Onde o Sonho Termina: Uma Breve Novela Western

Onde o Sonho Termina: Uma Breve Novela Western

I.

O cheiro de poeira, suor e gado pairava pesado no ar de St. Joseph, Missouri. Era o final da primavera de 1870, e a cidade fervilhava como um formigueiro prestes a explodir. Carroças rangiam, homens gritavam ordens, mulheres tentavam manter alguma ordem no caos, e crianças corriam por entre as pernas dos adultos, alheias à magnitude da empreitada que se desenhava. Era o ponto de partida, a boca do funil que despejaria milhares de almas na vasta e incerta promessa do Oeste, a Trilha do Oregon.

Em meio a essa cacofonia de esperanças e ansiedades, Oscar observava a cena do pórtico de um saloon mal-ajambrado, um copo de uísque esquecido na mão direita. Seus olhos, de um azul tão profundo que pareciam absorver a luz do sol poente, percorriam a multidão com uma calma calculada, quase indiferente. Alto, com ombros largos que preenchiam bem o colete de couro gasto sobre a camisa escura, ele era uma figura que impunha respeito, mesmo em repouso. A barba negra, curta e bem aparada, emoldurava um maxilar firme, e os cabelos igualmente negros escapavam por baixo da aba do chapéu puído. Aos trinta anos, Oscar já vira mais do que a maioria dos homens veria em duas vidas, e seus olhos carregavam o peso dessas visões.

A fumaça do charuto que ele tragava lentamente misturava-se ao pó da rua. Ele não compartilhava do fervor que animava aquela gente. Para ele, o Oeste não era uma promessa de terra e liberdade, mas um lugar de trabalho árduo, perigo constante e, frequentemente, morte prematura. Ele conhecia as planícies, os rios traiçoeiros, as montanhas implacáveis e os homens desesperados que vagavam por elas. Era um pistoleiro, um guardião por contrato, e sua presença ali tinha um propósito bem definido: dinheiro.

Um homem baixo e corpulento, com um rosto redondo e suado sob um chapéu-coco desalinhado, aproximou-se, desviando de uma carroça carregada de tralhas.

— Sr. Wise? Oscar Wise? — perguntou, a voz ligeiramente ofegante.

Oscar baixou o copo, o movimento fluido e econômico. Ele não respondeu, apenas arqueou uma sobrancelha escura, um gesto que bastava para confirmar sua identidade e inquirir sobre o motivo da abordagem.

— Sou Jedediah Smith, líder da Companhia Smith & Filhos. Falaram-me que o senhor é o homem certo para garantir que nossa caravana chegue sã e salva ao Vale Willamette.

Oscar deu outra tragada no charuto, soltando a fumaça devagar. Ele avaliou Jedediah de cima a baixo. O homem parecia honesto, mas claramente ansioso, talvez um pouco ingênuo sobre os verdadeiros desafios que os aguardavam. Era o tipo de cliente que pagava bem, mas que provavelmente causaria problemas por excesso de otimismo ou falta de preparo.

— O Oeste não oferece garantias, Sr. Smith. Apenas perigos — respondeu Oscar, a voz grave e rouca, sem inflexão. — O que posso oferecer é minha habilidade com armas e meu conhecimento da trilha. Isso tem um preço.

Jedediah engoliu em seco, mas assentiu rapidamente. — Sim, sim, claro. Fomos informados de seus termos. Quinhentos dólares, metade agora, metade na chegada ao Oregon. É um valor alto, Sr. Wise, mas a segurança de nossas famílias e bens não tem preço.

Oscar permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos azuis fixos no horizonte distante, onde o sol começava a tingir o céu de laranja e roxo. Quinhentos dólares. Era um bom dinheiro, suficiente para mantê-lo por um tempo considerável depois do serviço. A jornada seria longa, árdua, provavelmente sangrenta. Exigiria vigilância constante, decisões difíceis e, quase certamente, o uso de sua Colt Peacemaker, que descansava pesada no coldre em sua coxa direita.

Ele pensou nos rostos da multidão – homens rudes, mulheres resilientes, crianças barulhentas. Eram fazendeiros, comerciantes, aventureiros, todos buscando algo no Oeste. Para a maioria, ele seria apenas o homem armado, uma presença sombria e necessária. Poucos se importariam com seu nome ou sua história. Ele era uma ferramenta, contratada para um fim específico.

— A caravana parte em dois dias — disse Jedediah, quebrando o silêncio. — Temos cerca de trinta famílias, talvez umas cinquenta carroças. Precisamos de alguém que organize a defesa, estabeleça as vigílias, lide com… bem, com qualquer problema que surja.

Oscar finalmente olhou para Jedediah. — Problemas sempre surgem, Sr. Smith. Índios hostis, ladrões, acidentes, doenças, a própria natureza. Meu trabalho é minimizar os danos. Não faço milagres.

— Compreendemos, Sr. Wise. Apenas faça o seu melhor. Confiamos em sua reputação.

Reputação. Oscar quase sorriu, mas o músculo em sua mandíbula apenas se contraiu levemente. Sua reputação fora construída com pólvora e sangue. Era eficaz, mas não era algo de que se orgulhasse particularmente. Era apenas o que ele sabia fazer, o que o mantinha vivo e com dinheiro no bolso em um mundo que não perdoava fraquezas.

Ele estendeu a mão esquerda, a direita permanecendo próxima à arma por puro hábito. — Metade agora, Sr. Smith.

Jedediah rapidamente tirou um maço de notas de um bolso interno do casaco, contando duzentos e cinquenta dólares e entregando a Oscar. Os dedos calejados de Oscar fecharam-se sobre o dinheiro, conferindo-o rapidamente antes de guardá-lo no bolso interno de seu próprio colete.

— Estarei pronto em dois dias. Reúna os homens capazes amanhã ao amanhecer, perto do rio. Quero avaliar quem pode segurar uma arma e seguir ordens — disse Oscar, já assumindo o comando.

— Sim, senhor. Claro, Sr. Wise. Como quiser — gaguejou Jedediah, visivelmente aliviado por ter garantido os serviços do pistoleiro.

O líder da caravana afastou-se apressadamente, perdendo-se novamente na multidão. Oscar permaneceu no pórtico, terminando seu uísque em um gole só. O gosto forte queimou sua garganta, mas não aqueceu o vazio que sentia por dentro. Outro contrato, outra jornada perigosa rumo ao desconhecido. Era sua vida, solitária e pragmática.

Ele observou uma jovem mulher, parada perto de uma carroça solitária, olhando para o céu com uma expressão sonhadora. Seus cabelos castanhos claros brilhavam sob a luz do entardecer, e mesmo à distância, ele notou uma certa delicadeza em seus traços. Ela parecia deslocada ali, uma flor frágil em meio a espinhos. Provavelmente mais uma alma iludida pela promessa do Oregon. Oscar desviou o olhar. Não era da sua conta. Seu trabalho era proteger a caravana como um todo, não se envolver com histórias individuais.

Apagou o charuto na madeira do corrimão e entrou novamente no saloon, buscando mais uma dose para aplacar a poeira da estrada e os fantasmas do passado. A jornada começaria em breve, e ele precisava estar pronto para o que quer que o Oeste decidisse jogar em seu caminho.

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Claudia Magda de Paula Maia

Claudia Magda de Paula Maia

feliz por está lendo romance bang-bang nesta plataforma

2025-05-09

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