02

Serena nunca foi uma pessoa de acreditar em milagres. Cresceu em um mundo onde a lógica e a razão governavam suas decisões, e a ideia de algo além do tangível sempre parecia distante, até naquele momento. Quando viu sua mãe deitada naquela cama de hospital, completamente irreconhecível, com os olhos fechados e a respiração difícil, o chão sob seus pés simplesmente desapareceu. A mulher que sempre a havia sustentado, que sempre foi o seu porto seguro, agora estava frágil e dependente, sem sequer poder reagir à dor que sentia.

Serena respirou fundo, sentindo as lágrimas escorrendo, mas não permitindo que caíssem completamente. A dor era tamanha que ela sentiu como se sua própria vida tivesse se quebrado em mil pedaços. Ela olhou para sua mãe, com os tubos e os fios conectados a ela, e percebeu que nada mais tinha sentido. As metas que ela havia estabelecido na faculdade, o diploma que tinha acabado de conquistar com tanto esforço… tudo parecia pequeno demais diante daquela realidade.

Serena nunca imaginou que tomaria decisões como essa, mas, naquele instante, sua prioridade era outra. Nada importava além de salvar sua mãe. Ela sabia que o que mais a temia estava acontecendo: sua vida estava saindo do eixo, mas ela não tinha escolha. Abandonar a faculdade nunca foi algo que ela imaginou, mas não foi isso que aconteceu. Serena já estava formada. E ao olhar para o seu diploma, algo lhe dizia que, por mais que estivesse tecnicamente qualificada, a vida da sua mãe era mais urgente. Ela não podia ficar com um pé em dois mundos.

“Eu vou fazer isso sozinha, se precisar,” pensou Serena, secando as lágrimas com a mão.

Ela se mudou para um bairro mais afastado, onde o custo de vida era mais acessível. Vendeu quase tudo o que tinha para bancar a mudança e os custos extras. Melanie, sua amiga fiel, esteve ao seu lado em tudo. A ajuda de Melanie foi um alicerce, mas Serena ainda sentia a solidão engolindo-a aos poucos. Não viu Peter desde a formatura, e embora sua mente tentasse se afastar dele, a saudade e a dor no peito nunca foram fáceis de ignorar. Cada olhar para o seu pulso, onde a pulseira que Peter lhe dera ainda estava, fazia com que sua garganta apertasse e sua alma se partisse um pouco mais.

Melanie entrou na sala com um sorriso forçado, tentando disfarçar a tristeza nos olhos da amiga.

Melanie entrou na sala carregando duas caixas e um sorriso forçado.

— Tudo pronto, fofa. Casa nova, vida nova…

Serena soltou um suspiro cansado, deixando-se afundar no sofá. Sentia cada músculo do seu corpo pesado, como se todo o estresse dos últimos meses estivesse cobrando seu preço. Ela olhou para a janela, observando a rua desconhecida, a sensação de recomeço esmagando seu peito.

— Amanhã eu preciso procurar um emprego — murmurou, sem muita emoção.

Melanie sentou-se ao lado dela, pegando sua mão de forma reconfortante.

— Já ouviu falar das empresas Hall’s?

Serena desviou o olhar para a amiga, franzindo a testa.

— Claro. Uma das empresas que patrocinava eventos na nossa ex-escola. O que tem?

Melanie hesitou por um segundo, escolhendo as palavras com cuidado.

— Meu pai conseguiu algo pra você. Fiz algumas ligações. Ele falou com o dono da empresa e… bom, eles estão precisando de uma secretária.

Serena piscou algumas vezes, surpresa.

— Secretária?

— Sim. O dono é amigo do meu pai. Seu currículo é bom, e com a indicação dele, você já tem um pé lá.

Serena ficou em silêncio por um momento. Trabalhar como secretária nunca tinha passado pela sua cabeça, mas naquele momento, nada mais parecia fazer sentido. Ela só precisava de dinheiro.

— Eu posso tentar, Mel… Qualquer coisa que me ajude agora já vale.

Melanie relaxou um pouco, aliviada por não precisar insistir.

— Eu sei que não era o que você imaginava depois de se formar, mas pode ser temporário. Você ainda vai estar ganhando experiência, conhecendo gente… E o mais importante: vai poder cuidar da sua mãe sem tanta preocupação financeira.

Serena respirou fundo. Não era o que tinha planejado para si, mas também não era hora de orgulho. Ela faria o que fosse necessário.

— Eu vou tentar — disse, finalmente. — Obrigada por isso, de verdade.

Claro! Aqui está a versão revisada com o diálogo que você pediu:

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Melanie sorriu e apertou a mão de Serena, mas havia algo nos seus olhos que não passava despercebido. Um brilho sutil, como se estivesse carregando um segredo que não queria dividir.

— Você não está sozinha, Serena. A gente vai passar por isso juntas.

Serena assentiu, mas o peso da solidão ainda estava lá, imenso e silencioso, como uma sombra que a acompanhava. Ela sabia que Melanie tentava confortá-la, mas havia algo na maneira como ela falava, uma tensão nas palavras, que a deixava com a sensação de que algo estava sendo escondido.

Ela fechou os olhos por um momento, sentindo o peso das palavras. Sabia que Melanie estava certa, mas não podia ignorar a sensação de que não era inteiramente honesta com ela. Mesmo assim, Serena não tinha tempo para questionar. A responsabilidade sobre sua mãe era mais urgente.

— Obrigada, Melanie… — ela disse baixinho, a exaustão marcada em sua voz. Se levantou e a abraçou. — Vou tentar, ok? Só… me ajuda. Não sei se vou dar conta disso tudo sozinha.

Melanie acariciou o rosto de Serena, mas o toque parecia mais mecânico do que afetuoso, como se ela estivesse segurando algo dentro de si. A forma como a abraçou, apertando-a com um pouco mais de força do que o habitual, parecia uma tentativa de transmitir alguma coisa. Mas o que exatamente? Serena não sabia.

— Eu sempre vou estar aqui, para o que você precisar. — Melanie a abraçou de volta, e o gesto foi firme, mas havia uma frieza em sua postura. Como se estivesse se afastando de algo mais profundo.

Serena observou sua amiga se afastar e, embora se sentisse um pouco mais aliviada pela ajuda de Melanie, uma sensação de desconforto a envolveu. A solidão não a abandonava. A casa nova, o bairro diferente, a ausência de tudo o que conhecia… Ela estava começando de novo, mas não sabia se conseguiria aguentar. O que mais desejava era que sua mãe estivesse ao seu lado, dizendo que tudo ficaria bem. Mas, por enquanto, teria que lidar com o que a vida lhe reservava.

Ela olhou para o celular, esperando por algo de Peter. Nada. A sensação de abandono se fez mais presente, como uma faca fria no peito.

— Melanie… — Serena hesitou, a dúvida pesando em suas palavras. — Você... você sabe de alguma coisa sobre Peter? Ele… não tem me procurado. Não sei o que aconteceu com ele.

Melanie ficou em silêncio por um instante, o olhar distante. Havia algo em seu rosto, uma leve tensão que Serena não conseguia ignorar.

— Não sei, Serena. Ele deve estar ocupado com… outras coisas. — Melanie evitou o contato visual, mexendo nas mãos, como se tentasse esconder alguma coisa. — Mas você precisa seguir em frente, não podemos ficar esperando. Há tantas coisas para fazer, e você tem que estar focada agora.

Serena franziu a testa, sentindo um calafrio na espinha. Algo estava errado. Melanie estava escondendo algo, talvez até mais do que ela estava disposta a admitir. Mas, ao invés de continuar pressionando, Serena se sentiu cansada demais para perguntar mais.

— Eu sei… — Ela disse baixinho, sem mais palavras. — Eu só… queria entender.

Melanie a olhou rapidamente, como se quisesse dizer algo, mas acabou se calando. Ela respirou fundo e, com um sorriso forçado, disse:

— Eu preciso ir agora, mas não se esqueça, qualquer coisa, me chama. Estou por aqui.

Serena assistiu Melanie se afastar, uma sensação de vazio crescendo dentro dela. Ela ainda não entendia tudo, mas sabia que havia algo a mais que sua amiga não estava contando. E, por mais que tentasse se concentrar nas responsabilidades diante de si, a dúvida e a sensação de abandono continuavam a consumi-la.

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