Novo Normal
O despertador tocou, espalhando seu som irritante pelo quarto bagunçado. Um braço surgiu debaixo das cobertas, tateando até encontrar o botão de soneca.
Mark
Mais cinco minutos...
Mark resmungou, afundando o rosto no travesseiro.
Cinco minutos viraram dez. Dez viraram quinze. Quando abriu os olhos…
Vestiu-se às pressas, pegando um moletom verde e um jeans qualquer.
Cabelo? Um caos. Sem tempo pra isso.
Pegou a mochila, desceu as escadas, pulando os últimos degraus.
Mark
Vejo vocês mais tarde!
Seus pais responderam algo.
Ele já estava fora de casa.
Os corredores estavam lotados.
Mark caminhava tranquilamente, desviando dos alunos apressados.
No fim do corredor... uma sala escura.
Ele forçou a vista, tentando enxergar melhor.
UM MONSTRO APARECEU DO NADA!
Tinha quase dois metros e meio de altura, cabelos longos que caíam até os pés e pele acinzentada, quase sem cor. Não vestia nada, mas também não parecia ter um corpo humano propriamente dito. Era como uma sombra que decidiu ganhar forma.
O silêncio durou três segundos.
Então ele soltou uma risada nervosa.
Mark
Haha… Beleza, Barry. Dessa vez você me pegou.
Ele olhou para os lados. Como sempre, ninguém mais parecia notar aquele gigante bizarro no meio do corredor.
Mark passou a manhã "estudando" — ou fingindo que estudava, o que, para ele, era praticamente a mesma coisa. No intervalo, como sempre, foi para a quadra jogar vôlei com os amigos.
A bola veio num arco perfeito.
Ele saltou.
Atrás do jogador adversário…
Uma criatura enorme imitava seus movimentos.
O choque fez ele travar no ar.
E cair.
De cara no chão.
Os amigos racharam de rir.
Nathan
Que foi isso, Mark?! Foi pra isso que eu te fiz o passe?
Mark
Cala a boca! Eu só… pulei errado.
Ainda sentado, olhou de novo. O monstro continuava lá, copiando exatamente os movimentos do garoto em pé na sua frente.
Mark
Só mais um dia normal…
Mark sentiu um toque no ombro.
José
Mano, preciso de ajuda com a prova de amanhã.
Mark
Minha estratégia é simples.
Mark
Reze pra passar no chute.
Mark
Ajuda sim. Você já tentou de verdade? Com fé mesmo?
O colega suspirou e foi embora.
Virou-se para entrar na sala—
BUM!
Trombou com alguém.
Era uma garota.
Ela parecia nervosa.
Ela tinha um olhar assustado e parecia nervosa.
Mark franziu a testa e olhou na direção em que ela estava olhando.
Uma cobra gigante rastejava silenciosamente pelo chão, seguindo a garota.
Mark
(Ela... será que ela pode ver?)
A ideia parecia absurda. Desde que se lembrava, ele era o único que via essas coisas.
Mas algo no olhar assustado da garota dizia que talvez... só talvez... isso estivesse prestes a mudar.
[Mais tarde, voltando pra casa]
Mark caminhava, pensamentos aleatórios na cabeça.
Mark
(Como arranjar um emprego se sou preguiçoso e quero dinheiro fácil?)
A alguns metros dali…
A mesma garota corria desesperada.
Cabelos desgrenhados.
Expressão de puro pavor.
Mark
Não… só pode ser brincadeira.
Mark
Por favor, que ela esteja correndo de... sei lá, um cachorro com raiva, um serial killer... Qualquer coisa, menos de um demônio!
Mas o destino não colaborou.
Seus olhos se moveram…
E lá estava ela.
Escamas reluzindo sob a luz fraca dos postes.
Deslizava como uma sombra viva.
Derrubando lixeiras.
Avançando rápido.
Mark começou a correr atrás da garota.
Ela tropeçou em uma lixeira, derrubando-a no chão. Ao perceber que a cobra estava cada vez mais perto, soltou outro grito:
Ayla
EU NÃO QUERO MORRER HOJE!
Mark corria atrás, tentando acompanhar o ritmo.
Mark
Ei! Para de correr em círculos!
Ayla
NÃO VAI AJUDAR VOCÊ ME DIZENDO O QUE FAZER!
A cobra, por sua vez, parecia brincar com ela. O movimento fluido de seu corpo a permitia se aproximar e recuar, como se quisesse saborear o medo da garota.
Mark virou uma esquina e quase colidiu com Ayla, que havia parado no meio da rua por um segundo.
Mark
O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO PARADA?!
Ayla
SE GRITAR VAI FAZER ESSA COISA PARAR!
Mark
Ah, claro. Pede pra ela por favor. Talvez funcione!
Nesse momento, a cobra ergueu sua cabeça imensa e atacou, o movimento rápido como um chicote. Ayla deu um grito tão alto que o som ecoou pelo bairro.
Ela se jogou no chão, rolando para o lado.
A cobra passou por cima dela, atingindo um poste e arrancando a luz com o impacto. Mark aproveitou a confusão para se aproximar.
Ayla levantou, tremendo, e começou a correr novamente.
Ayla
SOCORRO, SOCORRO, SOCORRO!
Eles entraram em um beco estreito, as paredes cobertas de grafites e o chão molhado de alguma substância suspeita. Mark percebeu tarde demais o que estava acontecendo.
Ayla bateu contra o muro no final do beco e caiu de costas no chão.
Ela olhou ao redor, ofegante, percebendo que não havia saída.
Murmurou, puxando os joelhos para o peito.
Mark chegou atrás dela, as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.
Mark
Não... não vai... morrer... ainda.
A cobra deslizou lentamente para dentro do beco, bloqueando a saída. Ela se ergueu, revelando sua altura monstruosa, a mandíbula se abrindo para revelar presas que pareciam feitas para triturar ossos.
Mark deu um passo à frente, engolindo seco.
Ayla olhou para ele, incrédula.
Ayla
VOCÊ TÁ FALANDO COM ELA?!
Mark
O que mais eu posso fazer?!
Mark, no reflexo, colocou o braço à frente e fechou os olhos.
O beco ficou em silêncio.
Ayla espiou por entre os dedos e viu a cobra parada a poucos centímetros de Mark, o focinho quase tocando sua mão.
Mark abriu os olhos lentamente, confuso.
Mas sua vitória foi curta.
A cobra desviou dele como se ele fosse uma pedra no caminho e voltou a focar na garota.
Ayla
É CLARO QUE NÃO FUNCIONOU!
De repente, algo dentro dela mudou. Sua respiração desacelerou, e seus olhos começaram a brilhar com uma intensidade que fez a cobra hesitar.
Ayla levantou as mãos instintivamente, e um clarão surgiu em suas palmas.
Mark se jogou para o lado, protegendo os olhos da luz ofuscante.
Mark
O que tá acontecendo agora?!
A cobra rugiu, um som gutural e ensurdecedor, enquanto a luz crescia. A criatura começou a se desintegrar, pedaço por pedaço, evaporando no ar como poeira ao vento.
Quando tudo acabou, o beco voltou a ficar em silêncio.
Mark levantou a cabeça, ainda piscando para ajustar os olhos.
Ayla estava de pé, os braços caídos ao lado do corpo, a respiração pesada.
Mark
Você... você acabou de explodir uma cobra gigante... com luz.
Ela olhou para ele, ainda trêmula.
Mark ficou quieto por um momento, olhando para o local onde a cobra havia desaparecido.
Mark
Bom... pelo menos agora você sabe o que acontece quando grita o suficiente.
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