Traumas

...Capítulo 05...

Iniciei minha faculdade de Psicologia em uma das universidades mais reconhecidas do país. Por que escolhi essa área? Eu ainda estou tentando me encontrar, mas sabia que a minha missão era essa: ajudar as pessoas, como um dia já fui ajudada.

Haviam se passado 4 anos e 6 meses de estudo. Estava ansiosa pelo término e para iniciar minha carreira. Sim, o tempo voou. Atualmente, moro sozinha na cidade grande. Mudei-me assim que recebi a bela notícia de que havia sido aprovada. Minha mãe e minha avó não se conformaram quando disse que me mudaria, mas aceitaram a realidade. Em todas as minhas férias, eu as visitava, e algumas vezes, elas vinham até o pequeno apartamento que aluguei.

Nesse exato momento, estou encerrando meu expediente de estágio na empresa onde trabalho atualmente. Ela é muito conhecida, e eu estava torcendo para ser efetivada. Alguns valores da empresa me representavam, mas só poderia contribuir com ideias e projetos após ser admitida.

Estou feliz porque o final de semana finalmente chegou. Tônio e Gabriel vão se casar em algumas semanas, e eu nem sequer tinha um acompanhante para ser a madrinha "perfeita". Eu disse que ia arrumar, mas me sentia desconfortável. Como não tenho amigos homens que pudesse chamar, eles sempre diziam: "Leva a Carla." Mas ela não estava em seu melhor momento. Inclusive, naquela noite, disse que passaria em casa. Ela se mudou para a cidade vizinha e também já está trabalhando na área em que se formou: design.

— Precisamos conversar urgentemente — disse ela ao telefone, ansiosa e apavorada. Passei no mercado e comprei algumas coisas para preparar um jantar para minha querida amiga, além de uma boa garrafa de vinho.

Chegando em casa, tomei um banho relaxante na banheira, e tanta coisa veio à mente: algumas matérias acumuladas por causa da correria no trabalho, ser madrinha... Penso nisso enquanto envio uma mensagem para a maquiadora e cabeleireira:

"Boa tarde, peço, por gentileza, que reserve cabelo e maquiagem para o dia 26/08, às 15h."

Pensei por alguns minutos e lembrei da sugestão de Gabriel — ele estava certo. Quem melhor que minha amiga para estar ao meu lado? Festejando como ela ama, comemorando a felicidade do casal. Então enviei outra mensagem:

"Por favor, marque para duas pessoas."

— Agendado, Srta. Sales. Agradecemos pela preferência.

Relaxei na banheira imaginando o quanto a gente ia se divertir.

— Diana! Diana, onde você está, menina? — acordo escutando a voz de Carla que entrou no banheiro.

— Pelo menos está sozinha... — ela sai e, em seguida, retorna com dois copos e o vinho que comprei para o jantar. Senta-se no chão e começa a chorar.

— O que foi dessa vez, amiga? — pergunto, me ajeitando na banheira.

— Gael. Aquele infeliz, depois de tanto tempo juntos, terminou comigo já faz uma semana. Mas eu não entendo por que ele não retorna nenhuma das minhas ligações.

Sinto pena. Passo a mão nela, e do nada, ela começa a rir.

— Eu sou besta... como pude acreditar que um dia a gente seria feliz? Devo aceitar o fim e seguir em frente.

A verdade é que eles viviam discutindo. Sempre separavam e voltavam. Eu sentia dó por ela não conseguir se libertar. Ele era egoísta e egocêntrico — só pensava em si mesmo.

— Você vai superar, amiga. Confia.

— Preciso me divertir essa noite — ela mexe no celular. — Vai ter uma balada a uns seis quarteirões. Vamos?

— Como eu vou me divertir assim, destruída?

Ela abre a garrafa, coloca um pouco e me entrega.

— Amanhã você vai ficar mofando em casa. Por favor! Eu estou precisando.

Ao ver sua maquiagem borrada, percebi que ela precisava de mim naquele momento difícil. Então aceitei.

— Tá bom... só dessa vez.

Já na boate, o som era muito alto, e todos dançavam agitados.

Não era minha primeira vez, mas confesso: sou muito caseira. Enquanto vejo Carla se engraçar e conversar no ouvido de um cara, vou até o bar e peço um drink — o meu preferido. Dou um gole e vejo ela vindo em minha direção.

— Amiga, vem, tenho alguém pra te apresentar...

— Qual é, Carla? Você sabe que não tenho tempo pra isso.

Ela me puxa pelos braços, ignorando minhas palavras.

— Achei que a gente ia ter uma noite de amigas, não o encontro do quarteto fantástico.

— Se diverte!

Então ela me abandona no meio do salão de dança. Na minha frente, está dançando um homem alto, bem arrumado, de calça jeans escura, camiseta polo, cabelo penteado e um sorriso inexplicável.

— Boa noite. Você deve ser Diana? — ele fala próximo ao meu ouvido, e meu corpo inteiro se arrepia.

— Isso... — começo a me mexer, sem graça, na sua frente.

— Não sabia que iria conhecer uma mulher tão bonita.

Sorrio sem jeito e, ao olhar para uma das colunas espelhadas, percebo que poderia ter ido com outro vestido — um melhorzinho. A cor era verde claro. Estava usando um salto simples, batom marrom claro, e minha querida amiga não me deixou sair de casa sem base e rímel. Vejo que meu cabelo está um pouco bagunçado e faço um rabo de cavalo.

— Isso porque você nunca me viu pela manhã — digo, sorrindo. Ao olhar para o lado, vejo Carla já se agarrando com o rapaz que acabou de conhecer.

— Seria um prazer... — ele diz em tom provocante.

— Ele é seu amigo? — pergunto, apontando para os dois, tentando mudar de assunto.

— Sim, é meu primo.

A gente dança, mas bem afastados. Depois de um tempo em silêncio, ele se aproxima.

— Pago uma bebida se você for lá fora comigo tomar um ar fresco.

Concordei, não pela bebida, mas porque o barulho já estava me incomodando. Levo um susto quando ele pega minha mão delicadamente — e não me incomodo com o toque. Isso me surpreende. Ele me guia até a saída e então solta minha mão.

— Descobri que você é um pouco interesseira?

Ele sorri, claramente brincando. Do lado de fora, o barulho some, e consigo ouvir sua voz — grossa e doce ao mesmo tempo. E sua beleza... lá dentro, com as luzes piscando, não dava para notar tanto.

— Posso ser muito mais — digo, e ele acende um cigarro.

— Você não tem cara de quem gosta disso — ele comenta, olhando para a boate.

— E você está certo.

Caminhamos até uma praça do outro lado da rua e sentamos em um banco.

— Veio acompanhar sua amiga, que minutos depois te trocou por um mais “contagiante”? Interessante.

— Pelo menos, ela deixou alguém cuidando de mim.

Ele me encara, e aquele olhar me traz uma lembrança. Me afasto, e ele se aproxima.

— Não vou te morder ou atacar no meio da praça...

Nossos olhos se cruzam por alguns minutos. Balanço a cabeça e olho para frente.

— Como posso saber?

— O quê?

— Nem sei seu nome.

Ele se levanta, joga o cigarro no lixo e retorna.

— Me desculpa, madame. Me chamo Philippe.

Ele estende a mão e eu aperto. Quando percebo, ele delicadamente me levanta.

— Vamos dar uma volta.

— Estou tão gorda assim?

Ele me olha dos pés à cabeça.

— Talvez um pouco — responde, dando uma risada leve.

Eu não consigo negar: estar com ele mexia comigo.

— É sempre gentil assim?

— Com certeza. Gosto de ser lembrado em sonhos... ou desejos.

— Como consegue ter tanto ego?

— Não é ego... é competência.

— Entendo.

— Antes que chamem a polícia, está com algum documento?

— Eu estava numa balada...

— Não quero ser pego com uma menor.

Nós rimos.

— Obrigada, fico feliz com o elogio.

Olho no relógio. Já passava da uma da madrugada.

— Está muito bom caminhar sem direção, mas acho que preciso ir embora.

— Por quê? Mas antes, deixa eu cumprir o que prometi.

— Estou cansada, e não precisa. Estou dirigindo — digo, vendo meu carro do outro lado da praça.

— Você já bebeu hoje?

— Sim.

— Então aguenta mais uma. Se você fizer desfeita, vou te perseguir até te achar.

Naquele momento, meu corpo trava. Fecho a cara. Mesmo sabendo que ele não fazia por mal... ou será que sim? E se ele fosse pior que o professor? Sinto que começo a passar mal...

— Você está bem?

Escuto sua voz. Ele me guia até o banco.

— Cadê seu telefone? Deixa eu ligar para sua amiga.

— Não precisa — respondo, percebendo que estou quase tendo uma crise.

— Você está pálida.

Ele se levanta e começa a mexer no celular. Pego o meu, e tudo começa a girar.

— Ei, corre pra cá agora. Ela não está bem...

Fiquei por alguns minutos sentada, em silêncio. Ele também.

Logo Carla chegou, muito preocupada.

— Amiga, você está bem?

— Estou — digo, me sentindo tonta. — Deve ser o cansaço. Vamos embora.

— Você está bem pra dirigir? — Philippe pergunta.

— Eu bebi um pouco — responde Carla.

— Posso deixá-la em casa. Estou com meu carro. Vocês ficam com o dela.

— Não! — falo, me levantando. — Eu vou bem sozinha.

— Amiga, olha aqui — Carla mostra a mão. — Quantos dedos tem aqui?

Olho, mas vejo tudo embaçado. Não sei se foi a bebida, o ataque ou o receio de passar por tudo de novo.

— Está embaçado... — digo, começando a chorar.

— Calma, vou te levar ao hospital, ok? Senta aqui, só um minuto.

Olho nervosa para os três conversando alto.

— Você deu alguma coisa pra ela?

— Claro que não! — responde Philippe.

— Cara, eu quebro a sua cara se tiver drogado minha amiga!

A voz de Carla é de muita revolta. Fiquei no meu canto, enxugando as lágrimas. Achei que havia superado meu trauma, mas a verdade é que nunca enfrentei uma situação assim. Nunca tive um relacionamento afetivo, muito menos amoroso. Só confiava em Tônio e Gabriel.

(Algumas horas depois)

— Desculpa, Carla, estraguei sua noite.

— Imagina, amiga. Eu estou aqui por você.

Logo o médico entra e chama Carla.

— Pode dizer na minha frente, doutor.

— Sim, Srta. Diana. Sua amiga pagou por alguns exames adicionais para saber se havia substância química no sangue. Mas, de acordo com os resultados, você está limpa. Um pouco de álcool, mas nada exagerado. Como médico, acredito que você teve uma crise de ansiedade. Gostaria de nos contar algo?

— Não, doutor. Estou bem. É só o estresse do dia.

— Que bom. Estou confiando nas suas palavras. Assim que o soro terminar, você estará liberada.

— Desculpa, Diana... — Carla se aproxima e segura minha mão. — Se aquele cara tivesse feito algo, eu juro que dava uma surra nele.

Senti uma lágrima escorrer. Fiquei muito feliz em ver sua preocupação.

— Obrigada, amiga. Eu te amo muito...

Ela me abraçou e, do nada, começamos a rir feito duas malucas...

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Comments

Rifa Sorte

Rifa Sorte

Amei esse capítulo, que bom saber que ela tem uma amiga incrível, e estou ansiosa para saber mais desse Philipe.

2022-08-17

1

Ariane Alves dos Santos

Ariane Alves dos Santos

Cada capitulo me faz querer continuar lendo sem parar!

2022-07-23

2

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