CAPÍTULO 4

Perspectiva: Vanessa

Vanessa chorou muito quando era menina. Chorava até soluçar, até que o ar fugia do peito pequeno e doía. Ela não entendia por que tudo o que fazia era errado, por que cada gesto era insuficiente. Por que nada nela bastava. Tentava tanto agradar. Tentava ser boa. Mas, por alguma razão cruel, ser ela nunca foi suficiente.

Tudo era dado a Ana — amor, orgulho, atenção — enquanto para Vanessa não sobrava sequer uma chance. Um olhar. Um reconhecimento. Um você fez bem. Só silêncio. Só ausência. Ela parou de chorar no dia em que percebeu que isso só piorava tudo. Lágrimas eram mais uma falha. Mais uma prova de que havia algo quebrado nela. Desde então, recusou-se a derramar sequer uma gota.

As pessoas podiam feri-la, sim. Mas não precisavam saber. Elas não mereciam esse tipo de poder.

Mas naquela noite… ela queria chorar. Queria tanto. Estava sozinha, na entrada de um jardim belíssimo, coberto, tipo uma estufa — um jardim onde não florescia consolo. A sete horas de um casamento sem amor. A sete horas de ser entregue a um destino que não escolheu. E não havia ninguém. Ninguém para segurar sua mão, dizer que tudo ficaria bem, garantir que suas últimas horas livres fossem em paz.

Ela se perguntava, pela milésima vez: seria uma pessoa tão terrível?

Mas quando olhava para trás… não havia nenhuma lembrança que a destacasse. Nada que dissesse: aqui está Vanessa. Apenas uma existência silenciosa, ofuscada por Ana. Apenas um rosto em meio a mil. Ela não era terrível. Só era… esquecível. E quem se importava com o que era fácil esquecer?

Ainda assim, no fundo, desejava… algo. Alguém.

Ela afastou esse pensamento tolo. Esperança era um luxo. E luxos, como todo o resto, não eram para ela.

Vanessa se adentrou no Jardim do Castelo, escolhendo o terceiro caminho até o centro — o que havia memorizado mais cedo naquela manhã. A escuridão dificultava a visão, mas sua memória e a luz pálida da lua bastavam. Deixando os pés a guiarem, ela se refugiou em um devaneio favorito: a versão de uma vida que nunca teria.

Vanessa entrando no escritório do marido. A aliança brilhando discretamente em sua mão. Os dois exaustos, mas felizes por estarem em casa. O marido deixando a papelada de lado para beijá-la, um beijo longo demais para ser casual, aquecido por promessas silenciosas. Rindo juntos ao perceber que um beijo nunca seria o suficiente.

Ela afastou o devaneio com força. A dor era insuportável. Fantasiar sobre o impossível não lhe traria nada — só tornava a queda mais cruel. Apenas algumas horas. Talvez na próxima vida ela conseguisse ser melhor. Talvez.

Pensou em Ana. Onde estaria? Por um instante, esperou que algo horrível estivesse acontecendo com a miserável egoísta. Ela merecia. Merecia tanto—

Foi então que alguém a agarrou.

Vanessa gritou, mas o som morreu em sua garganta no instante em que foi empurrada contra a parede de pedra do jardim. O impacto foi frio, duro, real. Tudo ao redor era breu. A luz da lua não tocava o recanto onde haviam se escondido. Onde ele a mantinha presa.

—O que você está fazendo? —ela sussurrou, a voz tremendo apesar do tom controlado.

O homem riu. Um som rouco, profundo, que percorreu sua espinha como um arrepio escuro. Como algo proibido. Vanessa já havia sido empurrada antes. Mas nunca se sentiu assim.

—Normalmente, —disse ele, —as pessoas perguntam ‘Quem é você?’ ou ‘Como ousa?’. Você só perguntou o que estou fazendo. Curioso.

—Duvido que minha identidade vá mudar o que está acontecendo. —Seu coração martelava no peito, frenético, mas algo nele, algo primal, lhe dizia que ele não pretendia feri-la. Não fisicamente, ao menos.

—Quanto à sua… se quisesse se apresentar, teria dito seu nome, não me agarrado e me jogado contra uma parede. Você costuma fazer isso com desconhecidas?

—Depende, —respondeu ele com um sorriso na voz. —Mulheres ameaçadoras, talvez. Mas você… não. Mulheres como você são raras.

—Como eu? —ela sussurrou. —O que exatamente você quer dizer com isso?

Silêncio. Denso. Tenso. Palavras tinham garras, mas silêncios… silêncios podiam sangrar.

Então ele disse, por fim:

—Eu ouvi você. E vossa alteza. Naveen, para ser exato.

Vanessa estremeceu. Seu rosto ardeu. Que os deuses a poupassem… ele tinha ouvido. Ouvido sua humilhação. A rejeição. A certeza de que, aos olhos do príncipe, ela não valia nem o esforço de um adeus digno.

—Você devia estar aliviada, borboletinha, —disse ele, e seu tom a atravessou como uma lâmina.

Ela era uma pequena duquesa. Mesmo que por apenas algumas horas. Um lampejo de orgulho acendeu-se em seu peito. Poucas tinham o sangue do deus da luz. Poucas podiam sequer sonhar com esse título. Ela poderia se casar amanhã, poderia ser apenas uma substituta fraca e indigna, mas por essas horas… ela era alguém. Ela era uma pequena duquesa. Ninguém poderia tirar isso dela.

—Aliviada? —ela repetiu.

—Seu noivo provou ser um covarde. E nenhuma mulher deveria se casar com um covarde.

—Ele não é… covarde. —Sua voz era baixa, mas firme. —Não é isso.

O homem riu novamente. Aquela risada rouca que a fazia sentir demais.

—Você, borboletinha, pode ser muitas coisas. Mas covardia não é uma delas. Eu vi você na sala do trono. Eu ouço você agora. Há fogo em você. Mesmo que tentem apagá-lo.

Vanessa queria saber o que ele vira. Se ele a via. Mas o medo da resposta a silenciou.

—Você ainda não explicou por que está me prendendo contra uma parede, —ela sussurrou, mas sua voz já não era de acusação. Era de algo mais perigoso. Algo entre fascínio e rendição.

Ele se aproximou, a voz mais baixa, mais áspera.

—Acredito que há um último pedido que precisa ser atendido, borboletinha.

E antes que ela pudesse compreender, antes que pudesse se proteger…

Sua boca foi tomada.

E com ela, tudo o que Vanessa pensava ser verdade sobre si mesma começou a desmoronar.

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