02— Surpresa

Olívia abriu os olhos, mas não sentiu o peso do próprio corpo. O frio da noite a envolvia de maneira diferente, como se não a tocasse de fato.

Ela estava ali, de pé, mas também caída no chão. O seu vestido de noiva antes branco, agora estava atingido de vermelho, sujo de terra e sangue. O seu rosto, palito, tinha os olhos arregalados para o vazio.

Tentou respirar, mas não havia ar.

Tentou falar, mas sua voz não passava de um eco dentro de si mesmo. O pavor instalou-se lentamente. Não sentia dor, não sentia o toque do vento ou o peso das lágrimas que não vinham. Apenas observava.

Estava morta.

A noite arrastou-se num silêncio macabro. O tempo parecia diferente, como se não fizesse sentido para ela. O som dos grilos, das folhas balançando ao vento e da festa ao longe, pareciam ocorrer em outra realidade, uma da qual ela já não parte. O tempo, se antes parecia arrastado, agora se tornava uma coisa abstrata.

Ela não sabia há quanto tempo estava ali, parada, olhando para o próprio corpo sem vida.

Ela foi assassinada. E uma mulher pagou pelo serviço…

O único nome que vinha na sua cabeça era o da prima… mas Olívia se negava a acreditar que Vânia chegaria a esse ponto, elas eram parentes…

E se ninguém viesse? E se ficasse ali para sempre? A ideia lhe causava um favor sem nome, algo que ressoava em sua essência maneira visceral.

Tentou novamente mover-se, gritar, tocar o seu próprio rosto inerte no chão.

Nada.

Era como se o mundo não a percebesse mais.

Então, os primeiros raios de sol romperam o céu escuro. O brilho dourado banhou a clareira ao lado do lago, revelando seu corpo inerte na relva úmida. Foi quando passos pesados ecoaram na trilha.

Paulo Ricardo, o capataz da fazenda, um homem de presença imponente, surgiu entre as árvores.

Seus cabelos escuros estavam desgrenhados pelo vento da manhã, a camisa semi aberta e manchada de suor. Ele procurava por algo, parecia que havia passado a noite toda procurando.

Ainda usava a mesma roupa do casamento, parecia cansado...

Seu olhar atento varreu o local até encontrar a cena a sua frente.

Ele parou bruscamente. O choque ou atingiu com uma pancada invisível.

— Não... — sua voz foi um sussurro quebrado.

Olívia observou, presa em sua forma etéra, enquanto Paulo Ricardo corria para seu corpo. Ele se ajoelhou, as mãos tremendo ao tocar o seu rosto frio. A respiração dele se tornou irregular, os olhos enchendo de lágrimas. Então, tem se importar com o sangue que não achava seu peito, ele a puxou para os seus braços fortes.

— Olívia... meu Deus...o que fizeram com você? – a sua voz se quebrou soluço escapando por entre os seus lábios.

Ele chorava...

Olívia nunca havia visto aquele homem derramaram uma lágrima. Sempre fora o pilar da Fazenda, o braço direito do seu pai, o homem que resolvia os problemas em hesitação. Mas agora, segurando seu corpo sem vida, ele se desmanchava em dor.

O tempo parecia se dobrar ao redor dela. O sol subia lentamente no horizonte, mas para Olívia, cada instante se arrastava em uma eternidade silenciosa.

O rosto de Paulo Ricardo estava pálido. As lágrimas escorriam por sua pele marcada pelo sol, os dedos firmes, mas trêmulos, seguravam o seu corpo sem vida numa delicadeza reverente.

Ele a balançava levemente, como se tentasse trazê-la de volta, como se negasse o que os seus olhos viam.

— O quê fizeram com você, minha menina.— sua voz era cheia de dor.

Seus dedos deslizaram seus cabelos, afastando uma mecha manchada de sangue da testa dela.

Ele não falava mais, apenas respirava pesadamente, perdido na brutalidade do momento.

Então, com um movimento hesitante, ele segurou a mão fria de Olívia entre as suas. O gesto era íntimo, mas não revelava nada além de desespero e incredulidade. Ele não aceitava. Não consegui aceitar.

Ela observava tudo como espectadora de um filme. Aquele grandalhão, sem sentimentos, frio... chorava por ela!

Olívia não podia se lembrar da fazenda sem o capataz, braço direito do seu pai. Ele sempre esteve presente nos momentos marcantes da sua vida, a morte da sua mãe, o seu primeiro dia de aula, seus aniversários, seu casamento...sua morte.

Só agora ela percebeu como ele sempre estava presente, como um guardião...

Olívia queria gritar para ele, queria dizer que estava ali, bem ao seu lado. Mas era inútil. Ela tentava tocar seu ombro, tentava agarrar suas próprias mãos pálidas que ele segurava. Nada acontecia. O desespero crescia dentro dela, um terror muito maior do que o da morte. Estava presa entre dois mundos, sem poder interagir, sem poder ser vista ou ouvida.

Paulo Ricardo finalmente ergueu o olhar, os olhos marejados de dor. Olhou ao redor como se buscasse um sinal, como se esperasse que tudo aquilo fosse um terrível engano. Seu peito subia e descia de fome irregular, os punhos cerrados, como se tentasse conter algo dentro de si.

Ele fechou os olhos por um instante e passou a mão pelo rosto, tentando recuperar a compostura. Mas o tremor os ombros denunciava a fragilidade momento. Ele sabia que precisava agir, eu não saber como.

O vento o frio sobre o lago, as folhas secas dançavam no chão ao redor deles o som distante da Fazenda, dos animais começando a despertar, contrastava com o silêncio sufocante daquela clareira. Era como se o mundo seguisse em frente, alheio ao que acontecera ali.

Então, como extrema delicadeza, ele ergueu o corpo sem vida de Olívia nos braços. O peso dela parecia não incomodá-lo, mas sim a ideia de que aquela era a última vez que a seguraria. Ele inspirou fundo, prendendo um soluço na garganta e começou a caminhar de volta para a sede da Fazenda.

Olívia foi arrastada junto com ele, como se estivesse presa a seu próprio corpo de alguma forma. Era como se o simples ato de ele segurá-la criasse um laço invisível entre eles, impedindo-a de se afastar.

E foi nesse momento, ao ve-lo levar o seu corpo de volta, Ao sentir o calor da manhã tocar sua essência, que algo dentro dela começou a mudar. Ao seu redor apareceu tribular, uma miragem sobre o sol. A realidade, antes sólida, por um breve momento, tornou-se fluida.

Uma sensação indescritível tomou conta do seu ser. Era como se uma força desconhecida estivesse tentando puxá-la para outro lugar...

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Comments

Verginia Celia

Verginia Celia

fiquei chocada coitada

2025-05-01

0

Léa Aparecida Ribeiro

Léa Aparecida Ribeiro

Que lindo capítulo Tânia

2025-04-04

1

Ver todos

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