O carro corria pela estrada sinuosa e escura, os faróis iluminando o caminho à frente enquanto as árvores passavam como vultos ao redor. O silêncio dentro do veículo era tão opressor quanto o que haviam deixado para trás na mansão. Ninguém ousava falar; o choque do que haviam experimentado ainda pendia pesado no ar. Miriã estava ao volante, suas mãos tremendo levemente no controle do carro. Rafael estava ao seu lado, debruçado para frente, olhando fixamente para a estrada. A garota que escapara com eles estava no banco de trás, abraçando os joelhos, visivelmente em estado de choque.
— Precisamos conversar sobre o que aconteceu lá — Rafael finalmente quebrou o silêncio, sua voz ainda carregada de adrenalina.
Miriã assentiu, mas manteve os olhos na estrada. Ela sabia que a conversa era inevitável, mas não conseguia pensar direito. Ainda podia ouvir os rugidos e gritos ecoando em sua mente, o som do metal rangendo e o cheiro de sangue seco em suas roupas.
— Você já esteve lá antes — ela disse, quase como uma afirmação.
Rafael respirou fundo, sua expressão se fechando em uma máscara de seriedade.
— Sim, estive. Há um ano, eu estava naquela mesma mansão. Só que não saí como vítima. Saí como um dos líderes.
Miriã lançou um olhar rápido para ele, seus olhos arregalados. A garota no banco de trás ergueu a cabeça, surpresa.
— Como assim? — a garota perguntou. — Você sabia de tudo isso? Por que não nos avisou?
Rafael suspirou, passando a mão pelos cabelos suados.
— É complicado. Se eu contasse, eles saberiam. Eles sempre sabem. As regras são claras: não podemos revelar nada do que acontece lá dentro. Se alguém tentar escapar das regras, eles são caçados.
Miriã sentiu uma onda de frustração e raiva crescer dentro dela.
— Então, por que você voltou? — ela perguntou. — Por que você faria isso de novo?
— Eu não tive escolha — ele respondeu, sua voz ficando mais sombria. — Quando você é escolhido como líder, eles garantem que você volte. Ou você participa e ajuda a escolher o próximo grupo, ou eles vêm atrás de você. Não tem como escapar.
Houve um longo silêncio enquanto todos digeriam suas palavras. Miriã sabia que havia mais na história de Rafael. Ela podia ver isso em seus olhos. Finalmente, ela decidiu pressioná-lo um pouco mais.
— Como foi da última vez? — ela perguntou, suavizando um pouco a voz. — Como você sobreviveu?
Rafael deu um longo suspiro, olhando para fora da janela. Parecia que estava se preparando para reviver um pesadelo.
— Da última vez, fui convidado por alguém que eu achava ser meu amigo. Ele sabia o que estava acontecendo, mas eu não fazia ideia. Achava que seria apenas uma aventura. Quando cheguei lá e percebi que estava preso em um labirinto mortal, foi uma luta pela sobrevivência a cada segundo. — Ele fez uma pausa, como se estivesse se lembrando dos detalhes horríveis. — Eu perdi muitos amigos naquele dia. E, no final, eu... eu fiz coisas das quais não me orgulho para chegar ao escritório.
Miriã ficou em silêncio, sentindo uma mistura de pena e raiva. Ela sabia que ele estava tentando sobreviver, mas ainda assim, o que ele estava implicando era terrível.
— Então, você sabia que tudo isso era um jogo sádico, e ainda assim, nos trouxe aqui? — a garota no banco de trás perguntou, sua voz tremendo.
— Sim, eu sabia. Mas não tinha outra opção — ele respondeu com frieza. — E agora vocês também não têm.
Miriã parou o carro em um ponto afastado, fora da estrada principal, cercado por árvores que bloqueavam a visão de qualquer um que passasse. Eles precisavam de um momento para pensar e formular um plano. Ela desligou o motor e virou-se para encarar Rafael.
— O que você sugere que façamos agora? — ela perguntou, sua voz carregada de determinação. — Vamos simplesmente continuar participando desse jogo e esperar que a sorte esteja do nosso lado? Ou podemos encontrar uma maneira de acabar com isso de uma vez por todas?
Rafael olhou para ela, surpreso pela intensidade em sua voz.
— Eu tenho pensado sobre isso desde a primeira vez que saí de lá. Existem histórias, rumores de pessoas que tentaram lutar contra o sistema e acabaram... desaparecendo. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu com elas. Mas talvez, se formos espertos, possamos descobrir mais.
A garota atrás deles balançou a cabeça, descrente.
— E como faremos isso? Se eles têm olhos e ouvidos em todo lugar, como vamos agir sem sermos pegos?
— Talvez precisemos de ajuda — Miriã disse, refletindo em voz alta. — Precisamos encontrar alguém que saiba mais do que nós, alguém que tenha saído desse jogo e quebrou as regras sem ser morto.
Rafael assentiu lentamente.
— Há rumores sobre uma mulher que escapou há muitos anos. Dizem que ela foi a única a fugir e a nunca ser encontrada de novo. Talvez ela saiba algo que possamos usar.
— Onde encontramos essa mulher? — a garota perguntou, sua voz agora misturada com um fio de esperança.
— Ninguém sabe ao certo, mas acho que conheço alguém que pode nos levar até ela — Rafael disse, seus olhos escurecendo com uma ideia que parecia perigosa.
Eles decidiram seguir para uma pequena cidade, conhecida por ser um ponto de encontro de pessoas que preferiam se manter longe do radar. De acordo com Rafael, havia um homem lá que poderia ter as respostas que precisavam. O nome dele era Jonas, e ele era um especialista em informações secretas e contatos com os “desaparecidos”.
Quando chegaram à cidade, as ruas estavam desertas e o lugar parecia abandonado, com lojas fechadas e postes de luz piscando. Miriã sentia um frio na espinha enquanto desciam do carro e andavam pelas calçadas de pedra rachada. Cada sombra parecia esconder um espião, cada ruído uma armadilha.
Rafael os guiou até um bar no final da rua, um lugar de aparência sombria e com uma placa de neon piscando com o nome “Refúgio”. Eles entraram, e o cheiro de álcool e cigarro atingiu suas narinas.
— Procurem agir naturalmente — Rafael murmurou, olhando ao redor.
Miriã assentiu, mantendo-se perto dele. A garota que estava com eles estava visivelmente desconfortável, mas tentou seguir o exemplo de Miriã e Rafael.
No fundo do bar, havia uma mesa ocupada por um homem robusto de cabelos grisalhos. Ele tinha uma cicatriz que atravessava o rosto, e seu olhar era firme e intimidante. Rafael caminhou até ele.
— Jonas? — ele perguntou.
O homem levantou o olhar, avaliando Rafael e os outros dois com um olhar frio.
— Quem quer saber? — ele respondeu, a voz grave e áspera.
— Sou Rafael, e estes são meus... amigos. Precisamos de informações sobre alguém. Alguém que você conhece.
Jonas estreitou os olhos e se inclinou para frente.
— Eu conheço muita gente. E sei de muitas coisas. Vocês vão precisar ser mais específicos... e ter algo para oferecer em troca.
Miriã sabia que este era apenas o começo de outra fase da sua luta pela sobrevivência. Eles haviam escapado de um labirinto mortal, mas agora estavam entrando em outro, um onde as regras eram ainda mais incertas e os riscos, ainda mais altos. Ela trocou um olhar com Rafael e a garota, sabendo que estavam todos pensando o mesmo: eles não voltariam para aquela mansão maldita. Não se pudesse evitar.
E assim, a busca por respostas começou, levando-os cada vez mais fundo em uma conspiração que eles jamais poderiam imaginar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 22
Comments