Escolhas e Consequências

"Todos são responsáveis por suas escolhas. Até mesmo não escolher é, em si, uma escolha."

Asani e Léo avançavam pela dungeon. As paredes, cobertas de musgos exóticos que brilhavam levemente, pareciam sussurrar segredos antigos. A cada curva, o silêncio era preenchido pelo som de seus passos e da respiração irregular, até que se depararam com uma bifurcação.

Dois caminhos. Um para a esquerda e outro para a direita. Ambos mergulhavam na escuridão após alguns metros, mas cada um carregava uma história que apenas os ossos espalhados no chão poderiam contar.

Asani puxou os fios rebeldes de seu cabelo longo, tentando afastá-los do rosto. Irritado por não ter um amarrador, prendeu o cabelo na mão por um momento antes de soltá-lo, resignado. Respirou fundo, mas a tensão no ar era palpável. Ele começou a apontar alternadamente para os dois caminhos.

– U-ni-du-ni-tê... – murmurou, baixinho.

– Tá brincando? – Léo interrompeu, puxando o braço do amigo com força. – Isso não é hora pra sorteio! Precisamos pensar, analisar.

– Calma aí, senhor analítico – Asani respondeu, tentando aliviar a tensão. Ele deu um passo à frente, olhos semicerrados, examinando os dois caminhos. – Tá bom, Sherlock. Qual sua grande análise, então?

– Olha... – Léo hesitou, mas manteve o tom sério. – Ossos. O caminho da direita tá cheio deles logo na entrada. Isso pode ser um aviso.

Asani inclinou a cabeça, pensativo.

– Ou pode ser o contrário. Pode ser o caminho certo.

– E se for uma armadilha? – Léo rebateu, cruzando os braços.

– Armadilha no começo da dungeon? Improvável. Se o objetivo é chegar ao Ring no topo, o caminho certo deveria nos levar para cima. Mas... – ele fez uma pausa, observando a concentração de ossos no chão da direita. – Por que os ossos estariam aqui?

Léo franziu a testa, incomodado.

– Talvez porque quem foi por ali não conseguiu voltar.

– Ou porque enfrentaram algo assustador no outro lado e decidiram voltar por aqui – ponderou Asani, passando a mão pelo cabelo outra vez. Ele olhou para os dois caminhos como se pudesse enxergar além da escuridão.

O silêncio se estendeu por longos segundos até Asani quebrá-lo, apontando para Léo com empolgação repentina.

– Espera! Você viu o Tutor antes de entrarmos, não viu? Ele levantou a mão esquerda!

– Levantou? – Léo tentou se lembrar, seus olhos semicerrados em concentração. – É... acho que sim. Ele ficou o tempo todo com os braços abaixados antes disso.

– Exatamente. E se ele estava tentando nos dar uma dica? – Asani deu um sorriso tenso, mas esperançoso.

Léo olhou para o caminho da esquerda, ainda hesitante.

– Tá dizendo que vamos basear nossa vida nisso?

– A vida é cheia de riscos, amigo. E essa é a melhor pista que temos. – Asani deu um tapinha no ombro de Léo e começou a caminhar para a esquerda.

Os dois avançaram em silêncio. Após horas de caminhada – ou assim parecia –, o calor da dungeon começou a cobrar seu preço. Seus corpos estavam encharcados de suor, e a respiração de ambos ficou mais pesada.

– Mano, tô morto – Asani ofegou, limpando a testa com a manga. – O Tutor disse que a gente não passa fome, mas não disse nada sobre não cansar. Como vamos continuar assim?

– E se a dungeon tá testando mais do que nossa força? – Léo respondeu, a voz grave. Ele parou, olhando para a escuridão à frente. – Tá sentindo isso?

Um som distante reverberou, algo entre um sussurro e o arrastar de correntes. Os dois congelaram no lugar.

– Que diabos foi isso? – Asani sussurrou, os olhos arregalados.

– Talvez... talvez a gente tenha escolhido errado.

...****************...

Em um piscar de olhos, Asani e Léo foram lançados para dentro de um corredor estreito. À esquerda, uma porta de vidro embaçada; à direita, uma parede de cimento frio. O teto, coberto por plantas pendentes, deixava escapar gotas de água que caíam irregularmente no chão úmido.

Uma dessas gotas escorreu pelo rosto de Léo, atingindo seu olho. Ele deu um pequeno pulo, murmurando:

– Droga...

Asani olhou ao redor, a respiração acelerada.

– Que lugar é esse? – perguntou, enquanto passava os dedos pela parede úmida, tentando encontrar alguma pista.

Quando ele se aproximou da porta de vidro, percebeu uma figura indistinta do outro lado. De repente, um estrondo. Uma mão bateu violentamente contra o vidro, fazendo os dois recuarem instintivamente. A silhueta pressionava a testa contra o vidro.

– Pensa fora... pensa em mim! – gritou a pessoa, a voz carregada de desespero.

O som ecoou pelo corredor, gelando o sangue dos dois. Léo deu um passo à frente, hesitante.

– O que você disse?

Antes que pudesse obter uma resposta, um estampido alto rasgou o ar. Um tiro.

Asani e Léo ficaram paralisados enquanto o corpo da pessoa do outro lado do vidro se arqueava para frente. Mais tiros seguiram, ecoando como trovões, até que a figura desabou no chão. Os dois apenas olhavam, boquiabertos, enquanto os olhos tremiam, capturando cada detalhe do horror. Pela primeira vez em suas vidas, haviam visto alguém morrer.

O tempo parecia desacelerar. Seus músculos travaram, as mãos tentaram se fechar, mas estavam rígidas. De repente, o sangue que encharcava o chão desapareceu, junto com o corpo. Tudo o que restava eram ossos.

Sem aviso, a porta de vidro se abriu com um ranger seco, expondo um caminho sombrio. Do teto, uma voz grave reverberou pelo corredor:

– Vocês têm duas chances. Errem... e terminarão como a última pessoa que esteve aqui.

O medo era palpável. Léo passou a mão pelo rosto suado, tentando disfarçar o tremor que dominava seu corpo.

– Fudeu... a gente vai morrer!

Asani segurou o ombro do amigo, apertando com força.

– Foi você quem quis vir, então cala a boca e pensa.

A voz continuou, indiferente à conversa:

– Este é o desafio especial. Apenas uma pergunta será feita. Qual a cor do céu?

Os dois se entreolharam, incrédulos. Léo foi o primeiro a reagir, levantando o dedo como se estivesse na escola:

– Azul?

Um silêncio desconfortável preencheu o corredor. Depois de alguns segundos, a voz ecoou novamente:

– Por que está perguntando?

Léo franziu a testa, irritado.

– Você não disse que faria só uma pergunta, seu idiota assassino?!

A voz riu, um som baixo e cruel.

– Eu poderia matá-lo agora por sua insolência. Mas não o farei. A pergunta é simples: qual a cor do céu?

Asani puxou o braço de Léo, tentando acalmá-lo.

– Não tem cor – respondeu Asani, com uma voz firme.

– Sua afirmação está errada – retrucou a voz imediatamente.

Léo começou a murmurar, relembrando as palavras da mulher que havia morrido.

– "Pensa fora... pensa em mim..." E se for uma pista?

– Léo, ela está morta! – rebateu Asani, o tom impaciente.

– E se ela não tivesse dito algo tão óbvio porque... sei lá, ela queria nos ajudar de outro jeito?

Léo deu um passo à frente e gritou para o teto:

– Vermelho! O céu hoje é vermelho!

Asani arregalou os olhos e rapidamente agarrou o amigo em um mata-leão, tentando silenciá-lo.

– Você tá louco?! Cala a boca, idiota!

A voz pausou, como se estivesse considerando a resposta.

– Por que vermelho?

Léo, com o rosto pressionado pelo braço de Asani, gritou:

– Porque hoje um inocente morreu! E você sabe disso, seu assassino!

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Então, a voz finalmente respondeu:

– Se acalmem. Vocês passaram. Estão vivos.

Léo soltou um suspiro trêmulo, mas Asani ainda mantinha o aperto firme.

– E ela? – perguntou Asani, a voz carregada de fúria e desespero. – Ela morreu por nada?

A voz respondeu, sem emoção:

– Ela não era ninguém. Eu a criei. Esse desafio era apenas um teste.

Asani soltou Léo, os olhos brilhando de raiva e confusão. Ele olhou para o lugar onde o corpo havia caído momentos antes, mas tudo o que restava era o vazio.

– Apenas um teste... – Asani murmurou para si mesmo, com as mãos cerradas em punhos.

– E agora? – perguntou Léo, olhando para o amigo.

A porta à frente deles se abriu com um ruído agonizante. Eles sabiam que tinham que seguir em frente, mas algo havia mudado. Esse teste não era apenas sobre respostas. Era sobre como cada passo deixaria uma cicatriz em suas almas.

...****************...

Num piscar de olhos, Asani e Léo aparecem em movimento, quase tropeçando ao virar uma curva em um longo corredor.

– Finalmente! Chegou alguém... NÃO! Chegaram DOIS! – gritou um homem de longe. Sua voz ecoava, carregada de alívio e excitação. A barba desgrenhada e suja era sua marca mais notável, sinal de meses sem cuidado.

Logo, um coro de vozes irrompeu de trás de uma grande porta. Homens e mulheres sujos, exaustos, mas subitamente animados, gritavam e comemoravam.

– Uhuuul! Finalmente!

Léo olhou ao redor, confuso.

– O que é isso? – perguntou ao homem barbudo que havia gritado.

O homem se aproximou correndo, lágrimas brilhando em seus olhos. Ele falava rápido, quase sem respirar.

– O desafio número um precisa de 200 pessoas. E olha só, AGORA temos 200! Cara, eu tô tão feliz! Já faz... já faz muito tempo que estou aqui!

Uma lágrima escorreu por seu rosto, limpando a sujeira acumulada e deixando uma linha nítida de pele limpa. Ele riu, mesmo entre soluços de emoção.

Asani franziu a testa.

– Pelo que eu sei, mais de mil pessoas já entraram aqui. Como só restam 200?

O homem balançou a cabeça, ainda sorrindo, mas com um brilho sombrio no olhar.

– Ah, teve um minotauro... Ele matou muitos. E se você errar o caminho, também morre. Dizem que o caminho à direita está cheio de minotauros, mas ninguém voltou para confirmar...

Léo encarou o homem, sentindo o peso da atmosfera.

– Ei, que dia é hoje?

– Cinco de agosto de 2022. Por quê? – respondeu Léo.

O homem caiu de joelhos no chão, como se tivesse levado um golpe no estômago.

– Não... não falem nada sobre que dia é hoje para os outros. Ninguém pode saber!

Asani se abaixou, falando baixo, mas com firmeza, para que apenas Léo e o homem pudessem ouvir.

– Entendi. Vocês não sabem que dia é hoje... Nem há quanto tempo estão aqui, certo?

Léo arregalou os olhos, engolindo em seco, mas não disse nada.

– Atemi! Anda logo e traz eles! – gritou outro homem ao longe, revelando o nome do barbudo.

– Estamos indo! – respondeu Atemi, levantando-se de repente, como se nada tivesse acontecido.

Ao virar outra curva, Asani e Léo encontraram dezenas de homens e mulheres agrupados diante de uma porta monumental de metal escuro.

– Tutor! – gritou um dos presentes.

Um homem flutuou acima da multidão, sua presença quase etérea, mas carregada de autoridade. Seus olhos vasculharam os recém-chegados sem pressa.

– Que comece o primeiro desafio da dungeon – anunciou ele, e com um movimento de sua mão, a enorme porta se abriu, revelando uma sala imensa e fria.

A multidão explodiu em gritos eufóricos. Para muitos, meses de tédio tinham se resumido àquele momento. Alguns haviam perdido a sanidade; outros haviam tirado a própria vida, incapazes de suportar a espera.

– Após todos entrarem, revelarei o desafio – disse o Tutor, um sorriso discreto surgindo em seu rosto.

Asani e Léo entraram junto com os outros, observando a sala enquanto ela se enchia lentamente. O espaço interno era muito maior do que parecia por fora.

– Isso aqui desafia a física – murmurou Léo, olhando para Asani.

O Tutor elevou sua voz, que ecoou por toda a sala, embora fosse falada em um tom normal.

– O primeiro desafio é simples: dos 200 que estão aqui, apenas 50 continuarão. Vocês têm duas horas para resolver isso. O tempo será exibido no telão.

Acima, um telão apareceu magicamente, começando a marcar o tempo. A sala mergulhou em um silêncio opressivo. Ninguém sabia o que fazer.

O Tutor, irritado, gritou:

– QUEREM ARMAS? É ISSO?!

O grito quebrou o silêncio, e um caos começou. Alguns homens começaram a brigar, socando qualquer um que estivesse por perto. Mulheres gritavam, tentando se afastar.

– PAREM! – um homem barbudo ergueu a voz, firme e resoluto. – Não aceitaremos isso!

O Tutor flutuou mais baixo, com um olhar de escárnio.

– Vocês não conseguem interpretar? Nunca disse que precisavam se matar. Quero 50 reunidos em um canto, e os outros aceitando isso. Se não conseguirem decidir, podem resolver do jeito antigo: o mais forte sobrevive.

Um suspiro coletivo de alívio percorreu a sala. Muitos começaram a se organizar, sentando no chão em círculo, como uma sala de aula improvisada. O homem barbudo assumiu o papel de líder.

– Tutor – chamou ele.

– Sim?

– Quero um microfone para falar com todos.

– Não precisa de microfone. Farei com que todos o ouçam.

– Perfeito.

Sua voz ecoou pela sala, clara e autoritária:

– Aqueles que não quiserem continuar, podem voltar à porta de entrada. Não há vergonha em desistir.

Algumas pessoas se levantaram e começaram a sair, reduzindo o grupo para cerca de 100 pessoas.

– Eu pagarei aqueles que desistirem – continuou ele, erguendo a mão e mostrando seu Ring, uma demonstração de poder e confiança.

– Ele é um caçador de Rings? – cochichou Asani para Léo.

– Provavelmente.

Mais 25 pessoas saíram, agora restando 75.

Uma mulher, com uma postura elegante e um olhar penetrante, levantou a mão. O Tutor a autorizou a falar.

– Se não sobrarem 50 ao final do tempo, eu mesma matarei os restantes. Mas se os homens daqui desistirem, prometo realizar um desejo para cada um quando sairmos.

Asani deu um passo na direção da porta, sorrindo.

– Falou, Léo. Tô indo.

Léo o puxou pelo braço.

– Eu tava brincando, tá? – Asani levantou as mãos para seu amigo, fingindo inocência.

– Gatinha, não esquece da gente! – alguns homens comentaram, arrancando risadas abafadas.

O cronômetro marcava 1h20min restantes. O verdadeiro desafio ainda estava apenas começando.

Mais populares

Comments

Rute Luiza

Rute Luiza

parece round 6 sem as mortes.

2022-11-08

0

Mikaelle Fioravante

Mikaelle Fioravante

Misericórdia, 7 meses?!

2022-07-07

1

Mikaelle Fioravante

Mikaelle Fioravante

Tô ficando tensa junto ;-;

2022-07-07

1

Ver todos
Capítulos
Capítulos

Atualizado até capítulo 55

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!