Três anos se passaram desde aquele episódio que mudou a vida de todos. O tempo parecia ter colocado cada um em um novo rumo. Pedro agora era presidente da empresa, com a postura firme e determinada que o cargo exigia, mas ainda havia em seu coração um peso que insistia em permanecer. A mágoa do passado não havia desaparecido por completo, e em alguns momentos, quando estava sozinho, ele se via questionando se teria tomado as decisões certas.
Júlia, por sua vez, havia se tornado sua advogada de confiança. Trabalhando lado a lado com Pedro, ela conquistará respeito e admiração não só pelo profissionalismo, mas também pela lealdade inabalável. No entanto, apesar da rotina intensa, havia algo dentro dela que oscilava constantemente: a dúvida sobre seus sentimentos. Será que ainda existia aquele amor escondido? Ou o tempo havia apagado o fogo, restando apenas uma brasa adormecida?
Henrique havia seguido seu sonho, consolidando-se como um dos estilistas mais renomados do mundo da moda. Sua vida parecia um desfile constante, cheia de sofisticação, mas ele nunca deixou de se importar profundamente com os amigos. Já Júlio, decidido e ousado, se tornara independente de sua família, construindo seus próprios negócios e provando a si e a todos que era capaz de se erguer por conta própria.
Apesar das conquistas, tanto Henrique quanto Júlio viam claramente aquilo que Pedro e Júlia não conseguiam enxergar: uma conexão especial, que ainda precisava ser resolvida. Eles desejavam ver os dois juntos, acreditando que só assim ambos encontrariam a verdadeira paz.
Foi então que, em uma conversa animada e cúmplice, decidiram preparar uma surpresa. Júlio ofereceu um de seus restaurantes, que seria fechado exclusivamente para os dois naquela noite. O ambiente seria romântico, acolhedor e, ao mesmo tempo, íntimo, ideal para uma conversa franca. Coube a Henrique a missão de levar Pedro e Júlia até o local, sem que desconfiassem da intenção real.
Naquela noite, o carro de Henrique deslizou pelas ruas iluminadas da cidade. Pedro, com seu terno impecável, observava pela janela, enquanto Júlia ajeitava discretamente os cabelos, sentindo uma ansiedade inexplicável. Ao chegar, eles se depararam com a fachada do restaurante fechado.
Henrique abriu a porta do carro com um sorriso travesso e, inclinando-se até o ouvido de Júlia, sussurrou:
– Aproveita a noite! E... boa sorte!
Ela arregalou os olhos, sem entender muito bem, mas antes que pudesse questionar, ele já estava conduzindo-os até a entrada.
– O que é isso tudo? Alguma data especial? – perguntou Pedro, franzindo o cenho, desconfiado.
– Sim, com certeza, hoje será! – respondeu Henrique, com um brilho divertido no olhar, entregando-os ao garçom que os esperava.
A mesa estava lindamente decorada com velas, flores discretas e uma garrafa de vinho tinto repousando em um balde de gelo. O ambiente exalava uma atmosfera romântica.
– Aproveitem a noite! – disse Henrique, despedindo-se.
– Espera aí, você não vai ficar? – estranhou Pedro.
– Não, tenho outro compromisso. – respondeu rapidamente, saindo antes que mais perguntas fossem feitas.
Um garçom se aproximou e, com delicadeza, ofereceu vinho aos dois. Pedro e Júlia se entreolharam, ainda confusos, mas aceitaram. As taças tilintaram em um brinde silencioso.
– Você sabia disso tudo? – perguntou Pedro, arqueando a sobrancelha.
– Não estou tão surpresa quanto você... – respondeu Júlia, dando um gole no vinho, tentando disfarçar o nervosismo.
Pedro olhou em volta, suspeitando da armação.
– O que esses dois estão aprontando?
– Bom... acho que eles estão me ajudando. – disse Júlia, sorrindo de leve.
– Te ajudando? Com o quê? – insistiu ele, curioso.
– A me declarar para você! – respondeu ela, soltando uma risada nervosa.
Pedro engasgou com o vinho.
– O quê? Gulp! Glup! – tossiu, batendo no peito.
– É sério. Eu fui apaixonada por você por muito tempo. – disse Júlia, respirando fundo, como se liberasse um peso guardado no peito. – Mas, com medo de estragar nossa amizade, nunca tive coragem de dizer nada.
O silêncio pairou entre eles por alguns segundos. O coração de Júlia disparava, suas mãos tremiam levemente embaixo da mesa. Já Pedro a olhava surpreso, tentando processar aquelas palavras.
– Nossa... eu não sei o que te dizer. – começou ele, ainda atônito. – Sempre tive um carinho enorme por você, mas como amiga. Desculpe, por nunca perceber e... por não corresponder aos seus sentimentos.
O rosto de Júlia corou, mas em vez de tristeza, ela sentiu alívio.
– Não precisa se preocupar. Eu já superei isso. Estou bem. – afirmou, sorrindo com sinceridade. – Nossa, como é bom finalmente colocar isso para fora. E, olha, foi bem engraçado ver a sua reação. – riu, quebrando a tensão.
Pedro balançou a cabeça, fingindo indignação.
– Sua engraçadinha! Mas você não avisou aqueles dois idiotas que não sente mais nada por mim?
– Faz tempo que não temos tempo para conversar. Cada um, anda tão ocupado com seus compromissos que eu nem consegui atualizá-los sobre isso. – explicou ela.
O jantar seguiu descontraído. Eles riram de memórias antigas, falaram sobre conquistas recentes e, por alguns instantes, esqueceram as dores do passado. O restaurante fechado, silencioso, parecia um refúgio só deles, onde a amizade era celebrada em sua forma mais pura.
Quando terminaram, Pedro insistiu em levá-la até em casa. No carro, o silêncio confortável entre eles dizia mais do que palavras. Ao deixá-la em frente ao prédio, Júlia sorriu, sentindo que havia encerrado um ciclo.
– Obrigada por hoje. – disse ela suavemente. – Foi importante para mim.
– Eu que agradeço. – respondeu ele, sério, mas com um brilho de reflexão nos olhos.
Naquela noite, deitado em sua cama, Pedro se revirou, pensativo. Sentia-se um idiota por nunca perceber os sentimentos dela, e se perguntava se, de alguma forma, tinha perdido uma chance que jamais voltaria.
No dia seguinte, quando se encontraram no elevador da empresa, o clima ainda estava diferente.
– Bom dia! – disse Pedro, tentando soar casual.
– Bom dia! – respondeu Júlia, com um sorriso discreto.
Ele a observou por alguns segundos e, num tom brincalhão, comentou:
– Você tem certeza de que não me ama mais? Afinal, eu sou um super partidão... pelo menos é o que as mídias dizem.
Júlia revirou os olhos, rindo da provocação.
– Sim, com certeza. Não sinto mais nada por você. Desse mal eu não sofro mais. –Retrucou. – Eles só falam isso porque não te conhecem de verdade. Quem não te conhece que te compre!
Os dois riram juntos, o som ecoando pelo pequeno espaço do elevador, como um lembrete de que, apesar de tudo, a amizade deles era forte o suficiente para resistir ao tempo, às dores e até às revelações mais inesperadas.
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Atualizado até capítulo 20
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