Eu disse a mim mesma que seria temporário.
Apenas alguns dias, talvez uma semana. Tempo suficiente para que o “perigo” passasse, para que Aslan perdesse o interesse, ou para que eu descobrisse uma maneira de escapar. Mas as horas viraram dias, e os dias começaram a se arrastar como uma corrente invisível amarrada ao meu tornozelo.
A mansão deixou de ser apenas fria. Começou a me estudar. A me moldar.
E ele… também.
Aslan Amaral não invadia meu espaço. Ele o preenchia. Como fumaça densa que se infiltra pelas frestas, silenciosa, inevitável.
Ele não me tocava. Nunca sem permissão.
Mas me olhava como se já tivesse feito tudo.
A convivência forçada fez com que os silêncios entre nós se tornassem mais carregados do que qualquer palavra. Uma noite, o encontrei na sala, após um telefonema tenso. Camisa meio aberta, copo de uísque na mão, olhar perdido nas sombras.
— Tudo bem? — perguntei antes de pensar.
Ele não respondeu de imediato. Deu um gole lento e, então, me olhou.
— Você já viu alguém sangrar até sorrir?
Engoli em seco.
— Isso é um pedido de ajuda ou só poesia mórbida?
Ele sorriu, mas era um sorriso ferido. Um que eu não entendi. Um que me doeu, mesmo sem razão.
— Eu não sou o monstro que todos pintam — murmurou. — Mas também não sou o herói que você queria que fosse.
Fiquei ali, parada, observando-o por um instante. Pela primeira vez, vi rachaduras na armadura. Feridas. Não físicas — mas antigas, enterradas.
E, por alguma razão, quis tocá-las.
— Eu nunca esperei um herói — sussurrei. — Só alguém que não me destruísse junto.
Ele se aproximou, devagar, como se pisasse num campo minado.
— Não é isso que você teme, Ayla. O que você teme... é querer ser destruída por mim.
Minhas pernas ameaçaram fraquejar. Cada palavra dele se infiltrava por debaixo da pele como veneno. Eu queria negar, virar as costas, lembrar quem eu era antes de tudo isso.
Mas ele já morava nas minhas noites. Nos meus silêncios. Na minha raiva.
E no meu desejo.
— Isso é um jogo pra você? — perguntei, a voz trêmula. — Um desafio?
— Não. — A resposta veio rápida. — Isso é guerra. E você entrou nela no dia em que pisou no meu mundo. Agora, está em campo... e precisa decidir se luta ou se rende.
Nos encaramos por longos segundos. Ele deu um passo. Depois outro.
Meu corpo todo gritou para fugir.
Mas meus pés ficaram.
Quando ele parou diante de mim, ergueu a mão devagar, como se me desse tempo para recuar. Seus dedos tocaram meu rosto, de leve, como se eu fosse feita de vidro.
— Você ainda tem uma escolha — disse ele. — Mas saiba: se continuar aqui... vai queimar.
Fechei os olhos. Inspirei o cheiro dele. Madeira, perigo, poder. Uma combinação que me deixava tonta.
Quando falei, minha voz era quase um sussurro:
— Talvez eu já esteja queimando.
Ele não me beijou.
Não ainda.
Mas quando se afastou, com os olhos fixos nos meus, soube que a distância entre nós não duraria muito mais.
Eu estava morando com ele.
Por “segurança”.
Mas a maior ameaça naquela casa... era o que ele despertava em mim.
E o pior de tudo? Eu não queria que parasse.
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Atualizado até capítulo 40
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