o fim de semana e a primeira noite longa

CAPÍTULO 5

Era sexta-feira à tarde quando Ana Luiza ligou para Maria Eduarda. A voz do outro lado da linha parecia mais cansada que o normal.

— Oi, Duda. Tudo bem?

— Tudo sim, senhora Ana. Aconteceu alguma coisa?

— Não, está tudo certo… quer dizer, quase. Acabei de saber que vou ter que viajar a trabalho amanhã de manhã. Volto no domingo à noite. Queria saber se você conseguiria dormir aqui com as meninas esse fim de semana... Claro, só se for possível pra você.

Maria ficou em silêncio por alguns segundos, surpresa. Não esperava tanta confiança tão cedo.

— Eu consigo sim. Só vou avisar minha mãe, mas não tem problema. Posso dormir aqui.

— Obrigada, de verdade. Você tem sido um apoio enorme. Vou deixar tudo organizado: roupas, comida, telefone da pediatra... e qualquer coisa, minha mãe passa aqui também.

— Vai dar tudo certo. Pode ir tranquila.

Ana desligou com um pequeno suspiro de alívio. Mas, por dentro, sentia um leve frio na barriga. Não era só o peso de deixar as filhas — era também a ideia de Maria dormindo em sua casa, ocupando os espaços mais íntimos da sua rotina.

Sábado de manhã, 6h. Ana saiu com a mala pequena, passou pela sala onde Maria já estava acordada, brincando com Luna no tapete.

— Elas ainda estão com sono — disse Maria, sorrindo.

Ana se aproximou, agachou e beijou as filhas. Valentina, sonolenta, disse:

— Mamãe volta hoje?

— Amanhã à noite, minha princesa.

Maria observava discretamente. Ana se levantou e, antes de sair, hesitou na porta. Olhou para Maria e disse:

— Qualquer coisa, me liga. Mas... eu confio em você, Duda.

Maria respondeu apenas com um aceno e um sorriso. E ali, no silêncio, algo novamente foi dito — sem que nenhuma das duas soubesse dar nome.

O sábado correu cheio: café da manhã com panquecas (Maria descobriu que Luna adora), uma tarde de filme com pipoca e risadas com Valentina, que aos poucos ia se soltando mais.

À noite, depois que as meninas dormiram, Maria decidiu dar uma ajeitada nas coisas. Guardou os brinquedos, lavou a louça, fechou as janelas. Parou no quarto de Ana sem querer, e viu um livro aberto sobre a cama. “Mulheres que correm com os lobos”.

Sorriu. Sentou-se por um minuto na beira da cama e folheou algumas páginas. Sentia que ali havia uma parte de Ana que ela ainda não conhecia. Uma mulher mais sensível, talvez mais ferida do que deixava parecer.

E então ouviu passos. Valentina apareceu no corredor, com os olhos meio marejados.

— Tive um pesadelo...

Maria levantou-se rápido, pegando a menina no colo.

— Quer dormir comigo hoje?

Valentina assentiu com a cabeça, abraçando-a forte.

Deitou a menina ao seu lado no quarto de hóspedes e ficou ali, acariciando seus cabelos até ela adormecer de novo. Olhando para o teto, Maria sentiu algo diferente em seu peito. Não era só carinho pelas meninas. Era algo maior. Como se tivesse encontrado um lugar que ela nem sabia que procurava.

Domingo, fim de tarde. Ana chegou mais cedo do que o previsto.

Abriu a porta devagar, encontrou a sala arrumada, cheiro de comida no ar, e Maria sentada com Valentina em seu colo, lendo um livro. Luna dormia no sofá, coberta com um paninho leve.

Maria levantou-se ao vê-la, surpresa.

— Voltou mais cedo!

— Tava com saudade delas... — disse Ana, olhando primeiro para as filhas, depois para ela. — E também queria te agradecer pessoalmente.

Maria deu um sorriso simples, mas havia algo nos olhos dela. Cansaço, sim, mas também um certo brilho. Um contentamento silencioso.

— Elas foram incríveis — disse. — E eu... gostei de ficar aqui. Me senti em casa.

Ana sentiu o peito apertar por um segundo. Olhou para Maria com mais atenção. O cabelo preso de qualquer jeito, a blusa simples, o jeito calmo de andar... e pensou: "Ela me traz paz."

— Duda — Ana começou, com a voz baixa — se eu te pedir pra ficar aqui com a gente sempre... dormindo aqui, cuidando das meninas, sendo parte da casa… você aceitaria?

Maria congelou por um instante. Olhou para Ana, depois para as meninas dormindo, e então respondeu:

— Se for pra cuidar delas e também... de você, eu fico.

As duas se olharam. Não houve toque. Nem beijo. Só um olhar. Intenso. Demorado. Cheio de tudo o que ainda não sabiam como dizer.

Mas sabiam. Sentiam.

Aquilo estava apenas começando.

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Comments

Allan Ricardo Araujo

Allan Ricardo Araujo

eita que a coisa está começando a esquentar

2025-04-15

0

Maria Andrade

Maria Andrade

as coisas estão começando a ficar bom

2025-04-22

1

A.Maysa

A.Maysa

uau, que intenso

2025-04-08

1

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