CAPÍTULO 3

Perspectiva: Vanessa

—Você é uma tola! —disparou sua mãe assim que as portas se fecharam, com os criados já longe demais para ouvir. A voz, usualmente controlada, soou como veneno quente: corrosiva, elegante, mas — para surpresa de Vanessa — embargada.

Os olhos de Lady Agrece, arregalados e duros, brilhavam com algo mais que raiva. Era medo. Era desespero. Era o horror de ver o mundo cuidadosamente construído ruir diante dela.

Vanessa não se encolheu. Não desta vez.

Normalmente, engoliria cada palavra, cada ofensa, apenas para preservar a paz doentia da família. Mas agora restavam-lhe apenas oito horas de liberdade. Oito horas antes de ser transformada, ofertada, condenada. O que importava a fúria da mãe agora?

—Ana é uma idiota — disse ela, a voz cortante como gelo. —Farei o meu melhor para ser uma duquesa digna. Mas se eu não tivesse me oferecido, todos nós estaríamos mortos.

Lady Agrece recuou meio passo, como se as palavras tivessem sido um tapa. Os lábios trêmulos, porém firmes.

—Você acha que eu não sei disso? — sussurrou. —Você acha que não vi... o medo nos olhos do Duque Eckart? A frieza dos guardas? Estamos sendo cercados, Vanessa. Essa aliança era nossa única proteção.

Ela passou a mão pelos cabelos impecavelmente presos, um gesto de nervosismo mal disfarçado. Por um instante, deixou cair a máscara — e Vanessa viu sua mãe, não como a mulher impassível que regia a casa com punho de ferro, mas como uma mãe desesperada.

—Eu tentei. Deus sabe que eu tentei proteger vocês duas. Fiz o que pude. Mas vocês são tão teimosas... tão cegas! — Sua voz falhou por um segundo. — Você acha que eu não daria minha vida para impedir isso? Eu daria, se isso bastasse.

O pai de Vanessa, Lorde Agrece, que até então permanecera uma sombra ao lado da esposa, levantou os olhos com cansaço. Havia mais do que frieza ali — havia tristeza. Uma culpa que envelhecia os traços já marcados.

Ele hesitou antes de falar. E quando falou, foi sem a armadura da autoridade, mas com a vulnerabilidade de um pai falho:

—Quer você viva ou não... estamos arruinados. — A voz saiu como um sussurro. —Sua irmã nos traiu. E você… você é o nosso sacrifício.

Mas havia uma hesitação. Um breve estremecer na voz dele que Vanessa nunca ouvira antes.

—A aliança está perdida. Teremos que devolver todo o dinheiro do noivado. E você sabe o quanto precisamos dele. Mas... —ele respirou fundo, os olhos escurecendo— ...mas, ainda assim, você não devia ter se oferecido. Não... assim. Você é nossa filha, Vanessa. Você é minha filha.

Foi essa frase, dita com atraso e arrependimento, que quebrou algo dentro dela. A confissão que sempre quisera ouvir — mas tarde demais, fria demais.

Vanessa sentiu o gosto amargo da decepção familiar — um sabor conhecido desde a infância —, mas não se curvou.

—Acusem Ana. Ela correu. Eu fiquei. Pelo menos agora vocês terão alguém para odiar... até o fim.

Virou-se sem olhar para trás, recusando-se a dar a eles o último vislumbre da filha obediente. Aquela garota havia morrido no momento em que aceitou o cálice.

---

A noite caiu com a delicadeza cruel de um véu de luto. A neve descia suave, silenciosa, vestindo o mundo de branco — um manto puro sobre os destroços de uma alma em guerra. O frio penetrava o tecido do vestido, alcançando sua pele, seus ossos... mas ela o merecia.

Passou pelos corredores do castelo com passos firmes, ignorando os olhares sussurrantes das donzelas, os arquejos discretos dos guardas. Era como se o próprio tempo desacelerasse à sua passagem.

Chegou ao labirinto.

Aquele santuário de pedra escura e musgo úmido era o único lugar que ainda sentia como seu. As paredes pulsavam à luz das tochas, como se o próprio jardim respirasse — lento, ancestral, ciente do que estava prestes a acontecer.

Ela parou diante da placa de entrada e passou os dedos sobre as palavras gravadas:

“A única maneira de se encontrar é se perder.”

—A única maneira de se encontrar é se perder — murmurou, como um voto silencioso, como um feitiço de despedida.

E então ouviu.

—Lady Vanessa?

A voz atingiu-a como uma lâmina envolta em veludo.

Ela se virou.

Naveen.

O príncipe herdeiro era sempre uma visão: os cabelos negros como tinta molhada, o semblante severo de quem carrega reinos nos ombros. Mas havia algo diferente em seus olhos naquela noite. Algo sombrio. Eterno.

—Príncipe herdeiro — ela disse, recolhendo-se com um meio sorriso, polido, tremeluzente — que surpresa... Eu não esperava falar com você esta noite.

Ela se aproximou, oferecendo a mão com a graça de uma mulher treinada para morrer com dignidade.

—Lamento o escândalo. Espero que possa nos perdoar.

Ele apenas roçou a bochecha dela com os lábios, frio, cerimonial. Sem alma.

O estômago de Vanessa afundou.

—É uma pena que tenha chegado a esse ponto — ele disse, com uma pressa calculada.

Ela ergueu o queixo.

—Ainda não acabou. Talvez eu passe a amá-lo. Talvez eu desafie o deus da luz. Ou talvez não. Mas ninguém parece acreditar que eu seja capaz.

Ele a encarou. E por um breve momento... havia algo ali. Não pena. Não compaixão. Algo mais escuro. Mais... perigoso.

—Sobre o casamento... — ela começou, hesitante. O pedido queimava. Era impróprio. Quase indecente. Mas... o que ela tinha a perder?

—Eu queria te pedir algo. Um favor. Um último desejo.

Ele não respondeu, apenas esperou.

—Estou a poucas horas de perder a minha liberdade. E... eu não queria ir sem eu escolher com quem deveria perder a minha virgindade. —Ela desviou os olhos, envergonhada. —Eu me perguntei se eu poderia escolher vossa alteza Naveen para passar uma noite comigo. Só uma noite. Para que eu saiba como é... antes de tudo começar.

O silêncio que se seguiu foi como um túmulo aberto.

E então ele recuou. Um passo apenas. Mas foi como um abismo se abrindo.

—Não acho que seja uma boa ideia — disse ele. A voz dele era calma. Demasiado calma. Fria como pedra.

Ela piscou, atordoada. A humilhação subindo como veneno na garganta.

—O quê? —sussurrou. —Você... não quer? Mas... você não falou que gostava de mim? Nem um toque de pele antes que tudo acabe?

Deu um passo à frente, sem perceber. Os olhos dela suplicavam. Mas ele permaneceu imóvel. Inatingível.

—É um casamento de negócios, Lady Vanessa, você deve permanecer pura — ele declarou. As palavras soaram como uma sentença. —Sinto muito. Boa sorte amanhã.

E então ele se inclinou. Beijou-lhe a bochecha com lentidão — uma lentidão cruel — e se afastou. A neve já se acumulava em seus ombros, como se o mundo estivesse congelando tudo o que poderia ter sido.

Vanessa permaneceu ali. Sozinha.

A respiração entrecortada.

O coração batendo como um animal ferido.

Ninguém jamais conhecerá a mulher por trás da duquesa.

E tudo o que ela era... morreria ao amanhecer.

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