O desaparecimento de uma Dungeon é sempre um evento alarmante. O motivo? Simples: ao final de cada uma, pode surgir tanto um deus quanto um demônio. Afinal, nunca se sabe quem conseguiu pegar um Ring. Ringers de diversas nacionalidades geralmente aguardam ansiosos próximo ao local do surgimento de uma Dungeon, mas, desta vez, devido ao tempo que ela ficou aberta, apenas alguns permaneceram na área.
– Alguém pegou um Ring. – comenta em inglês um Ringer americano. Sua pele é clara, a musculatura evidente sob a camiseta justa. Ele tem cabelos castanhos, olhos azuis e dois Rings reluzindo no dedo médio da mão direita. Ele sai de um quarto escuro, onde as luzes estão apagadas, ajustando o relógio no pulso enquanto observa o horizonte pela janela empoeirada.
Do outro lado do mundo, em uma sala repleta de computadores e monitores brilhando na escuridão, alguém veste um moletom preto com o capuz cobrindo o rosto. Um Ring brilha em seu dedo indicador enquanto a pessoa ajusta um botão com a mão esquerda, ainda falando em uma chamada.
– Sim, é isso mesmo. Um novo Ringer surgiu.
Ao pressionar o botão, uma notificação é enviada para a plataforma da Associação dos Ringers. A notícia logo se espalha: uma Dungeon foi completada, e agora todos têm a chance de chegar até o novo Ringer.
Do lado de fora, Asani, recém-saído da Dungeon, observa o cenário ao redor. Ele agora veste roupas diferentes, mais estilizadas do que as que usava lá dentro. Ainda assim, algo está errado.
– Tutor? Cadê você? – pergunta ele, olhando em volta e inclinando a cabeça de um lado para o outro.
– Estou aqui. – responde o Tutor, mas sua voz não acompanha uma presença física.
– Como assim? Não estou te vendo.
– Eu só posso manter meu corpo em uma Dungeon. Fora dela, só consigo me comunicar com você pelo bracelete.
– Então você não pode me proteger? Que chatice. Mas antes de tudo, cadê o Léo?
– Ele está por aí, em algum lugar. Não percebe que o terreno mudou? O local ficou gigante. Isso aqui é maior que um campo de futebol, talvez até construam um shopping aqui.
– Como você sabe o que é um shopping? – questiona Asani, confuso.
– Eu sei tudo sobre os humanos. Também posso traduzir qualquer língua.
– Então você é útil para mim.
– Eu não sou seu objeto!
– Certo, certo... Mas como vou derrotar os outros Tutores?
– Por que eu te diria?
De repente, uma voz familiar ecoa.
– Asani! Asani! Você tá vivo!
Léo surge correndo em direção a Asani, lágrimas escorrendo pelo rosto.
– Léo! Léoo!
– Asani... A Dungeon não é um lugar comum. Você teve sorte dessa vez, mas elas são feitas para criar monstros, desumanos. Quem entra lá nunca sai do mesmo jeito.
Antes que Asani pudesse responder, o Tutor fala em sua mente:
– As Dungeons testam limites. Ele está certo.
– Tutor, você não ajuda em nada! – reclama Asani.
– O Tutor tá aqui? – pergunta Léo, surpreso, enquanto segura as mãos de Asani.
– Sim, mas parece que ele só fala na minha cabeça.
– Tudo bem. Vamos encontrar a Lara. – diz Léo, caminhando em direção à escola.
Mas, antes de dar mais de dois passos, ele desaparece. É como se o chão o tivesse engolido.
– Certo...??? Léo? Cadê você?!
O pânico toma conta de Asani. Ele ergue o braço instintivamente, e um gigantesco relógio imaginário surge em frente à sua mão. O chão começa a tremer, seus olhos perdem a cor em um instante.
– Pare, garoto! Vai desperdiçar uma das suas chances de voltar no tempo. Ele não está morto. – grita o Tutor, e o relógio desaparece junto com a tensão no corpo de Asani.
Antes que pudesse processar o ocorrido, uma voz grave o interrompe.
– Ei, garoto. Qual é o seu nome?
Asani se vira para ver um homem de pele escura, cabelos cacheados e barba bem cuidada. Ele veste um terno azul-escuro e encara Asani com um sorriso calculado.
– Foi você, né? Traz ele de volta! – Asani fala com raiva.
– Calma, primeiro precisamos conversar. – responde o homem, enquanto um portal se forma sob os pés de Asani.
– Aaah! – grita ele enquanto cai em uma cela.
– Volte no tempo e traga seu corpo para fora! – ordena o Tutor com urgência.
– Mas como?!
– Apenas deseje. O Ring vai te entender.
Do lado de fora de uma cela, o homem que havia teleportado Asani examina o local com irritação crescente.
– Cadê o garoto? – gritou, impaciente.
– Ele desapareceu... simplesmente sumiu – respondeu sua assistente, confusa e visivelmente nervosa.
Sem perder tempo, o homem criou outro portal sob seus pés, reaparecendo no exato ponto onde estava antes de teleportar Asani. Ele encarou os outros presentes, agora dez pessoas, cada uma portando um ou mais Rings.
– Quem diabos são vocês? – perguntou ele, a voz grave carregada de tensão.
– E eu lá sei? – respondeu Asani, tentando decifrar a situação.
Asani percebeu que todos estavam voltando sua atenção para ele. Entrou em postura de luta, posicionando a perna esquerda à frente e levantando o braço esquerdo em frente ao rosto.
– Você quer lutar contra eles, pirralho? Cai na real. Vem comigo. Eles nem são do Brasil. Eu sou do Rio de Janeiro, só vem comigo, bora se esconder. A gente não vence nem morto, mermão – disse o homem, franzindo o cenho ao ver a atitude de Asani.
– Aaah, bora então – respondeu Asani, correndo em direção ao homem, que rapidamente criou um portal.
Antes que pudessem escapar, uma flecha cortou o ar em direção aos dois.
– Merda – resmungou o homem, criando outro portal ao lado deles para redirecionar a flecha. A seta emergiu do outro lado do portal e voou em direção a um dos nove que cercavam o local.
Um dos homens interceptou a flecha no ar, segurando-a com uma mão e quebrando-a facilmente com o dedão.
– Perdi o alvo – disse uma garota ao celular, a 10 km de distância, enquanto abaixava seu arco.
– (Merda, como já tem tantas pessoas atrás dele?) – pensou um americano que se dirigia ao local, agora dando as costas para a confusão.
Os dois reapareceram ao lado da cela de Léo e na frente da assistente.
– Prazer, meu nome é Caio, e eu tenho o Ring do teletransporte – disse o homem, apontando o indicador direito para o indicador esquerdo, onde o Ring estava. – Eu chamo de Ring do portal, mas, na verdade, é o Ring do teletransporte. E você?
– Me chamo Asani e quero o meu amigo solto – respondeu Asani, direto ao ponto.
– Desculpa, mas ele é minha melhor carta contra você. Até porque eu nem sei qual é o seu poder. Aliás, só quero um amigo para combater a Associação dos Ringers. – Caio se sentou em uma cadeira e indicou outra para Asani. – Pode se sentar também.
– Olha, Léo, no que a gente se meteu? – resmungou Asani, virando a cabeça para trás.
– Não é minha culpa. Nunca pensei que existia essa organização – respondeu Léo, sentando-se no chão.
– Não quer falar sobre o seu Ring? – indagou Caio.
– Por que eu confiaria em você? – retrucou Asani.
– Digamos que eu posso te matar agora mesmo, mas não quero te matar.
– Impossível, meu poder me torna imortal – respondeu Asani, cruzando os braços.
– Como assim? – Caio pareceu surpreso, apoiando o cotovelo no joelho e a cabeça na mão.
– Posso voltar ou adiantar o estado e o local do meu corpo – explicou Asani, finalmente se sentando.
– Wow – murmurou Léo, impressionado.
– Que poder absurdo! Mas você controla só o tempo do seu corpo? – perguntou Caio.
Asani levantou o braço em direção à cadeira de Caio, e um relógio imaginário surgiu.
– Oioi? – Caio foi arrastado de volta para o lugar onde a cadeira estava antes. – Nossa, que poder incrível!
– Você tem mais 999 vezes – avisou o Tutor na mente de Asani.
– Merda – resmungou Asani, abaixando o braço.
– O que deu? – perguntou Caio, curioso.
– Tenho um limite de vezes que posso usar isso. No caso, acabei de perder uma chance de evitar uma explosão nuclear. Entendeu? – respondeu Asani, irritado.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Mikaelle Fioravante
Vish
2022-07-07
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