O som do vento balançando as árvores envolvia a casa, enquanto Ana organizava algumas caixas no quarto. Eram objetos antigos que haviam pertencido aos seus pais: livros, fotos e lembranças de uma vida que agora parecia tão distante. Enquanto vasculhava os itens, encontrou um diário de sua mãe. A capa era simples, de couro marrom desgastado, mas ao abri-lo, sentiu como se estivesse mergulhando em uma conversa íntima com ela.
As páginas estavam cheias de reflexões, versículos e orações. Em uma delas, leu uma frase que a fez pausar:
"Senhor, cuide da minha filha. Mostre a ela que, mesmo nos dias mais escuros, a Tua luz nunca se apaga."
As palavras tocaram Ana profundamente. Era como se sua mãe ainda estivesse cuidando dela, mesmo depois de partida.
Mais tarde, conforme passeava pela praça central, Ana encontrou Marina sentada em um banco, lendo um livro.
— Que bom te ver por aqui! — disse Marina, abrindo um sorriso caloroso. — Estou indo ajudar na organização de um evento comunitário na igreja. Você poderia vir comigo?
Ana hesitou, mas a insistência amigável de Marina a convenceu. Na igreja, havia um grupo de voluntários reunidos, decorando o espaço e preparando alimentos para uma ação de arrecadação de fundos para famílias necessitadas da região.
Gabriel estava supervisionando tudo, mas fez questão de se aproximar de Ana quando a viu.
— Fico feliz que tenha vindo — disse ele com um sorriso. — Precisamos de todas as mãos possíveis por aqui.
Ana se sentiu bem ao ajudar. Passou a tarde preparando cestas de alimentos, e, aos poucos, foi se sentindo mais confortável com as pessoas ao redor. O ambiente estava cheio de risadas, músicas e conversas animadas. Era um contraste com a solidão que ela vinha carregando.
No final do dia, quando Ana estava quase saindo, Rafael apareceu na porta, visivelmente abalado. Ele explicou a Gabriel que uma das famílias beneficiadas pela ação estava enfrentando uma situação de emergência: o pai da família, um trabalhador autônomo, havia sofrido um acidente e não poderia sustentar os filhos.
Gabriel rapidamente organizou um grupo para levar ajuda à família, e Rafael sugeriu que Ana os acompanhasse. Apesar da incerteza, ela concordou. Sentiu que talvez pudesse ser útil.
A casa da família era humilde, com paredes descascadas e móveis simples. A mãe, uma mulher de olhar cansado, agradeceu emocionada pela visita. Ana percebeu o peso que aquela mulher carregava e se lembrou de sua própria mãe. De repente, sentiu um impulso de fazer algo mais.
— Eu posso ajudar a organizar algumas coisas para vocês — disse Ana, quase sem pensar. — Sei como é difícil quando tudo parece fora de controle.
A mulher aceitou com gratidão, e Ana passou as horas seguintes limpando, organizando roupas e brincando com as crianças. Quando tudo terminou, sentiu uma estranha mistura de cansaço e satisfação.
No caminho de volta, Rafael caminhava ao lado de Ana, ambos em silêncio. Finalmente, ele falou:
— Foi bom o que você fez hoje. Às vezes, ajudar os outros é o que nos ajuda a encontrar nosso próprio caminho.
Ana sorriu, mas não respondeu de imediato. Estava absorvendo as palavras e o que havia sentido ao longo do dia. Antes de se despedirem, Rafael acrescentou:
— Nem sempre entendemos o porquê das coisas, mas Deus sempre tem um propósito, mesmo nos momentos mais difíceis.
Aquelas palavras ecoaram na mente de Ana enquanto ela voltava para casa. Lá, pegou novamente o diário de sua mãe e encontrou outra anotação:
"Confie, mesmo quando não entender. Deus escreve histórias que só Ele pode enxergar por completo."
Naquela noite, Ana sentiu que estava, aos poucos, se reconectando com algo maior. As experiências do dia a fizeram perceber que havia forças em movimento, convidando-a a sair de si mesma e olhar para o mundo ao redor.
Ainda assim, as feridas do passado não desapareceram completamente. Uma parte dela ainda se perguntava se seria capaz de superar a dor e confiar plenamente em Deus novamente.
Conforme apagava as luzes para dormir, decidiu que, no dia seguinte, participaria do culto especial de domingo. Talvez ali pudesse encontrar respostas para as perguntas que ainda a assombravam.
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Atualizado até capítulo 26
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