...Capítulo 04...
(Algumas semanas depois) - Peguei o ônibus naquela manhã com destino à minha terapia. A Dra. Renata me aguardava. Seria a nossa primeira sessão presencial, pois as anteriores haviam sido online, sempre de madrugada. Eu esperava minha avó e minha mãe caírem no sono, e às 23h já conseguia fazer as ligações.
(Algumas horas antes)
— Aonde vai, querida? — perguntou minha mãe, curiosa ao me ver passando perfume.
— Vou na casa da Carla. A gente não se vê há alguns dias.
Menti para minha mãe e me senti muito mal pelas minhas ações, mas falar a verdade não me ajudaria. Carla estava viajando naquele final de semana. E sim, a Dra. Renata aceitou me atender em um sábado porque sabia das minhas condições.
(Atualmente)
Chegando ao consultório, que estava muito bem organizado e limpo, fui até a recepção e não havia ninguém. Então peguei meu celular:
> “Quando você chegar, me manda um SMS. (07:40 AM)” — A doutora havia me enviado.
> “Cheguei, estou na recepção. (08:15 AM)” — respondi.
Não demorou muito e surgiu uma moça jovem e muito bem arrumada, com seu jaleco branco.
— Bom dia, Diana. Seja muito bem-vinda ao meu consultório.
Entrei na sala e conversei com ela. Não só essa, como as outras sessões estavam indo muito bem. Em todas eu me desmoronava de tanto chorar. A minha dor vinha da perda do meu avô... e do abuso.
Naquele dia, até ela se entristeceu comigo. Ela não imaginava que de um rosto tão alegre existia tanto sofrimento.
— Como você se sente ao lembrar do dia?
— Indignada, doutora. Como ele pôde? Eu nunca dei corda a ele! Sorrir algumas vezes e usar meu maiô não era sinônimo de interesse.
— Você o viu depois do ocorrido?
— Graças a Deus, não. Mudei de escola, como já havia dito. Não faço ideia de onde ele está — e por mim, que morra.
A Dra. Renata sempre fazia perguntas que me deixavam de boca aberta. Com o tempo, entendi: ela queria que eu ficasse mais forte, que aprendesse a lidar com situações que talvez enfrentasse no futuro — como ver ele, ou ele me ver, conversar com minha família na minha frente... Qual seria minha reação?
No início, se uma faca estivesse em minhas mãos, com certeza eu o mataria — e passaria minha vida na cadeia satisfeita. Mas depois percebi que isso arruinaria minha vida. A terapia foi meu alicerce.
(Dois anos depois)
Faltavam alguns dias para a minha formatura. Acredito que meu último ano escolar foi de muita dedicação e estudo. Depois do ocorrido, não conseguia me aproximar de ninguém. Conversava com algumas pessoas na escola, mas não era a mesma coisa.
Meu mundo colorido se transformou num cinza difícil de lidar.
Com o tempo, eu já me considerava mais viva. Não chorava mais nas terapias e consegui até ficar um tempo sem ir. Os pesadelos começaram a diminuir — nem me recordo de quantas vezes acordei sufocada, chorando e desesperada.
O pesadelo era tão real que sentia sua mão, sua respiração nos meus ouvidos. Acordei minha mãe algumas vezes, mas sempre dizia que era por causa de algum filme de terror que tinha assistido na casa da Carla.
Sobre a Carla, muita coisa aconteceu na vida dela. Ela começou a estagiar no segundo ano e também começou a namorar Gael Santos. Pois é, eu também não acreditei quando ela me contou.
Apesar de Carla ser humilde, tinha uma boa condição de vida, o que a aproximava dele. No fundo, fiquei feliz por ela.
Após o relacionamento, quase não a via. Depois de um tempo, ela comentou que Lucca também estava em um relacionamento sério com Juliana — uma das novatas da minha antiga escola.
Confesso que eu teria ficado mal, mas, por tudo que passei, agradeci por não ter mais nenhum sentimento por ele.
Exceto, claro, pela minha família — agora formada por minha mãe e minha avó.
Tenho alguns parentes, sim, mas mal os conheço. A maioria mora longe.
Quem eu mais prezo é minha tia-avó Judite, que me deu o celular depois da morte do vovô. Ela sempre esteve do lado da minha avó e nos ajudou muito no processo de luto.
Com a morte do meu avô, as coisas começaram a se ajeitar. Minha avó passou a receber uma pensão e também um valor que a antiga empresa do vovô lhe devia. Isso trouxe à minha mãe certo alívio.
Não que ela estivesse feliz com a morte do pai em troca de uma herança — longe disso.
Mas fazia tempo que ela não sabia o que era sair com as amigas.
Depois de um ano da morte dele, elas insistiram para ela sair, e ela foi. Voltou muito tarde... mas com um sorriso brilhando no rosto.
— Já marquei seu cabeleireiro e separei um dos vestidos de formatura na loja da Betty. Você pode passar lá depois da escola?
— Claro.
Anotei o endereço e fui para a escola. Na verdade, nem teria aula naquele dia — seria apenas uma despedida da turma.
— Boa despedida com seus colegas.
Já havia feito algumas inscrições em faculdades e aguardava, ansiosa, alguma me aceitar.
A despedida foi rápida e simples. Não demorou muito, e já estava indo para casa. E, para falar a verdade, foi a melhor sensação que pude sentir: respirar o ar fresco, depois de tanta batalha, e finalmente finalizar os estudos.
(Janeiro – 2008)
Tinha acabado de chegar de uma entrevista de emprego. Meu aniversário é no início do ano, então, quando fiz dezoito, já estava ansiosa para conquistar minha independência.
— Que bom que você chegou! Como foi a entrevista? — perguntou minha avó, vindo ao meu encontro no portão.
— Vão me ligar se eu passar.
Entrei na cozinha e, ao me sentar, vi o carro da minha mãe estacionar. Ela desceu desesperada, com um papel na mão, gritando:
— Filha! Filha!!
— O que foi? Vai me matar do coração!
— A universidade em que você se inscreveu acabou de ligar... e você foi aprovada!!!
Quando ela disse isso, dei um grito e comecei a pular de felicidade. Minha avó me envolveu em seus braços:
— Parabéns, querida! Eu já sabia que tudo iria dar certo na sua vida...
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Rifa Sorte
Estou contente de ver ela desabrochando 👏🏻😍.
2022-08-16
1
Gabriela Sousa
continue escrevendo😍
2022-07-21
2
Gabriela Sousa
E a história fica cada vez melhor, espero que a Diana conquiste a liberdade que ela tanto deseja❤️❤️❤️
2022-07-21
2