capítulo.3

Os dias no vagão de trem transformaram-se numa rotina estranha. Acordar com o sol entrando pelas frestas, observar Ji-hoon e os seus recortes, a fome constante, e a silenciosa tensão entre nós. Mas o medo inicial estava a começar a dar lugar a uma cautelosa observação.

Percebi que Ji-hoon tinha seus próprios padrões. Ele acordava, olhava suas notícias, às vezes caminhava pelo vagão, e à noite voltava para o seu canto. Ele nunca tentou me machucar. Na verdade, ele parecia... evitar o contato físico, a não ser quando me arrastou para cá.

Comecei a tentar-me comunicar mais ativamente. Apontava para objetos, repetia palavras simples como "água" e "comida", esperando alguma reação. Na maioria das vezes, ji-hoon apenas me observava com os seus olhos opacos. Mas às vezes, havia um leve inclinar de cabeça, um grunhido que parecia quase uma resposta.

Um dia, encontrei uma garrafa de água quase vazia numa mochila abandonada. Bebi avidamente e depois ofereci a garrafa para Ji-hoon. Ele olhou para a garrafa com confusão, depois para mim, e então apontou para outro zumbi inerte no canto. Era como se ele não entendesse o conceito de beber água.

Tentei mostrar-lhe, levando a garrafa à minha boca e bebendo um pouco. Ele observou atentamente e, depois de um momento, pegou a garrafa e a cheirou. Ele não bebeu, mas pareceu entender a minha intenção.

Outra vez, encontrei uma barra de cereal velha e ressecada. Ofereci-lhe, e ele pegou-a, olhando-lhe com a mesma confusão da água.

Ele até tentou cheirar, mas depois a deixou cair no chão. Parecia que a sua dieta era bem mais... específica.

Apesar da falta de comunicação verbal real, comecei a notar pequenas coisas. Se eu tossia, ji-hoon olhava-me com uma expressão que parecia preocupação.

Se eu estava a tremer de frio, ele se aproximava e ficava parado perto de mim, como se a sua presença pudesse-me aquecer de alguma forma.

Esses pequenos gestos, essas reações surtis, começaram a plantar uma semente de dúvida na minha mente. Ele era realmente apenas um monstro? Ou havia algo mais ali?

Um dia, encontrei um dos meus recortes de notícias caído no chão. Era uma foto de um grupo de amigos rindo juntos. Peguei o papel e o observei, sentindo uma pontada de saudade dos meus próprios amigos.

Ji-hoon, que estava por perto olhando a sua própria coleção, pareceu notar o meu interesse. Ele aproximou-se lentamente e olhou para a foto na minha mão. Os seus olhos opacos fixaram-se nos rostos sorridentes.

Por um momento, ficamos ali, lado a lado, olhando para aquela imagem de um mundo que não existia mais. Então, Ji-hoon estendeu a mão lentamente e tocou a foto com a ponta do dedo. Foi um toque leve, quase hesitante.

Depois, ele olhou para mim. Não havia palavras em seus olhos, mas havia algo ali. Uma... compreensão? Uma melancolia compartilhada?

No impulso, virei o recorte e mostrei-lhe. "Amigos," eu disse, apontando para as pessoas na foto. " os meus amigos."

Ji-hoon olhou para mim, depois para a foto, e então murmurou um som baixo, quase como se estivesse tentando repetir a palavra. Não saiu nada parecido, mas a intenção estava ali.

Naquele instante, senti uma conexão estranha com aquele zumbi. Ele não era apenas uma criatura faminta. Havia algo mais por trás daqueles olhos sem vida.

Mais tarde naquele dia, encontrei uma revista antiga com uma foto de um carro esportivo brilhante. Eu estava apenas olhando para a imagem, pensando em como seria dirigir um daqueles, quando Ji-hoon se aproximou novamente.

Ele olhou para a revista e, para minha surpresa, apontou para o carro e emitiu um som que soava quase como um assobio baixo.

Era como se ele estivesse se lembrando de algo. Algo da sua vida antes.

Naquela noite, enquanto eu tentava dormir, encolhido sob o cobertor, senti um peso extra perto dos meus pés. Abri os olhos e vi que Ji-hoon havia se deitado no chão, perto de mim.

Ele não estava me tocando, mas sua presença era... reconfortante? Estranhamente, sim.

Olhei para ele na escuridão. A sua silhueta pálida era visível sob a luz fraca da lua que entrava pelas frestas do vagão. Ele parecia... solitário.

Pela primeira vez, não senti apenas medo ao olhar para Ji-hoon. Senti uma ponta de... pena? E talvez, algo mais. Uma curiosidade crescente sobre o que se escondia por trás daquela fachada de zumbi.

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Comments

corvo

corvo

pq eu tô sentindo que futuramente vou chorar horrores

2025-04-05

1

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