Uma decisão crucial paira sobre todos: ser um dos 50 e correr o risco de morrer ou desistir, sem a garantia de sobrevivência. Um dilema que deve ser resolvido antes que a escolha recaia na violência entre os 200 presentes.
- Vou começar a selecionar os mais aptos. Quem não for escolhido, por favor, se retire - declarou o homem conhecido como "professor" por Asani e Léo, mas também reconhecido como um caçador de Rings pelos demais.
Um silêncio desconfortável se espalhou. Aqueles que decidiram não continuar permaneciam sentados próximos à porta, observando com expressões tensas.
- Não concordo! Tenho cara de quem vai passar por essa seleção? - exclamou Asani, levantando o braço direito com indignação.
- Eu também não concordo, pelas mesmas razões do Asani - disse Léo, levantando apenas a mão esquerda, como se sua resistência fosse mais contida.
O caçador riu, um riso mais cínico do que alegre. - Hahaha, que incoerência a de vocês. Por que acham isso?
- Porque somos adolescentes! Isso é óbvio! - disparou Asani, em tom quase desafiador.
O caçador não perdeu o sorriso, mas sua paciência parecia se esvair. - Quero apenas 50 aqui, não importa se são crianças, mulheres, idosos, magros ou gordos. Eu vou apontar e, quem eu apontar, sai. Simples, não? Afinal, dos 50 que ficarem, apenas um sobreviverá. - Sua voz carregava um misto de impaciência e desespero, uma lembrança do tempo que passara preso na dungeon.
Um homem musculoso levantou-se de repente. Sua expressão não era de medo, mas de hostilidade.
- Que bom que você se escolheu para sair primeiro - provocou o caçador, com um sorriso no rosto.
O homem avançou, ignorando o tom sarcástico. Ele caminhava na direção do caçador, cerrando os punhos enquanto todos os olhares estavam fixos nele.
O caçador recuou instintivamente, com os olhos arregalados. - Vocês não estão vendo que ele quer me bater? - gritou, buscando apoio entre os espectadores.
Ninguém respondeu.
- Tutor, quero uma pistola - disse o caçador, erguendo a mão. Em um instante, a arma materializou-se nela.
O musculoso parou, mas foi tarde demais.
BANG!
O tiro ecoou. O homem caiu pesadamente sobre os demais que estavam sentados próximos à porta. Seu sangue tingiu o chão enquanto ele agonizava, lutando inutilmente contra a morte.
A visão do corpo caído foi suficiente para que o caos se instalasse.
Os olhos de Asani e Léo estavam arregalados, fixos na cena. Aquele momento, o segundo em que presenciavam uma morte tão próxima, parecia uma eternidade.
BANG! BANG! BANG!
Mais tiros se seguiram. O som ensurdecedor preenchia o salão. Pessoas caíam uma a uma, corpos se acumulavam em meio a gritos abafados, sangue e desespero.
Asani sentiu algo quente escorrer por sua face: sangue, mas não o dele. Ele tremeu, incapaz de controlar seu corpo. Seu medo transcendeu o próximo desafio. Agora, ele só temia as balas, aquelas que pareciam não ter destino, mas encontravam todos.
Sem forças, ele caiu entre os corpos, seus olhos marejados se fechando para o inferno ao seu redor. Lágrimas traçaram trilhas limpas em seu rosto sujo.
Léo viu seu amigo cair e não conseguiu suportar. Sua ansiedade tomou conta, deixando-o paralisado. Ele se deitou no chão, entre o sangue e os corpos, chorando sem emitir som algum, apenas soluçando em silêncio.
O caos era absoluto.
- Ei, Tutor, acabou aqui! Só sobraram 46 - disse o caçador, agora coberto de sangue, mas com um olhar de alívio.
A voz do Tutor reverberou pela sala. - NÃO ME IMPORTO SE TEM DOIS A MENOS! QUERO COMEÇAR ISSO LOGO, ESTOU ANSIOSO PELO PRÓXIMO DESAFIO!
- Como assim? - perguntaram alguns dos sobreviventes, confusos.
O Tutor riu. - HÁ DOIS NO MEIO DOS CORPOS. VOU TELETRANSPORTÁ-LOS PARA O PRÓXIMO TESTE.
Antes que alguém pudesse questionar, Asani e Léo desapareceram, junto com os demais que permaneceram vivos.
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
Todos foram separados em duplas escolhidas pelo Tutor. Cada dupla foi colocada em uma sala idêntica: uma mesa no centro com duas espadas e um círculo marcado no chão diante da porta.
- GOSTARAM? ESSA É A PRÓXIMA PROVA! EM CINCO MINUTOS, UM BONECO APARECERÁ NO CÍRCULO. VOCÊS TERÃO DEZ MINUTOS PARA ARRANCAR A CABEÇA DO BONECO. LEMBREM-SE: TODA PROVA TEM UMA DICA. BOA SORTE! - anunciou o Tutor. Sua voz ecoava nas salas, mas sua presença continuava invisível.
Asani e Léo ainda estavam tentando se recuperar do massacre anterior.
- Mano... - Asani tentou dizer algo, mas sua mente parecia um vazio.
Quatro minutos se passaram em silêncio tenso.
- FALTA UM MINUTO PARA O TESTE! - informou o Tutor.
Léo, com a expressão firme, quebrou o silêncio. - Asani, você entendeu, né?
- Claro que sim! Essa prova é fichinha - respondeu Asani, tentando recuperar a confiança.
Léo apontou para as espadas sobre a mesa. - Uma delas é mais longa, quase como uma lança. Deixaremos essa pronta no círculo para perfurar o boneco assim que ele aparecer. - Ele pegou a espada longa, posicionando-a estrategicamente.
- E enquanto ele estiver distraído com a lança, eu corto a cabeça dele com a outra espada - completou Asani, pegando a segunda espada e posicionando-se ao lado direito do círculo, pronto para agir.
Léo forçou um sorriso, ainda pálido. - Somos dois em um. Invencíveis juntos.
- TRÊS, DOIS, UM... ZERO! - anunciou o Tutor, marcando o início da prova.
Assim que o tempo zerou, os bonecos apareceram no círculo de cada sala.
Léo não hesitou: com um movimento rápido, fincou a espada longa no peito do boneco. Antes que ele pudesse reagir, Asani cortou sua cabeça com um golpe certeiro, que a fez cair ao chão com um som seco.
- Boneco de vitrine. Nem sangue tem - comentou Asani, examinando a espada antes de olhar para suas roupas.
- Ainda bem, né? - retrucou Léo, aliviado.
- Foi fácil demais... - disse Asani, pensativo. - Mais de um ano de dungeon pra isso?
- Também acho. Meio decepcionante, não? - Léo respondeu, olhando para a porta que acabava de se abrir, revelando um corredor.
- Vamos? - perguntou Léo, aguardando um sinal do amigo.
- Claro, mano.
Os dois avançaram pelo corredor, agora mais calmos, mas ainda vigilantes.
- Por que o Tutor separou todo mundo? - questionou Léo, quebrando o silêncio.
- Sei lá... - Asani fez uma pausa dramática antes de erguer o indicador, pensativo. - Ele junta 50 pessoas, depois separa em duplas... parece ideia de banho, sabe? Coisa que você pensa enquanto lava o cabelo.
Léo soltou uma risada curta, mas concordou. - Totalmente.
Logo, chegaram a uma porta grande. Ao abri-la, depararam-se com um buraco escuro. No centro do vazio, uma escada de corda pendia no ar, com degraus de madeira podre, levando para cima.
- O que faremos, Asani? - perguntou Léo, hesitante.
- Escalamos, óbvio. Ou prefere pular direto no buraco? - brincou Asani.
Léo apontou para o espaço entre a borda e a escada. - Temos que pular para alcançar a escada. Não acha que isso significa algo?
- Não acho. Só pula.
Léo foi o primeiro. Ele saltou e agarrou a escada com a mão direita, perdendo o equilíbrio por um momento antes de se firmar. Rapidamente, começou a escalar para abrir espaço para Asani.
Quando Léo alcançou um ponto seguro, Asani saltou. O impacto quase fez a escada balançar demais, mas ele conseguiu se agarrar.
- Tá podre essa escada... - comentou Asani, com nojo, enquanto subia.
- Toma cuidado... - começou Léo, mas sua frase foi interrompida pelo som de madeira rachando.
CRAACK!
- Aaaaaah! - gritou Asani enquanto a escada cedia sob seu peso. - SOCORRO!
Léo, em pânico, estendeu a mão para baixo. - Asani! Não!
Sem pensar, Léo soltou-se da escada e pulou atrás do amigo.
- AAAAAHHHHH! - gritaram os dois em uníssono enquanto caíam no vazio.
No meio do caos, Asani conseguiu gritar: - Seu idiota!
Léo, mesmo em queda, soltou uma risada nervosa. - A gente é uma dupla, lembra?
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
Outra dupla tentava escalar as escadas podres. Quando um dos parceiros caiu, o outro sequer hesitou e continuou subindo sozinho, determinado a chegar ao topo. Ao alcançar o final, encontrou apenas um teto. Ele começou a gritar, tomado pelo desespero e pela raiva.
De repente, a escada desabou sob seus pés, e ele caiu no vazio sem fim.
...ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ...
Um clarão iluminou tudo. Asani e Léo reapareceram em uma sala completamente branca, o vazio ao redor quase cegante.
- Que merda é essa?! TUTOR! CADÊ VOCÊ, SEU DESGRAÇADO?! - gritou Asani, com raiva evidente, seus olhos vasculhando a sala em busca do Tutor.
- Que emocionante, não é? Vocês passaram por três desafios num piscar de olhos - disse o Tutor, surgindo atrás deles, com aquele tom sarcástico e insuportável.
Asani girou imediatamente e agarrou o braço do Tutor, puxando-o para baixo até que seus rostos ficassem na mesma altura.
- Faz isso de novo, e eu juro que te mato - disse Asani, sua voz baixa e afiada como uma lâmina, enquanto apontava o dedo indicador diretamente para o olho do Tutor.
O Tutor gargalhou alto, como se a ameaça fosse a piada mais engraçada que já ouvira.
- HAHAHA! Isso é hilário! Vem, garoto. Tenta me matar, se é que isso é possível. - A risada deu lugar a um tom grave e intimidante no final da frase.
Com um empurrão violento, o Tutor jogou Asani contra a parede.
- Ah... - Asani gemeu de dor ao cair no chão, sentado, o olhar fixo no Tutor, agora com uma mistura de ódio e impotência.
- Apenas quatro duplas passaram nesse teste - continuou o Tutor, ignorando completamente o desconforto de Asani.
- E agora? O que faremos? - perguntou Léo, tentando manter a calma.
- O teste anterior foi projetado para eliminar aqueles que não se importam com seus companheiros. Agora, o próximo teste será diferente. Somente um de vocês passará pela próxima porta. O outro... morrerá. - O sorriso cruel do Tutor congelou qualquer resposta que Léo ou Asani poderiam dar.
Ambos ficaram imóveis, os olhos arregalados enquanto o brilho de esperança se apagava completamente.
- Aliás, Asani... Estou louco para ver você tentar me matar - provocou o Tutor, com um sorriso carregado de escárnio. - Vocês são a melhor dupla até agora. Mas dessa vez, só um de vocês terá permissão para seguir em frente.
- E se eu puder... - Léo hesitou, sua voz trêmula. - E se eu for na frente e completar a prova rápido o suficiente para que o Asani não morra?
O Tutor gargalhou novamente, mas dessa vez com um toque de desprezo. - Que pergunta ridícula! Os outros 152 que ficaram para trás no primeiro desafio estão mortos. Eu criei os melhores desafios, destruí o psicológico deles... Explodi suas esperanças uma por uma.
Ele se voltou para Asani com um sorriso diabólico.
- Então, Asani, quem é que tem ideias no banho mesmo? Me diz, garoto.
- Como ousa quebrar sua promessa?! - gritou Asani, levantando-se, o corpo tremendo de raiva enquanto caminhava em direção ao Tutor.
- Que promessa? - disse o Tutor, mantendo sua postura fria. - Eu nunca prometi nada. Foram vocês que se colocaram nessa situação. Eu nunca faço promessas que não posso cumprir.
Léo tentou intervir, sua voz tomada pela confusão. - Mas... só um de nós pode sobreviver? Por quê? Isso não faz sentido!
O Tutor sorriu maliciosamente. - Esta é uma dungeon de rank S. Isso significa que, no final, apenas um pode sobreviver. Se houver mais de um sobrevivente, o propósito da dungeon não é alcançado. Pouco sofrimento para um grande poder? Qual seria a graça disso?
Ele caminhou lentamente ao redor deles, como um predador se divertindo com suas presas.
- A verdadeira essência de uma dungeon como esta é trazer à tona o verdadeiro "eu" do caçador. E nada revela mais quem vocês são do que estar entre a vida e a morte.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor, enquanto Asani e Léo se encaravam, incapazes de encontrar uma saída para o cruel jogo do Tutor.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Rute Luiza
complicado!!!!
2022-11-08
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