Pov Ayla
Fico perdida em pensamentos fico pensando em como ele está simplesmente salvando a minha vida colocando a dele em risco. Que cara maluco! —Ai senhor, aonde eu vim paraaaaaar. Saio dos meu pensamentos quando um homem com capuz na cabeça avançou como se tivesse certeza de que já tinha vencido. No movimento dele, um brilho frio passou — arma, decisiva. O mundo reduziu tudo a som: o metal no disparo, o ar rasgando, o coração martelando nos meus ouvidos.
Mas o seguinte foi estranho de tão rápido. Que não deixou o tempo acontecer. Ele saiu do meu alcance com a fluidez de quem já mediu aquele segundo antes — um passo, um estalo, o cheiro de pólvora tão perto que queimou meus pensamentos — e um tiro cortou o ar. Foi seco, limpo, mortífero.
O corpo do capuz tombou pra trás, como se o som tivesse arrancado o eixo dele do mundo. A testa manchou o capuz — uma mancha que não era só sangue, era decisão. Alguém gritou. Alguém vomitou. Eu fiquei parada, como se meu corpo tivesse pensado em ir embora e esquecido como.
O dono do morro ficou imóvel por um segundo, a arma ainda quente na mão. Não tinha comemoração no rosto dele — só aquela calma cruel, de quem já sabia o que ia fazer e fez. Por um instante, eu não reconheci o homem que me protegeu; era como olhar pra uma faca conhecida, agora manchada.
— Vem — ele sussurrou, a voz baixa, urgente. — Agora.
Eu segui, porque seguir era a única coisa que fazia sentido. Corríamos pela rua com a noite abrindo espaço, desviando dos restos da festa, das pessoas que não sabiam se olhavam pra nós como heróis ou culpados. Motos passavam, buzinas, um carro que derrapou. Meu corpo tremeu por dentro e por fora.
Quando finalmente chegamos ao carro dele, tudo aconteceu no automático: a porta se abriu, ele me empurrou pra dentro, sentou ao volante e arrancou como se a noite fosse uma coisa que devíamos atropelar. O percurso até a mansão foi uma grossa linha de passos: ruas, ladeiras, faróis que passavam como olhos curiosos.
POV GUSTAVO
A bala tinha sido limpo. Sempre atirei pra matar quando não há alternativa. Não por prazer — por necessidade. Os caras sabem isso, e quem me conhece sabe que eu não hesito.
No volante, eu tentava não pensar no que tinha feito. Pensar é frio demais; não pensar é perigoso. A patricinha estava do meu lado, as mãos nos joelhos tremendo, os olhos tão grandes que eu quase senti um soco. Cada quarteirão parecia apertar mais.
Quando eu estacionei na entrada da minha mansão, o mundo parecia um lugar que precisava de explicações que não iam sair em voz alta. Abri a porta pra ela com a mesma rapidez com que fechei o beco; não perguntei se ela queria, só a empurrei pro refúgio que eu conhecia melhor que qualquer abraço.
— Entra — disse, seco.
Ela entrou e desabou. Primeiro um choro estrangulado, depois o corpo todo fechando num tremor que parecia vir de dentro — das entranhas, do peito. Ela tentou controlar a respiração e não conseguiu. A crise veio igual tempestade.
POV AYLA
As paredes da mansão me cercaram como se quisessem engolir som. O luxo ali dentro era inacreditável — obras, silêncio cortado só pelo nosso fôlego. Me sentei num sofá profundo e tudo que eu tinha aprendido sobre não perder o controle foi embora com o primeiro soluço.
A respiração ficou curta, o mundo girou, e eu senti um aperto tão grande no peito que achei que ia vomitar. Comecei a xingar sem pensar, palavras que queimavam a garganta:
— Você é bandido. — A frase saiu áspera, sem filtro. — Você mata gente! Como você acha que tem o direito de me tocar? De me levar pra cá? Seu desgraçado!
Minha voz subiu, e eu não queria que subisse. Me arrependi no mesmo segundo, mas não consegui conter. Era culpa, medo, raiva, tudo junto. Eu jogava as palavras como quem tenta afastar um predador.
Ele não respondeu no começo. Só veio até mim e sentou ao lado, sem pressa. O cheiro dele ainda tinha aquele traço de pólvora e suor — confuso, humano. Ele me olhou por um segundo que pareceu pesar mais que qualquer palavra.
— Eu sei — disse ele, finalmente. — Eu sou bandido. E eu sei o que você acha disso.
A raiva me deu mais voz, mais destempero.
— Então por que me salva? — eu gritei. — Por que me puxa de dentro do tiroteio se você é igual a eles?
Nesse instante, ele se aproximou e, sem aviso, me beijou.
Não foi um beijo planejado nem romântico como nos filmes. Foi um beijo que veio das coisas práticas: da necessidade de calar o barulho, de me lembrar que eu ainda era… viva. Eu agradeci por dentro e odiei por fora — tudo junto.
Eu ri no meio do beijo. Um riso curto, nervoso, meio histriônico. Era riso porque a situação era tão absurda que era absurdo não rir. Foi um riso que tinha medo e alívio.
— Você é insano — eu sussurrei quando nos separamos, ainda rindo.
Ele sorriu de volta, um sorriso quebrado de quem não quer se explicar.
— Insano e responsável — respondeu. — Agora vai. Eu te levo pra casa.
POV GUSTAVO
A patricinha tremia, e eu queria proteger antes de prometer qualquer coisa. O beijo foi um ato que me deixou com a cabeça ainda mais cheia de perguntas, mas também fez algo simples: acalmou. Por uns segundos, a respiração dela sincronizou com a minha.
— Fecha os olhos — mandei, mais suave do que pretendia.
Ela fez o que eu pedi. Peguei a jaqueta rasgada e cobri as pernas dela como se fosse um cobertor improvisado. Não era gesto de herói, era gesto de quem estava acostumado a cuidar do que é precioso, mesmo quando esse cuidado custa sangue.
Pegamos a estrada de volta. No caminho, ela dormiu um pouco — respirações longas, sobrancelhas relaxadas — e quando acordei com a casa dela na linha do GPS, eu a levei até a porta.
— Obrigado — disse ela, sem brilho na voz, só com um cansaço que dizia tudo.
— Não agradece — respondi. — Não é pra me reputar um santo.
Ela riu de novo, um riso menor, sem graça. Me empurrou uma última vez, com a mesma ousadia da menina que aprendeu a se proteger sozinha.
A noite fechou atrás de mim. Eu dirigi de volta pra mansão, sabendo que havia um preço a pagar por tudo aquilo. Mas também sabendo de outra coisa: naquela noite eu salvei alguém que, por algum motivo, eu não estava disposto a perder. E isso não tinha volta.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Leitora compulsiva
o patrão xonou na Paty 🤭🥰
2025-10-29
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