Reunidos em uma das salas internas da propriedade Aurelis, longe dos criados e dos filhos, Angel serviu pessoalmente o vinho nas taças, mantendo a conversa longe de rótulos. Darian recusou a bebida com um gesto curto. — Estou aqui por razões práticas. Tens observado os rumores no sul? Angel assentiu. — Boatos vêm e vão. Mas o que você sabe? — Não é apenas boato. É movimento. — Darian pousou um anel antigo sobre a mesa, com um símbolo que Angel reconheceu imediatamente, e seu rosto endureceu. — Uma aliança está se formando, silenciosa. E há algo por trás... algo antigo. Não vou nomear aqui. Angel passou os dedos pelo símbolo lentamente, como se tocasse um fantasma. — Ainda pensava que estavas escondido por escolha. Agora percebo que te afastaste... para observar. Darian apenas respondeu com silêncio. Seus olhos estavam postos na janela, onde Arthur e Galen trocavam olhares calculados no pátio. — Teu filho é... talentoso — comentou Angel. — Ele é o que precisa ser. — A resposta veio seca. — E tua filha? — perguntou Sara, surgindo discretamente. — Soube que não veio. Darian voltou-se, a frieza sutil em seu olhar. Um relance de tensão passou, mas logo desapareceu. — Não cabe a ela essas reuniões. — A resposta era uma parede. Intransponível.

As horas foram passando até que anoiteceu, e foram todos jantar.

O salão de jantar estava silencioso, exceto pelo tilintar ocasional dos talheres e o som suave da chuva contra as janelas do castelo Aurelis. As duas famílias sentavam-se lado a lado, os olhos trocando olhares avaliadores entre taças de cristal e travessas finamente decoradas.

Darian Varesth, imponente com seus olhos cinzentos e expressão fria, pousou o cálice e limpou os lábios com elegância antes de falar.

— Angel, vim até aqui não apenas por amizade... mas por precaução. — Sua voz soava como aço polido, firme, controlada. — Há rumores crescentes. Movimentos estranhos entre as casas duquesas. E... antigos perigos que não deveriam ter voltado.

Angel inclinou-se ligeiramente, mantendo a compostura.

— Também ouvi rumores. — Ele lançou um olhar de soslaio para Galen e Arthur, sentados em silêncio. — Mas duvido que seja só isso.

Darian assentiu lentamente, então olhou diretamente para Galen.

— Seu filho tem talento. Bruto, sim, mas... real. E a minha... — ele hesitou um instante, voltando-se então para Arthur com sutileza — ...minha cria também tem potencial. É hora de moldar aço com aço.

Angel arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Está sugerindo...?

— Um treino conjunto. — Darian pousou os talheres. — Galen ficará sob minha tutela pelos próximos meses. E Arthur... sob a sua. Eu lhe ensinarei o domínio da espada e o fluxo mágico como se forjam os grandes espadachins arcanos. Você, Angel, é o maior mestre de armas que já conheci. Ensine-o— como lutar com tudo que existe.

Por um segundo, o salão ficou em silêncio. Arthur— endureceu a postura, surpresa com a ousadia do pai em confiar sua identidade a Angel.

Angel, por sua vez, apenas sorriu de leve.

— Sempre soube — disse calmamente. — Seus olhos são sinceros demais .

Arthur desviou o olhar, um leve rubor subindo pelas bochechas, disfarçado pela sombra da vela.

— Então está feito — disse Angel, erguendo a taça em sinal de aceitação. — Um acordo entre velhos aliados. Os filhos herdam nossas batalhas... mas também a nossa vontade de vencê-las.

Darian respondeu com um brinde silencioso.

E assim, o verdadeiro treino começaria.

O sol começava a descer no horizonte, tingindo o céu de tons quentes enquanto o grupo se preparava para partir. Galen ajustava sua mochila, o olhar firme e determinado, mas havia uma sombra de hesitação nos olhos vermelhos. Arthur observava em silêncio, sentindo o peso daquele momento.

Darian aproximou-se com passos largos e firmes, um aceno para Galen.

— Está na hora, garoto. Dois anos de treino intenso te esperam — disse, a voz grave e sem espaço para dúvidas. — Dois anos para moldar sua força, seu corpo e sua mente.

Galen respirou fundo e virou-se para Arthur, seus olhos encontrando os azuis claros do amigo.

— Cuide-se no castelo — disse, com uma ponta de suavidade que não costumava mostrar. — E aproveite o tempo com meu pai. Ele vai te levar além do que imagina.

Arthur assentiu, o coração apertado.

— E você... volte mais forte. Quero ver o que aprendeu.

Angel, ao lado, observava a troca com um sorriso contido.

— Dois anos para cada um. Vocês vão se tornar algo que poucos ousam sonhar — afirmou, com firmeza.

Darian lançou um último olhar para Arthur, depois para Angel.

— Então está feito. Que o próximo capítulo comece.

Com isso, Galen montou no cavalo ao lado de Darian, e as carruagens começaram a se mover pela estrada, levando-o para longe do castelo temporário.

Arthur ficou ali, ao lado de Angel, sentindo a solidão misturada com a promessa de crescimento que viria.

O futuro, pensou, estava apenas começando.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!