Lembranças De Uma Paixão

Lembranças De Uma Paixão

CAPÍTULO 1 - AMOR SECRETO

Após as festas de fim e início de ano, Júlia finalmente cria coragem para declarar seu amor por Pedro, seu melhor amigo desde os 15 anos. A decisão não veio de repente; ela vinha amadurecendo esse desejo há meses, talvez anos. Era como se um peso estivesse em seu peito, pedindo para ser liberto, mas o medo sempre falava mais alto. Agora, entretanto, ela sentia que não podia mais adiar.

Enquanto se arrumava diante do espelho, uma lembrança antiga lhe veio à mente, quase como um filme: o dia em que conheceu Pedro.

Era seu primeiro dia em uma escola nova. O corredor estava lotado de alunos que já tinham suas rodas de amigos, suas histórias, suas piadas internas. Júlia, por outro lado, se sentia invisível, perdida entre tantas caras desconhecidas.

Foi então que uma voz alegre se aproximou:

– Oi! Meu nome é Pedro, e o seu? – disse ele, estendendo a mão com um sorriso genuíno.

– Oi... Ah! Eu me chamo Júlia – respondeu ela, envergonhada, mas grata por aquele gesto inesperado.

Logo depois, Pedro apresentou os amigos:

– Estes são Henrique e Júlio.

Os dois acenaram de forma simpática, e Pedro a convidou para se juntar ao grupo. A partir daquele dia, nasceu uma amizade sólida entre os quatro, uma ligação que parecia inquebrável. Mas, no coração de Júlia, também nasceu um sentimento diferente: um amor silencioso por Pedro, que foi crescendo a cada risada compartilhada, a cada segredo trocado, a cada olhar demorado.

O problema é que ela nunca teve coragem de confessar. O medo de perder a amizade, de estragar tudo, a paralisava. Porém, agora, ela queria enfrentar o destino, assumir as consequências, fossem elas boas ou ruins.

Naquela manhã, após tomar um banho demorado, Júlia escolheu cuidadosamente a roupa que usaria. Queria parecer natural, mas, ao mesmo tempo, transmitir algo especial. Optou por uma blusa clara, que realçava o tom suave da sua pele, e calças jeans simples. Ao se olhar no espelho, inspirou fundo, tentando controlar o nervosismo.

Na cozinha, tomou seu café da manhã rapidamente. Ao sair de casa, percebeu que o céu estava coberto de nuvens pesadas, prenunciando chuva. Voltou correndo para dentro, pegou o guarda-chuva e seguiu até o ponto de ônibus.

No caminho, começou a chuviscar, e ela abriu o guarda-chuva. Minutos depois, a chuva engrossou tanto que parecia um dilúvio. Por sorte, o ponto de ônibus era coberto; caso contrário, já estaria completamente encharcada, porque seu guarda-chuva jamais resistiria àquela tempestade.

Enquanto esperava, distraía-se mexendo no celular, sem notar as grandes poças de água que se formavam no asfalto. Foi pega de surpresa quando um carro passou em alta velocidade, espirrando água gelada sobre ela.

– Ah, não! – gritou, levantando os braços em desespero.

Molhada da cabeça aos pés, Júlia sentiu a raiva subir. Começou a xingar o motorista, chamando-o de todos os nomes feios que conhecia. Só após alguns minutos, já, mais calma, percebeu que estava ridícula ali, ensopada. Voltou para casa cabisbaixa, desistindo de tudo o que tinha planejado para aquele dia.

Uma semana depois, a coragem voltou. Júlia decidiu convidar Pedro para uma cafeteria próxima da faculdade, onde ambos faziam pós-graduação – ela em Direito e ele em Química. Chegou primeiro, com o coração acelerado, e logo viu Pedro entrando, trazendo consigo aquela energia que sempre a fazia sorrir.

– Oi! – disse ele, cumprimentando-a com um abraço caloroso.

Sentaram-se na mesa de sempre, aquela que já havia testemunhado tantas conversas, estudos e risadas.

O atendente se aproximou, bloco de notas na mão.

– O que vocês vão querer?

– Café com leite – respondeu Pedro sem pensar muito.

– O mesmo, mas com leite de soja, por favor – pediu Júlia, preocupada com sua intolerância.

– Então... o que você queria conversar comigo? – perguntou Pedro, pegando o celular para dar uma rápida olhada nas notificações.

Júlia respirou fundo, pronta para começar, mas foi interrompida pelo atendente que voltou com os cafés. Nervosa, ela pegou o primeiro copo e bebeu um gole grande, tentando se acalmar.

Pedro também experimentou o dele, mas fez uma careta.

– Argh! Tem alguma coisa estranha no meu café.

Foi só então que Júlia percebeu: ela havia bebido o café dele, com leite de vaca, e não o dela com leite de soja. Antes que pudesse reagir, seu estômago já começou a protestar.

– Goro goro... – fez o barulho constrangedor, e Júlia saiu correndo em direção ao banheiro.

Trinta minutos depois, ainda com dores e extremamente envergonhada, voltou para a mesa.

– Você está bem? – perguntou Pedro, visivelmente preocupado.

– Sim, só preciso ir para casa tomar meu remédio – respondeu, forçando um sorriso.

– Eu te levo – ofereceu ele, atencioso.

– Não precisa, você deve estar atrasado. Eu pego um táxi – disse ela, sinalizando para um veículo.

Pedro segurou a porta do táxi por um instante.

– Tudo bem... mas me liga quando chegar, tá?

Ela assentiu. E, pela segunda vez, a declaração foi adiada.

Na semana seguinte, Júlia resolveu surpreendê-lo no trabalho. Pedro era diretor de produção na Kohl Cosmetic, empresa da qual também era herdeiro. Levou comida para que almoçassem juntos.

– Senhor, a senhorita Júlia está aqui. Posso deixá-la entrar? – perguntou o secretário.

– Júlia? Claro! Deixe-a entrar! – respondeu Pedro, surpreso, mas feliz.

– Está com fome? Eu trouxe comida – disse ela, entrando com um sorriso tímido.

– O cheiro está ótimo! Foi você quem fez? – brincou ele.

– Hahaha, claro que não! Você sabe que eu não sei cozinhar.

Antes que pudessem aproveitar, o telefone de Pedro tocou. Ele atendeu rapidamente.

– Sim... estou indo para lá agora.

– Júlia, me desculpe – disse ele, levantando-se apressado. – Houve um acidente em um dos laboratórios, preciso resolver isso.

– Claro, não se preocupe – respondeu ela, tentando esconder a frustração. – A gente almoça outro dia.

Mais uma vez, a chance se perdeu.

Dias depois, Júlia recebeu uma notificação no celular: mensagem no grupo "Quarteto Fantástico", formado por ela, Pedro, Henrique e Júlio.

Pedro: Pessoal, vamos ao parque sábado! Tenho algo para falar para vocês.

Henrique: Tô dentro!

Júlio: A que horas?

Pedro: Às quatro da tarde, pode ser?

Júlio: Tá.

Henrique: Para mim também.

Júlia: Pode contar comigo! Júlia sentiu que, finalmente, seria sua chance. Henrique e Júlio já sabiam de seus sentimentos e sempre a incentivaram. Talvez, com eles por perto, ela conseguisse falar.

No sábado, o grupo se reuniu no parque. O vento suave balançava as árvores, e o sol já começava a se despedir no horizonte. Júlia estava nervosa, o coração acelerado, mas determinada.

– Bom, eu tenho algo para falar! – disseram ela e Pedro ao mesmo tempo.

– Fala você primeiro – disse ele, sorrindo.

– Não, fala você... depois eu falo – insistiu Júlia.

Pedro respirou fundo, como quem guarda um segredo importante.

– Bom... eu estou namorando – anunciou, radiante.

O mundo de Júlia desmoronou.

– O quê? – exclamaram Henrique e Júlio, tão surpresos quanto ela.

– Ela acabou de chegar – completou Pedro, acenando para uma garota que se aproximava com passos firmes.

Júlia sentiu a garganta fechar, os olhos arderem. Olhou para Henrique e Júlio, que também pareciam incrédulos. A tristeza a invadiu, uma vontade imensa de chorar, mas respirou fundo e tentou disfarçar, escondendo a dor por trás de um sorriso forçado.

Por dentro, no entanto, era como se seu coração tivesse se partido em mil pedaços.

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