IV.

Os dias se transformaram em uma rotina árdua e monótona, marcada pelo ranger incessante das rodas, o cheiro de poeira e o sol escaldante das Grandes Planícies. A caravana avançava lentamente, uma mancha marrom serpenteando pela imensidão verde e amarela que se estendia até onde a vista alcançava. A paisagem, embora grandiosa, logo se tornou repetitiva, e o entusiasmo inicial deu lugar a um cansaço persistente e a uma crescente consciência dos desafios que a trilha impunha.

O clima era um adversário caprichoso. Manhãs frias davam lugar a tardes sufocantes, e tempestades podiam se formar no horizonte em questão de horas, desabando sobre a caravana com ventos uivantes e chuvas torrenciais que transformavam a trilha em um atoleiro traiçoeiro. Oscar, com sua experiência, antecipava muitas dessas mudanças, ordenando paradas estratégicas ou escolhendo locais mais abrigados para acampar, minimizando os danos às carroças e o desconforto dos viajantes.

Anne observava-o com uma mistura de sentimentos. Havia medo, não dele, mas da autoridade fria e eficiente com que ele comandava, da facilidade com que lidava com situações que a deixavam apavorada. Havia também uma crescente admiração. Ele parecia conhecer cada nuance da trilha, cada sinal no céu, cada perigo oculto. Suas habilidades eram inegáveis, e sua presença constante, cavalgando incansavelmente ao longo da coluna ou postado como uma sentinela silenciosa durante a noite, trazia uma sensação de segurança palpável para a caravana.

As interações entre eles eram esparsas e estritamente formais. Um aceno de cabeça ao passar, uma instrução breve sobre a melhor forma de amarrar a lona antes de uma tempestade, um olhar rápido trocado durante as refeições comunitárias ao redor da fogueira. Oscar mantinha uma distância profissional, seus olhos azuis frequentemente varrendo o perímetro, sempre alerta, raramente se demorando em qualquer pessoa em particular. Anne, por sua vez, hesitava em se aproximar, intimidada por sua reserva e consciente de sua própria posição solitária na caravana.

Um dia, enquanto atravessavam uma seção particularmente árida e rochosa do terreno, a roda dianteira da carroça de Anne prendeu-se em uma fenda profunda, quase invisível. Cícero puxou com força, mas a roda apenas se enterrou mais, ameaçando quebrar o eixo. Anne desceu rapidamente, o coração apertado de pânico. Outras carroças passaram por ela, os condutores oferecendo palavras de simpatia, mas ninguém parou para ajudar – cada um estava focado em seus próprios desafios e em manter o ritmo da caravana.

Ela tentou usar uma alavanca improvisada com um pedaço de madeira, mas não tinha força suficiente para desalojar a roda. O desespero começou a tomar conta. Ficar para trás significava ficar sozinha, exposta aos perigos da planície.

Foi então que Oscar surgiu, silencioso como sempre, montado em Furacão. Ele desmontou, avaliou a situação com um olhar rápido e prático.

— Afaste-se, senhorita — disse ele, a voz calma, mas com um tom de comando.

Anne obedeceu, recuando alguns passos, observando enquanto ele prendia uma corda grossa ao eixo da carroça e a outra extremidade à sela de Furacão. Com um comando suave, o poderoso cavalo começou a puxar, os músculos retesados. Oscar usou sua própria força para guiar a roda, e com um solavanco, ela se soltou da fenda.

Ele verificou rapidamente o eixo e a roda. — Parece que não houve danos sérios. Mas tenha mais cuidado ao escolher seu caminho. Tente seguir as trilhas mais marcadas pelas carroças da frente.

— Obrigada, Sr. Wise. Eu… eu não sei o que teria feito — gaguejou Anne, a gratidão misturada com a vergonha por sua própria incapacidade.

Oscar apenas assentiu, já desenrolando a corda. — Faz parte do meu trabalho garantir que a caravana continue se movendo.

Ele montou novamente em Furacão, pronto para seguir adiante. Mas antes de partir, ele hesitou por um instante, seus olhos azuis encontrando os âmbar dela. Havia uma faísca ali, algo além da simples gratidão ou do profissionalismo.

— Precisa de mais alguma coisa? — perguntou ele, a voz um pouco menos áspera.

Anne balançou a cabeça. — Não, senhor. Estou bem agora. Obrigada novamente.

Ele deu um leve toque no chapéu e afastou-se, deixando Anne com o coração palpitando. Aquele breve momento de preocupação em seus olhos, a ligeira suavidade em sua voz… talvez houvesse mais naquele homem do que a fachada de pistoleiro frio sugeria. Ela subiu de volta na carroça, as mãos tremendo um pouco, e instigou Cícero a seguir em frente, juntando-se novamente à lenta procissão rumo ao Oeste. A trilha já lhe ensinara sua primeira lição dura sobre dependência e vulnerabilidade, mas também lhe dera um vislumbre da complexidade do homem contratado para protegê-la.

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Carla

Carla

É assim mesmo que começa

2025-05-11

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