entre lagrimas e aproximações

CAPÍTULO 3

A quarta-feira amanheceu cinzenta. Nuvens pesadas cobriam o céu e a chuva fina desenhava pequenos rios nas janelas do apartamento. O som constante das gotas caindo era quase relaxante, mas naquela manhã havia uma tensão no ar.

Maria Eduarda chegou pontualmente às 7h. Estava molhada até os joelhos por causa da chuva, mas sorria como sempre.

— Bom dia — disse, secando os cabelos com um lenço. — Está um tempo difícil lá fora, mas deu tudo certo.

Ana Luiza, como de costume, apenas assentiu com a cabeça. Mas dessa vez... notou o esforço. O capuz encharcado, a mochila pingando. E mesmo assim, o sorriso.

— Tem toalha no banheiro, se quiser se secar melhor — disse de repente, com a voz mais suave do que pretendia.

Maria agradeceu e foi, enquanto Ana seguia para o quarto das meninas.

Valentina estava mais emburrada que o normal. Não queria levantar, não queria tomar café, nem colocar o uniforme.

— Eu não quero ir pra escola! — gritou, cruzando os braços.

— Valentina, não temos tempo pra isso hoje, filha — disse Ana, já se estressando.

— Eu disse que não quero! — gritou mais alto, com os olhos marejando.

Ana suspirou. Estava atrasada, e paciência nunca fora seu ponto forte com birras. Mas antes que ela perdesse o controle, Maria se aproximou calmamente.

— Deixa eu tentar?

Ana hesitou, mas assentiu e saiu do quarto, respirando fundo.

Maria sentou-se na beirada da cama, perto da menina.

— Sabe... quando eu tinha sua idade, eu também não gostava de dias de chuva. Parecia que o céu estava triste, e eu ficava triste junto.

Valentina a olhou desconfiada.

— Mas sabe o que minha mãe dizia? Que quando o céu chora, é porque ele está limpando tudo de ruim. Lavando o mundo. E quando a gente chora também, às vezes é porque a gente precisa limpar alguma dor aqui dentro. — Maria tocou de leve o peito, sobre o coração. — Você quer me contar o que está doendo aí dentro?

Valentina ficou em silêncio. Depois de alguns segundos, murmurou:

— A mamãe não está mais em casa. Ela sempre ia comigo na chuva. E agora ela não vai mais.

Maria engoliu seco.

— Sua mãe ainda é sua mãe. E ela ainda te ama. Mas... agora você tem muita gente aqui que também te ama. E eu estou aqui pra te ajudar quando a chuva ficar forte demais. Tá bem?

A menina respirou fundo e, como um gesto quase automático, se jogou no colo de Maria.

Foi a primeira vez que Ana Luiza viu aquilo. Estava parada no corredor, observando tudo pela fresta da porta. Sentiu algo estranho no peito: uma mistura de alívio, dor e... gratidão. Maria estava criando uma ponte com sua filha — uma ponte que ela mesma não conseguia mais sustentar sozinha.

Mais tarde, quando Maria já tinha colocado Valentina na van e Luna brincava com blocos no tapete da sala, Ana apareceu na cozinha.

— Obrigada... por antes. Com a Valentina.

Maria sorriu, enxugando as mãos.

— Ela só precisava ser ouvida.

— Eu sei. Mas às vezes eu não sei como... — disse Ana, quase num sussurro.

Silêncio por um momento. Depois Ana acrescentou, desviando o olhar:

— Você tem esse jeito... calmo. A casa ficou mais leve.

Maria corou, surpresa com o elogio vindo de alguém tão rígida.

— Fico feliz por estar ajudando.

Elas se olharam por alguns segundos. E ali, sem palavras, algo foi dito.

Não era amor ainda. Não era desejo. Era algo mais sutil.

Confiança.

Aquela tarde correu tranquila. E pela primeira vez em meses, Ana Luiza saiu para o trabalho com o coração menos apertado. Sabia que havia alguém cuidando do que ela tinha de mais precioso. Alguém que, sem perceber, já estava mudando tudo.

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Comments

Julinha Rolim

Julinha Rolim

essa daí parece com migo quando criança, também tinha dias q não gostava de ir pra escola

2025-05-07

0

Allan Ricardo Araujo

Allan Ricardo Araujo

se não mudar pra algo terrível entre elas tem tudo pra ser um sucesso ☺️

2025-04-15

0

Erca Tovela

Erca Tovela

tá incrível autora ❤️

2025-04-10

0

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