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Os dias no vagão seguiam um ritmo lento e peculiar. A tensão inicial entre mim e Ji-hoon havia diminuído um pouco, substituída por uma estranha coexistência. Eu ainda sentia medo, claro, mas não era mais aquele terror constante do início. Havia algo em Ji-hoon... algo que me impedia de vê-lo apenas como uma ameaça.
Passei a observar a sua rotina com mais atenção. Ele acordava, pegava os seus recortes de notícias, olhava-os com uma intensidade silenciosa, e depois passava um tempo olhando pela janela do vagão, como se contemplasse o mundo lá fora. Ele nunca tentava sair, e parecia contente em permanecer naquele espaço confinado.
Um dia, decidi-me aproximar enquanto ele olhava os seus recortes. Sentei-me a uma distância segura e observei também. Eram fotos de pessoas sorrindo, de eventos felizes, de um mundo que parecia tão distante agora.
Cautelosamente, apontei para uma foto de um grupo de pessoas numa festa e disse a palavra "feliz". Ji-hoon olhou para a foto, depois para mim, e inclinou a cabeça. Ele então murmurou um som baixo. Não era a palavra exata, mas parecia uma tentativa de repetição.
Senti um pequeno triunfo. Talvez ele estivesse a aprender. Talvez houvesse mais ali do que eu imaginava.
Nos dias que se seguiram, comecei a tentar "ensinar" a ele outras palavras simples. "Comida," enquanto apontava para a barra de cereal que ainda me restava. "Água," enquanto mostrava a garrafa vazia. "Trem," enquanto gesticulava ao redor do vagão.
Ji-hoon nem sempre respondia, mas às vezes ele repetia os sons, com dificuldade, mas com uma clara intenção. Era como se uma pequena luz estivesse a começar a brilhar por trás dos seus olhos opacos.
Um dia, peguei um dos recortes que ele havia deixado cair. Era uma foto de um jovem sorrindo, com cabelos escuros e um rosto gentil. Apontei para a foto e perguntei, hesitante: "Você?"
Ji-hoon olhou para a foto, depois para mim, e ficou parado por um longo momento. Sua expressão não mudou, mas havia algo em seus olhos... uma tristeza? Uma nostalgia?
Então, ele levou a mão ao próprio peito e murmurou um som. Não era uma palavra clara, mas soava diferente dos seus outros grunhidos.
Era mais... pessoal.
Naquele momento, percebi que aqueles recortes não eram apenas coleções aleatórias. Eles eram lembranças. Fragmentos da vida que Ji-hoon havia perdido. E de alguma forma, ele estava a tentar se reconcertar com aquele passado.
Naquela noite, uma tempestade começou a rugir lá fora. Raios iluminavam o interior do vagão em ‘flashes’ brancos, e o vento uivava pelas frestas, trazendo consigo a fria umidade da chuva. Eu estava encolhido sob o cobertor, sentindo falta do calor de uma fogueira ou de um abrigo de verdade.
Ji-hoon estava sentado no seu canto, olhando fixamente para fora da janela, como se estivesse a observar a tempestade. Os relâmpagos refletiam nos seus olhos, dando-lhes um brilho momentâneo.
De repente, um trovão particularmente alto sacudiu o vagão. Assustei-me e dei um pequeno pulo. Ji-hoon virou a cabeça e olhou para mim. Pela primeira vez, sua expressão pareceu mudar. Havia algo ali que se assemelhava à preocupação.
Lentamente, ele levantou-se e caminhou até onde eu estava. Hesitei por um momento, esperando que ele se afastasse, mas ele apenas ficou parado ali, olhando para mim.
Então, ele fez algo inesperado. Ele sentou-se no chão, ao meu lado, mantendo uma pequena distância, mas ainda assim, perto. Era a primeira vez que ele se sentava tão perto de mim por vontade própria, sem ser para me levar para algum lugar.
O barulho da tempestade continuava, e a cada trovão, eu encolhia-me um pouco. Percebi que Ji-hoon estava observando as minhas reações. Em um dos ‘flashes’ de luz, vi que ele estava a olhar para minhas mãos, que tremiam levemente.
Lentamente, ele estendeu uma das suas mãos pálidas e a colocou sobre a minha. O toque era frio e estranho, mas não era ameaçador. Era... quase reconfortante.
Olhei-lhe, surpreso. Os seus olhos estavam fixos nos meus, e por um breve instante, senti haver algo ali. Uma conexão. Uma compreensão silenciosa do meu medo.
Permanecemos assim por um longo tempo, sentados lado a lado no escuro e barulhento vagão, a sua mão fria sobre a minha.
Não havia palavras, mas naquele momento, não eram necessárias. De alguma forma, naquele gesto simples, senti que Ji-hoon estava tentando-me proteger, não apenas dos outros zumbis, mas também do meu próprio medo.
E enquanto a tempestade rugia lá fora, uma nova sensação começou a surgir dentro de mim. Não era mais apenas medo ou curiosidade.
Era algo... mais quente. Algo que começava a se assemelhar à confiança. E talvez, apenas talvez, algo mais.
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Atualizado até capítulo 33
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