Maria Rita ainda sentia o corpo fraco, mas sua mãe insistia que o trabalho leve a ajudaria a se recuperar. Aos poucos, começou a ajudar na Casa Grande da Fazenda, limpando pequenos cômodos e organizando o que a sua mãe, agora cozinheira da casa, pedia-lhe. As tarefas eram simples, mas o suficiente para ocupá-la durante boa parte do dia e dar-lhe algum ânimo após semanas de repouso.
A casa grande era imponente, com móveis antigos, grandes janelas e tetos altos. Maria Rita se limitava as áreas comuns e a cozinha, onde a sua mãe passava quase o dia todo preparando as refeições da casa. A jovem sem carregava de varrer os corredores, tirar o pó das prateleiras e dobrar toalhas e guardanapos, sempre sob a supervisão atenta de dona Maria de Cássia, que não deixava que a filha se esforçasse demais.
Ainda não conhecia bem os moradores da casa.
Sabia que ali vivia o dono da fazenda, Gustavo Ribeiro, um senhor viúvo de 49 anos. Um homem importante e respeitado em toda a região, mas que raramente era visto fora do seu escritório. Também ouviu dizer que havia um capataz, Paulo Ricardo, mas até então, não o encontrara pessoalmente.
Daniel, o viúvo, era outro nome que se comentava às vezes na cozinha, mas ele nunca aparecia durante as horas de trabalho de Maria Rita e havia uma mulher, Vânia, que passava ocasionalmente pelos corredores, mas que nunca lhe dirigiu a palavra, mesmo assim causava-lhe calafrios.
A rotina era silenciosa, monótona, o que para Maria Rita era um alívio. Depois de tudo que passou, qualquer estabilidade parecia uma dádiva dos céus.
Começava o dia ajudando sua mãe a separar os ingredientes para o almoço e, em seguida, limpava algumas áreas do andar térreo. No início da tarde, Bia para os quartos vazios do segundo andar, trocava as roupas de cama ou lustrava os móveis, e descia quando o sol começava a cair.
Durante essas tarefas, a maior parte do tempo Era passada em silêncio. Às vezes, sua mãe cantarolava uma música antiga enquanto cozinhava, e isso preenchia a casa com certa leveza. Maria Rita gostava desses momentos. Era um contraste com o hospital, onde o silêncio era pesado e cheio de incertezas. Na fazenda, o silêncio era apenas parte da vida.
Certo amanhã, quanto dobrava toalhas na lavanderia dos fundos, notou a chegada de uma entrega. Dois homens descarregavam sacos de farinha e caixas de mantimentos. Maria Rita ficou de longe observando em silêncio algo dentro dela estremeceu. Uma sensação estranha tomou conta dela, como se um daqueles homens fosse perigoso.
Depois que se foram, ela voltou a sua tarefa sem pressa, como se aquele pequeno acontecimento fosse a coisa mais interessante do dia.
Com o passar da semana, ganhou confiança para organizar os armários da copa. Descobriu pilhas de pratos antigos, alguns já desgastados, mas todos muito bem cuidados. Ao lado da geladeira, encontrou um pequeno rádio portátil, e pediu à mãe para deixá-lo ligado enquanto trabalhava. A música preenchia o ambiente e deixava tudo menos solitário.
Maria de Cássia se mostrava satisfeita com o esforço da filha, embora a olhasse conserta preocupação. Sabia que Maria Rita ainda estava se recuperando, e fazia de tudo para poupar os esforços mais pesados. A noite, dividiam o jantar na pequena casa que lhes fora destinada, comentavam sobre o dia, clima e os preparos para o domingo, quando não havia serviço.
Naquele sábado, Maria Rita levantou mais cedo do que o habitual. Pegou um pano de limpeza e foi até a copa limpar a cristaleira. Os seus movimentos ainda eram lentos, mas firmes. Gostava da sensação de ter algo para fazer. Sabia que, de alguma forma, estava recomeçando.
Ao final do dia, ao passar pelo corredor que ligava a cozinha a sala principal, escutou vozes ao longe. Reconheceu o som da voz de sua mãe, rindo com alguém, mas não se aproximou. Preferiu voltar para os fundos e cuidar das xícaras sujas de café.
Ela não entendia muito da dinâmica da fazenda, nem desejava se envolver. Por enquanto, o seu mundo era pequeno: sua mãe, o trabalho leve e os comodos silenciosos da casa grande. Havia algo de confortável nisso. Sentia que ainda precisava de tempo para entender o que estava por vir.
E assim, entre o cheirinho de pão fresco e o brilho do chão encerado, os dias foram passando. Maria Rita seguia a sua rotina sem pressa, reconstruindo-se, pouco a pouco, sem saber que aquele silêncio que tanto valorizava, escondia histórias que, em breve, voltariam à tona.
......................
Naquele domingo, Maria Rita acordou antes mesmo do sol nascer. Ainda não tinha se acostumado com o silêncio completo das manhãs na fazenda, sem o barulho de carros, sem vozes na rua, apenas o canto dos pássaros e o som do vento cortando entre as árvores. Ela estava tão habituada a rotina dos ultimos dias que, mesmo sendo seu dia de descanso, levantou-se, vestiu-se com simplicidade e saiu para respirar o ar fresco ao redor da casinha onde vivia com a mãe.
A paisagem era tranquila. A pequena casa que haviam recebido como moradia, ficava em um canto próximo da casa grande, tinha algumas árvores, flores e uma horta. Maria Rita caminhou devagar, sentindo o chão de terra firme sobre os pés, inspirando o fundo o cheiro de mato molhado da manhã.
Ela caminhava distraída pelas proximidades da casa quando ouviu um rosado baixo. Parou imediatamente. O som vinha de entre alguns arbustos, e em poucos segundos um cachorro grande, de pelos escuros e olhar atento, surgiu.
Era um animal robusto, com as orelhas levantadas e a expressão feroz, como se estivesse em guarda.
Maria Rita congelou. Nunca havia visto aquele cachorro por ali, e pelo jeito como ele se posicionava, parecia agressivo. O animal avançou alguns passos, rosnando baixo com os olhos fixos nela. Ela pensou em gritar, mas a voz não saía. O coração batia forte no peito, e os seus pés pareciam presos ao chão...
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Léa Aparecida Ribeiro
Tânia mais capítulos...estou adorando
2025-04-04
2
Reni Demetre
Será que o cachorro vai reconhecer ela?
2025-04-04
2
Madeline
mas!!!
2025-04-05
3