Sob o Céu do Amanhecer
No Japão do futuro, onde os arranha-céus tocam nuvens pesadas e os sons das ruas são abafados pela constante vigilância dos drones, a liberdade se tornou uma lembrança distante. O regime totalitário conhecido como *A Ordem do Sol Eterno* governa com mãos de ferro, mantendo o povo sob uma vigilância implacável, onde cada movimento é monitorado e qualquer tentativa de rebelião é esmagada sem piedade. A sociedade é dividida em castas rígidas, e a individualidade é uma sombra esquecida.
Em meio a este cenário, Natsumi, uma jovem de 21 anos, vive em uma pequena periferia de Tóquio, onde os restos da antiga cidade ainda sussurram histórias de uma era perdida. Seus olhos, de um preto profundo, carregam a sabedoria adquirida por anos de medo e resistência, mas também uma chama de esperança que ainda arde, mesmo que fraca.
Natsumi é a irmã mais velha de quatro filhos. Ela cuida de seus três irmãos mais novos — Takeshi, Hiroshi e Yumi — com uma devoção silenciosa, assumindo o papel de mãe e protetora desde que os pais desapareceram misteriosamente, levados pelas forças do regime. No silêncio de sua casa, onde as paredes parecem sussurrar o peso da opressão, Natsumi luta para manter a unidade da família, mas também carrega em seu peito um dilema que a consome: *Até onde vale a pena lutar contra um inimigo tão imenso?*
Os tempos são difíceis. O regime se infiltra em cada aspecto da vida cotidiana, manipulando até os laços mais profundos de sangue, transformando a confiança em uma arma afiada e traiçoeira. O povo vive com medo, com os olhos sempre voltados para o céu, temendo a chegada dos caçadores do governo. Mas dentro de Natsumi, a chama da resistência, embora pequena, ainda não se apagou.
Ao olhar para os rostos inocentes de seus irmãos, ela sente uma responsabilidade que vai além do próprio peso do corpo. Takeshi, o mais velho entre os mais novos, ainda com 14 anos, é inteligente e observador, mas carrega um coração atormentado. Hiroshi, com 10 anos, possui um espírito curioso e rebelde, que desafia as normas do regime, algo que preocupa Natsumi constantemente. E Yumi, a caçula, com apenas 6 anos, tem a pureza de uma criança que ainda não entende a gravidade do mundo ao seu redor, mas que, de alguma forma, já sente a opressão no ar.
Natsumi começa a perceber que a segurança da sua família está cada vez mais ameaçada. Um pequeno erro pode levá-los à morte. Um olhar errado, uma palavra ouvida, até mesmo um sussurro no mercado pode ser o fim. Mas o que ela não sabe é que, por trás das máscaras do regime, existem segredos sombrios que podem mudar tudo o que ela conhece sobre o passado de sua família — e sobre si mesma.
Enquanto o regime continua sua busca implacável por dissidentes, Natsumi se vê forçada a tomar decisões que colocarão a vida de seus irmãos em risco. Mas, em meio ao caos, uma coisa é certa: ela fará qualquer coisa para proteger a família que ainda resta. No coração de Natsumi, uma única convicção surge com força avassaladora: *A união é a única coisa que ainda pode salvá-los.*
E, como as sombras da noite se alongam, a jovem mulher e seus irmãos começam a caminhar por um caminho sem retorno, onde cada passo pode ser o último, mas onde a esperança, mesmo que frágil, ainda pode acender um fogo capaz de iluminar a escuridão.
O vento frio da manhã cortava as ruas estreitas de Tóquio, arrastando consigo as folhas secas que caíam dos poucos arbustos que ainda se mantinham vivos nas calçadas. A cidade parecia congelada, como se o tempo tivesse sido forçado a parar, preso entre o medo e a obrigação. As ruas estavam vazias, exceto por algumas sombras que se moviam rapidamente, com olhos atentos para os drones que patrulhavam o céu.
Natsumi acordou cedo, como sempre. Não podia se dar ao luxo de perder tempo. A casa em que morava com seus irmãos era pequena, e o espaço escasso, mas, ao menos, era sua. Era tudo o que restava. A mesa da cozinha estava coberta de restos de comida da noite anterior. Não era muito, mas havia o suficiente para que seus irmãos tivessem o que comer.
Takeshi, o mais velho dos irmãos, estava sentado na beirada da janela, os olhos fixos nas ruas. Ele tinha uma inquietude que Natsumi começava a temer. A inquietude de quem já viu o sistema de dentro e o reconhece por suas cicatrizes. Aos 14 anos, Takeshi já entendia o regime de forma profunda e dolorosa, mais do que qualquer jovem deveria. Sua alma havia sido marcada pela brutalidade do governo. Mas, ao contrário de Natsumi, Takeshi não acreditava mais na resistência. Para ele, lutar contra a opressão era como tentar parar uma avalanche com as mãos. Em seus olhos havia uma sombra que Natsumi não sabia lidar — uma sombra de desespero.
“Eles estão chegando, Natsumi,” ele disse, sem se virar. Sua voz era baixa, quase como se fosse uma confissão. “Os caçadores do Sol Eterno. Eu vi os drones ontem à noite, e não foi um voo comum. Eles estão cada vez mais perto.”
Natsumi sentiu um peso se formar no peito. Ela sabia que o regime estava cada vez mais agressivo, mas ouvir de Takeshi, com a frieza de quem sabia o que vinha, fez seu estômago virar. “Vamos ficar escondidos. Como sempre fazemos,” ela disse, tentando manter a calma, mas sua voz estava carregada de preocupação. Takeshi não respondeu. Ele só olhou para as ruas, com a expressão de quem já não tinha mais esperança.
Yumi apareceu então, com os cabelos bagunçados e o olhar sonolento. Ela sorriu, despreocupada, sem saber que a tensão estava tão palpável. “Natsumi, você viu a borboleta no jardim ontem? Era tão grande, parecia uma flor!”
Natsumi sorriu para a irmã mais nova, mas a dor em seu coração cresceu. Yumi ainda via o mundo com os olhos puros de uma criança, sem entender os horrores que os cercavam. Era uma bênção e uma maldição. Uma bênção porque ela ainda trazia luz àquela casa sombria; uma maldição porque, se o regime a encontrasse, ela não seria poupada.
"Sim, Yumi, eu vi. Era uma borboleta muito bonita." Natsumi respondeu, tentando esconder a tristeza. "Mas agora, vá se arrumar, está na hora de irmos ao mercado. Precisamos estar rápidos, você sabe como é."
Hiroshi apareceu em seguida, com sua habitual energia vibrante, uma chama de irreverência que desafiava o peso da realidade. “Eu aposto que consigo correr mais rápido que qualquer drone!” ele declarou, dando risada enquanto pegava uma velha bola de futebol rasgada. Natsumi sorriu para ele, mas a preocupação não a deixava. Hiroshi tinha apenas 10 anos, mas já demonstrava sinais de um espírito rebelde. Seu desejo de desafiar a ordem estabelecida era algo que Natsumi admirava e temia ao mesmo tempo. No mundo em que viviam, até mesmo a menor das rebeliões poderia ser fatal.
“Vamos, Hiroshi, você sabe que não podemos chamar atenção. Estamos apenas indo ao mercado. Nada de correr hoje, entendeu?” Natsumi tentou ser firme, mas ele a ignorou, correndo para fora, rindo.
A jornada até o mercado foi rápida e silenciosa. A cada esquina, Natsumi sentia a pressão aumentando, como se o ar estivesse mais denso. Os olhos dela rastreavam tudo: os rostos das pessoas, sempre encobertos pela máscara da conformidade; as ruas, cobertas de propaganda do regime; os drones que passavam silenciosamente pelo céu, como aves de rapina em busca de presas.
Enquanto pegava alguns itens, Natsumi sentiu a tensão crescendo. Algo não estava certo. Quando voltou para a esquina, Takeshi a esperava, com os olhos fixos em um ponto à distância. Ela seguiu o olhar dele e viu um carro militar se aproximando — um veículo preto, com símbolos do regime estampados na lateral. O coração de Natsumi disparou. Ela sabia que o regime não se contentaria em apenas monitorar. Eles estavam começando a caçar.
Aos poucos, ela conduziu os irmãos pelas ruas vazias, evitando olhares e mantendo-se escondida nas sombras. Mas, naquele momento, uma sensação gelada percorreu sua espinha: *Será que seria possível escapar mais uma vez?*
Ela sabia que, em breve, teria que tomar decisões mais difíceis. O regime estava mais perto de destruir o que restava da sua família. Mas Natsumi também sabia de algo que Takeshi não entendia: *Unidos, mesmo no caos, ainda eram mais fortes que qualquer força externa.*
E, com isso, um plano começou a se formar em sua mente, um plano que os levaria ao limite, mas também ao possível caminho da liberdade. Porém, à medida que os passos de seus irmãos se tornavam mais silenciosos, ela sabia que um segredo sobre o passado de sua família logo viria à tona — e ele poderia ser a chave para mudar tudo.
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Atualizado até capítulo 60
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