Onze meses se passaram desde que Pedro havia apresentado sua namorada aos amigos. Durante esse tempo, a rotina do grupo mudou. Embora continuassem próximos, havia sempre uma certa distância imposta pela presença dela. Júlia, principalmente, guardava dentro de si um desconforto crescente. Algo naquela relação parecia não se encaixar, mas ela jamais imaginaria que seria testemunha de uma cena reveladora.
Naquela tarde de sexta-feira, Júlia estava em um restaurante movimentado da cidade, almoçando com seus colegas de trabalho. O ambiente era barulhento: garçons passando apressados, pratos tilintando, conversas em voz alta misturadas ao som ambiente suave de jazz. Júlia tentava se concentrar na conversa animada dos colegas, mas seus olhos, distraídos, percorriam as mesas ao redor.
Foi então que seu coração disparou. Em uma mesa próxima à janela, ela reconheceu imediatamente a namorada de Pedro. A princípio pensou estar enganada, mas não havia dúvidas: era ela. O choque maior, porém, foi vê-la acompanhada de um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos bem penteados e postura confiante. Ele parecia ter por volta de 45 a 47 anos. Ambos riam com naturalidade, trocando olhares cúmplices e gestos de intimidade que não poderiam passar despercebidos.
Júlia sentiu um frio percorrer sua espinha. Um misto de indignação e curiosidade tomou conta dela. Fingindo naturalidade para que seus colegas não percebessem, levantou-se discretamente e caminhou até uma mesa próxima. O coração batia tão rápido que parecia querer saltar do peito. Ela posicionou-se de forma a ouvir melhor e, com a mão trêmula, pegou o celular, ativando a câmera para gravar sem ser notada.
As vozes chegaram até ela em fragmentos, mas o suficiente para compreender o teor da conversa:
Homem – Vem morar comigo nos EUA! – disse ele, estendendo a mão e entrelaçando-a com a dela.
Namorada de Pedro – Assim, do nada? Minha vida está toda aqui, não quero deixá-la…
Homem – É que, agora que te encontrei, não quero mais ficar longe de você.
Namorada de Pedro – Bom… mas você pode vir me visitar sempre, e eu posso te visitar nas férias.
Homem – Pensa um pouco sobre isso, e depois me dá uma resposta.
Namorada de Pedro – Tá! Vou pensar, mas não cria expectativas.
O coração de Júlia disparou ainda mais. As mãos suavam, mas ela não interrompeu a gravação até o fim da conversa. “Meu Deus… Pedro precisa ver isso”, pensou, sentindo uma mistura de raiva e preocupação.
Foi nesse instante que uma voz atrás dela a fez estremecer.
– Júlia, o que você está fazendo aqui? – perguntou um de seus colegas, com a expressão confusa.
Ela quase deixou o celular cair. Respirou fundo, tentando se recompor.
– Hã… nada, não. Achei que tinha visto alguém conhecido, mas não era ninguém – respondeu, forçando um sorriso.
– Vamos voltar, as nossas comidas já chegaram – disse o colega, puxando-a de volta à mesa.
Júlia assentiu, mas sua mente estava distante. O almoço se tornou um peso; mal conseguiu provar a comida. A cada garfada, lembrava-se do tom doce da traição que havia acabado de presenciar.
Horas depois, em casa, Júlia trancou-se no quarto. A primeira coisa que fez foi assistir ao vídeo gravado. As palavras soavam ainda mais fortes quando repetidas. Cada gesto da namorada de Pedro ao lado do homem a deixava com um nó na garganta. Sem pensar duas vezes, ligou para Júlio e Henrique, pedindo que fossem até seu apartamento.
Quando eles chegaram, a tensão tomou conta do ambiente. Júlia colocou o celular sobre a mesa e deu Play no vídeo. O silêncio predominou enquanto assistiam, e à medida que as falas ecoavam, os semblantes de Henrique e Júlio se transformaram em pura indignação.
– Isso é inacreditável! – exclamou Henrique, fechando os punhos. – Como ela pode fazer isso com o Pedro?
– Eu sabia que tinha alguma coisa errada com ela – disse Júlio, com um riso amargo. – Agora temos certeza.
Os três se entreolharam, e a decisão foi quase instantânea.
– Temos que mostrar isso ao Pedro – afirmou Júlia, categórica.
Henrique pegou o celular e discou o número de Pedro.
– Alô! – atendeu ele, a voz ocupada.
– Pedro, eu e o pessoal temos algo para conversar com você. Tem como nos encontrar agora? – perguntou Henrique.
– Agora não dá, estou entrando numa reunião – respondeu Pedro.
– E amanhã? Você tem tempo?
– Tenho. Na hora do almoço vocês podem passar no meu escritório, e podemos comer juntos.
– Tá ok. Amanhã nos vemos – confirmou Henrique.
O dia seguinte chegou com o peso da expectativa. O trio entrou no escritório de Pedro com os corações acelerados. Para a surpresa deles, lá estava ela, a protagonista do vídeo, sentada confortavelmente na sala. Júlia sentiu o sangue ferver.
– Que bom que você está aqui – disse Júlio, com um riso irônico. – Assim eu vou poder ver como você vai sair dessa.
Ele entregou o celular a Pedro, que assistiu ao vídeo em silêncio. Seu rosto empalideceu, os olhos se fixaram na namorada, buscando desesperadamente uma explicação.
– O que está acontecendo? Quem é este homem? – perguntou ele, a voz pesada.
Henrique se adiantou, apontando para ela.
– Responde!
A mulher engoliu em seco, claramente desconfortável.
– Amor… será que podemos falar a sós? – pediu, a voz quase suplicante.
– Para quê? Para você distorcer tudo e convencê-lo de que isso é mentira? – retrucou Júlia, indignada.
Pedro, firme, respondeu:
– Fala aqui mesmo. Não tenho nada a esconder dos meus amigos.
Ela respirou fundo, mas logo desistiu.
– Já que é assim, não tenho mais nada a fazer aqui. Quando você estiver mais calmo e quiser conversar, sabe onde me encontrar – disse, levantando-se.
Júlia a interceptou.
– Você nos deve uma explicação!
– Eu não devo nada para você, nem para aqueles dois. A única pessoa a quem devo explicações é o Pedro, e ele não quer conversar a sós comigo – respondeu, ríspida.
– Então você não vai se explicar? UAU! Você não presta mesmo – atacou Henrique.
– Pedro, você sabe onde me procurar. Eu não vou ficar aqui ouvindo desaforos dos seus amigos – disse ela, saindo do local.
Júlia foi até Pedro e o abraçou.
– Desculpa por isso, mas eu tinha que te mostrar o vídeo.
– Tudo bem… eu sei que vocês só querem o meu bem. Só preciso de um tempo para digerir tudo – disse ele, com a voz cansada.
Os três amigos se retiraram, deixando Pedro sozinho com seus pensamentos.
Mais tarde, quando saía do trabalho, Pedro foi abordado pela namorada.
– Amor, me escuta, por favor! – implorou ela.
Ele desviou o olhar e seguiu andando, ignorando seus apelos. Nos dias seguintes, ignorou todas as ligações e mensagens.
Na tela do celular, os registros se acumulavam:
– Amor, vamos conversar 💕 – 21:59h
– Por favor, deixa eu me explicar 🙏🙏 – 22:01h
– O vídeo não é o que parece. – 22:02h
– Me responde, vai, por favor 😢 – 22:02h
Nada disso foi suficiente para amolecer o coração de Pedro.
Com a chegada das festas de fim de ano, ele decidiu viajar com a família para a casa de campo. No caminho, mais uma mensagem surgiu na tela:
– Fiquei sabendo que vai ficar uma semana fora. Por favor, me liga quando voltar. Tô com saudades! Te amo! 😘😍🥰 – 22:32h
Pedro suspirou, mas não respondeu.
Após uma semana fora, em meio à tranquilidade da natureza e ao apoio da família, Pedro retornou à cidade mais decidido. Procurou a ex-namorada para resolver a situação de uma vez.
Foi então que recebeu a notícia de um vizinho: ela havia se mudado para os EUA. O homem entregou-lhe um envelope. Pedro o abriu, as mãos tremendo.
Carta:
Pedro, eu estou levando a Bia para os EUA comigo. Por favor, entre em contato por este número xx(xx)xxxxx-xxxx para podermos resolver as coisas. Fico no aguardo do seu contato.
Assinado: Bruce. O coração de Pedro se apertou. Ele amassou o papel com raiva e o jogou fora, como se quisesse apagar de vez aquela página dolorosa da sua vida.
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Atualizado até capítulo 20
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