O sol estava alto quando Paulo Ricardo cruzou os portões da Fazenda com corpo de Olívia nos braços. O seu rosto estava endurecido pela dor, mas seus olhos ainda brilhavam de lágrimas contidas. O silêncio que se espalhou pelo pátio ao vê-lo carregando a jovem, foi devastador. Os empregados da casa, os trabalhadores da Fazenda, todos pararam. Murmúrios e exclamações baixas de horror espalharam-se com um incêndio entre eles.
Foi então Gustavo Ribeiro, o pai de Olívia, surgiu à porta. Um homem imponente, de olhar firme e presença marcante, mas que naquele instante parecia encolhido, prestes a desmoronar.
Seus olhos correram do rosto pálido da filha para expressão transtornada de Paulo Ricardo e ele cambaleou um passo para trás como se tivesse levado um golpe no peito.
— Não...— a voz saiu rouca, quase inaudível.— Minha filha…
Paulo Ricardo parou diante dele incapaz de dizer qualquer coisa. Apenas abaixou o olhar, respeitando a dor que tomava conta daquele homem. O silêncio pesou entre eles por alguns segundos eternos, até que Gustavo avançou, estendendo as mãos trêmulas para tocar o rosto de Olívia.
— O que fizeram com você, minha menina? — ele sussurrou, dedos acariciando a pele fria da filha, como se esperasse que ela abrisse os olhos e dissesse que tudo não passava de um pesadelo.
As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, mas ele não soluçava. Sua dor era silenciosa, profunda, esmagadora. Ele não perguntava quem havia feito aquilo, não perguntava como acontecera. Tudo que conseguia fazer era olhar para o corpo sem vida de sua filha e sentir o peso de um mundo desmoronando ao seu redor.
Olívia observava tudo, presa entre a vida e a morte. Queria falar com o pai, dizer que estava ali, que não havia desaparecido completamente.
Mas não podia. Sua existência era apenas uma sombra no espaço ao redor. Ela viu quando o seu pai Gustavo, com extrema delicadeza, pegou a sua mão e a segurou entre as suas, como se quisesse gravar aquele toque na memória para sempre. Então fechou os olhos e inspirou o fundo, tentando reunir forças para o que estava por vir.
O velório foi realizado na grande sala da casa, onde os móveis antigos e pesados agora pareciam ainda mais sombrios sob a presença do caixão de madeira nobre.
Olívia observava tudo de um canto, próximo ao caixão. Ela estava lá, sentindo-se ainda parte daquele mundo, ainda incapaz de compreender o que lhe acontecia. Movia-se ao redor do caixão, observando cada rosto, sentindo cada lágrima derramada por ela.
O seu corpo estava coberto por rosas brancas, nas suas mãos, um terço e três rosas-amarelas. O seu rosto estava com uma leve maquiagem... um belo trabalho.
O seu pai, sentado ao lado do caixão, não se levantava da cadeira desde o instante em que o seu corpo chegou ali. Não saiu.Não adiantou oferecerem-lhe água ou qualquer outra coisa. Nada o tirava do seu lado, observando o rosto imóvel da filha, como se, ao manter-se perto, pudesse impedir que ela partisse de vez. O seu sofrimento estava além do que palavras poderiam descrever.
Ela podia ver os funcionários, um a um, vindo até o caixão e dar os pêsames ao patrão, inerte ali.
Eram sentimentos controversos o que Olívia sentia. Não existia dor, apenas uma certa agonia de ver o seu pai sofrendo...
Ela viu a movimentação na porta de entrada era o capataz, Paulo Ricardo, o seu "salvador".
Olívia passou a avaliá-lo.
Nunca poderia imaginar que aquele homem forte e bonito pudesse ter carinho por ela.
Eles foram criados juntos, ele, 9 anos mais velho que ela, sempre a protegia das suas tolises e curiosidades quando ainda usava fraldas. Quando a sua mãe faleceu , foi ele quem enxugava as suas lágrimas quando ela chorava escondida. Era ele quem lhe trazia o seu chocolate preferido...
Agora, ouvindo as conversas ao seu redor, Olívia soube que ele foi o primeiro a notar a sua ausência na festa de casamento. Foi ele quem a procurou a noite toda, sem descanso.
Se pudesse chorar, provavelmente o seu rosto estaria inundado. Jamais imaginou que se veria naquela situação, mas ela podia sentir o carinho de alguns funcionários, a dor do seu pai e a tristeza do capataz.
Ele ficou ao lado do caixão, em pé, com o seu chapéu nas mãos. Olívia podia ver nós dos seus dedos brancos, pela pressão que fazia do seu chapéu.
— Senhor? — a sua voz era um quase sussurro, diferente daquela voz de trovão que ela recordava.
— A minha menina foi-se...
A voz era de Gustavo Ribeiro era fraca, entrecortada por soluços, a dor era visível na voz do homem o que restava da sua família.
— Patrão... ela não ia gostar de ver o senhor chorando…
— Quem fez isso? Quem podia ter o coração tão ruim? Ela era um anjo…
Nesse momento todos os olhares foram para a escadaria, de onde o viúvo, Daniel Vasconcelos, descia de braços dados com Vânia. Os dois usavam óculos escuros, mesmo dentro da casa, como se os óculos escuros pudessem esconder as lágrimas. Mas Olívia sabia bem a verdade.
Olívia sentiu o seu espírito se agitar. A prima vestia preto e chorava, mas Olívia enxergava além da máscara. Sentia a falsidade em seu pesar. Daniel, agora viúvo antes mesmo da noite de núpcias, mantinha a expressão sombria, os olhos estavam secos.
Se pudesse, Olívia gritaria. Se pudesse, arrancaria aquela máscara de hipocrisia. Mas estava presa, assistindo a tudo sem poder intervir.
Seu pai, porém, não os olhou. Era como se não existissem. Para ele, nada mais importava além da filha que perdera.
As horas passaram, e o momento do enterro chegou. O caixão foi fechado e pela primeira vez, o seu pai moveu-se. Ele se inclinou sobre a tampa e tocou a madeira polida com os dedos calejados. Então, num gesto lento e silencioso, a cabeça, deixando que uma última lágrima escorresse pelo rosto.
Olívia sentiu algo mudar dentro dela. Uma força começou a puxá-la, uma sensação diferente, como se estivesse sendo arrancada daquele mundo aos poucos.
Tentou resistir, tentou ficar.
Não queria partir sem dizer algo ao pai. Mas não havia como lutar contra aquilo.
Quando jogaram a primeira pá de terra sobre o caixão, sentiu seu espírito ser puxado com mais intensidade. O mundo ao redor começou a ficar distante. As vozes se tornaram ecos distantes... a última coisa que viu foi a figura de seu pai de pé diante da cova aberta, tão firme quanto quebrado por dentro e ao seu lado, o capataz, Paulo Ricardo...
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Maria Oliveira Poranga
tánia que capítulo , eu tavo sentindo dor paii cm perda filha , como eu choreiii 😭😭😭😭😭😭
2025-04-19
1
Ana Geraldina
Eu deixei cair lágrimas nesse capítulo foi muito triste
2025-05-04
0
Léa Aparecida Ribeiro
Nossa Tânia que capítulo impressionante...de uma dimensão espiritual magnífica
2025-04-04
4