A primeira noite naquela casa foi silenciosa demais. O tipo de silêncio que grita.
Apesar do tamanho do quarto, da cama imensa e dos lençóis macios, não consegui pregar os olhos. Havia algo na casa — ou talvez nele — que me mantinha desperta, em alerta.
No café da manhã, a mesa estava posta como se eu fosse uma convidada de honra. Frutas cortadas, suco fresco, pão quente. Uma ironia absurda, considerando que eu era, tecnicamente, uma prisioneira.
Ele apareceu minutos depois.
Aslan Amaral. Terno cinza escuro, camisa aberta no colarinho. Tinha acabado de sair de uma reunião, talvez, ou de um problema resolvido com sangue — eu não saberia dizer. O que sabia é que ele parecia ainda mais letal de manhã.
— Dormiu bem? — perguntou, servindo café como se fôssemos velhos conhecidos.
— Não é fácil dormir quando você sabe que está sendo vigiada.
Ele ergueu os olhos para mim, por cima da xícara. — Mas você está viva. Isso já é uma vitória, Ayla.
Revirei os olhos. — Sempre tão encorajador...
Ele riu. Baixo, rouco. O som me causou um arrepio desconfortável. Ele não ria com frequência, e quando ria, havia algo cruel demais por trás daquilo.
— Vamos cortar o teatro — falei. — Você não me trouxe aqui só para me proteger. Qual é o verdadeiro motivo?
Ele pousou a xícara na mesa com cuidado. Então se inclinou, os olhos fixos nos meus.
— Você quer a verdade?
Assenti, sentindo o estômago apertar.
— Seu irmão se envolveu com uma organização rival. Me traiu. Mas ele era esperto... e deixou algo para trás. Uma informação, um código, algo que ainda não encontrei. Acho que ele pode ter confiado isso a você — ou escondido em algum lugar que só você descobriria.
— Eu já disse, eu não sei de nada!
— Eu acredito — ele disse, surpreendentemente. — Mas isso não significa que não possa descobrir. E é aí que entra meu pacto.
Cruzei os braços. — Que tipo de pacto?
— Você fica aqui. Segura. Protegida. Em troca, me ajuda a descobrir o que seu irmão escondeu. Eu te dou tudo o que quiser: segurança, conforto... poder, se quiser. Mas quero sua lealdade. Sua confiança.
— Isso não é um pacto. É uma chantagem elegante.
Ele sorriu de novo, com os olhos mais escuros do que nunca.
— Eu nunca disse que era justo.
Me levantei da cadeira, irritada, andando até a janela. Precisava de ar. Mas tudo ali parecia me lembrar que eu era refém de um homem que jogava com vidas como quem move peças num tabuleiro.
Senti a presença dele atrás de mim antes mesmo de ouvir seus passos.
— Por que eu? — sussurrei. — Por que você se importa?
Ele parou tão perto que eu podia sentir seu calor. Sua voz veio baixa, quase um toque nos meus sentidos:
— Porque você é diferente. Porque, mesmo com medo, você me olha nos olhos. Porque parte de mim quer mantê-la intacta... e outra parte quer descobrir o que acontece se eu te quebrar.
Virei para encará-lo, com o coração martelando no peito. Havia uma tensão sufocante entre nós. Perigosa. Quente.
Seus olhos caíram para minha boca. Por um segundo, achei que ele fosse me beijar.
Mas Aslan não era um homem previsível. Ele apenas tocou meu rosto com as costas dos dedos e sussurrou:
— Pense no pacto, Ayla. Porque, a partir de agora, recusar tem consequências.
Ele saiu, deixando meu corpo em chamas e minha mente à beira do caos.
E no fundo… parte de mim já estava considerando dizer sim.
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Atualizado até capítulo 40
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