Pov Ayla
Antes que eu pudesse retrucar, um estrondo cortou a música.
PAH! PAH! PAH!
Tiros.
Gritos se espalharam rápido. O DJ desligou o som e a batida morreu como se nunca tivesse existido.
O peito apertou.
Não de medo… mas de realidade.
O brilho do baile virou caos.
O brilho das armas virou regra.
Mãos me empurraram por todos os lados. Todo mundo queria escapar. Eu só queria entender.
— O que tá acontecendo? — perguntei, mesmo sabendo que a resposta era óbvia.
Foi quando senti:
As mãos dele agarraram minha cintura e me puxaram de volta para o peito dele.
— Fica atrás de mim — o homem ordenou.
— Eu sei andar sozinha — tentei recuar.
Ele virou o rosto pra mim, os olhos escurecidos, sem nenhuma paciência:
— Não aqui.
Não agora.
⸻
POV GUSTAVO
O primeiro tiro eu já sabia de onde vinha.
O segundo confirmou que não era barulho de comemoração.
Facção rival.
Filhos da puta acharam que hoje era dia de arrumar confusão no meu território.
A patricinha ainda tenta fingir coragem, mas o jeito como a respiração dela falha me entrega que ela entendeu:
Isso aqui é guerra.
E guerra não é lugar pra patricinha nenhuma.
— Me solta — ela insiste, empurrando meu peito.
Deus, essa menina vai me matar.
Pego a mão dela de novo e aperto firme.
— Cê acha que eu vou te largar no meio disso? — rosno — Você tá ficando maluca?
Ela abre a boca pra retrucar, mas outro disparo corta o ar e eu empurro ela contra a parede, protegendo com meu corpo.
Ela olha pra mim com indignação.
Eu olho pra ela com raiva.
Mas é raiva do medo que ela me faz sentir.
— Você tá com medo? — ela provoca, como se fosse engraçado.
Eu solto um riso curto, sem humor.
— Eu tô com raiva de já ter me importado com você.
Ela pisca.
E nesse microsegundo, tudo muda.
Eu senti quando alguém apontou pra ela.
POV AYLA
Vi a arma apontada na minha direção, o dedo no gatilho e só consegui pensar em como eu fui me meter em um lugar desses. E ainda por cima um homem totalmente desconhecido que por sinal é um gostoso servindo de escudo pra mim.
O som veio direto pelo meu corpo, como se alguém tivesse quebrado vidro dentro do meu peito. A pressão dos dedos do homem na minha cintura aumentou — firme, urgente. Senti o calor do corpo dele como escudo; o cheiro de suor e pólvora me acordou de vez.
— Sai daqui! — ele berrou no meu ouvido, e eu só consegui pensar: como assim sair? A pista estava lotada, não dava pra atravessar a plateia sem virar alvo.
A luz do palco oscilou. Um corpo caiu mais à frente. Gritos cortaram tudo de novo — agora misturados com passos, corridas, alguém chorando alto demais. Meu mundo encolheu até caber só entre as costas do homem e o concreto da parede.
Quando consegui puxar o fôlego, vi a expressão dele. Não era só raiva ou proteção — tinha cálculo lá, nervo exposto. Homem analisava a saída, os corredores, os seguranças que sem querer pareciam estar do lado errado.
— Tem uma saída de serviço ali — murmurou, apontando com o queixo para um corredor estreito iluminado por uma lâmpada falhando. — Me segue e fica colada em mim. Sem drama.
Eu queria protestar. Queria dizer que não precisava dele — que desde que meus pais foram embora eu andava sozinha. Mas tudo isso era ridículo perto do som de outra arma sendo engatilhada. Então eu segui.
⸻
POV GUSTAVO
Ela me segue, grudada como uma sombra que não consegue se soltar. Bom. Melhor assim. Eu noto cada movimento das pessoas, cada cor de roupa que pode esconder um revólver. Não é a primeira briga que tem meu nome no meio — e não vai ser a última. Hoje, a diferença é que tem ela comigo. E isso complica mais do que ajuda.
Na saída de serviço, um cara alto bloqueia a passagem com o cotovelo. Reconheço o corte no rosto dele — é o Mário, um dos mais violentos da facção rival. Ele sorri quando me vê, e o sorriso dele é uma lâmina.
— Gv — chama, lindo de ódio. — Hoje não devia ter vindo pro baile, seu otário.
Eu respondo com um passo pra frente e a mão embaixo do casaco. Não tem tempo pra fala fiada. Mário dá um passo, e eu já sei que os outros dois atrás dele vão cercar a gente.
— Atrás — eu digo pra Ayla, e antes que ela possa argumentar, empurro-a com a lateral do corpo. Não brutal — só o suficiente pra colocar minha barra de corpo entre ela e o que vem.
O primeiro soco vem em mim. Recebo no braço, sinto o impacto. O segundo é um chute no estômago; mando ele pra trás com um gancho baixo. Não tenho vontade de lutar. Tenho vontade de sair. De sair dali com ela.
No entanto, quando o terceiro cara pega a arma, o tempo vira. O corpo do Mário se moveu como se quisesse atirar — e eu não pensei. Agi.
Joguei meu corpo na frente da Ayla como se fosse a última coisa que eu fosse proteger. O tiro acertou a jaqueta — senti o calor, ouvi o som seco; a arma caiu. A bala perfurou tecido, rasgou couro, e passou rente ao meu braço. Não deu tempo de sentir dor direito — só a necessidade urgente de tirar ela dali.
Puxei Ayla pelo braço, derrubando o resto pela lateral. Corremos pelo corredor de serviço, com a música distante virando um martelar surdo. Atrás de nós, o barulho aumentava — carros buzinando, pessoas correndo, talvez mais tiros.
Quando finalmente chegamos a uma porta que dava para um beco, empurrei com o ombro e puxei ela para dentro. O ar do lado de fora era frio e cheirava a chuva que não tinha vindo ainda. Eu encostei a porta para tentar ouvir: calma, respiração, nada. Só passos que sumiam na distância.
Ayla se afastou dois passos, o olhar grande demais para o meu próprio corpo.
— Você tá sangrando — ela falou baixo, e a voz dela tremia, mas não de pavor — de susto.
Olhei pra minha jaqueta rasgada, pro sangue que manchava a manga. Era só um corte, não muito profundo, mas estava ali, quente e real.
— Vai sarar — respondi, e a mentira saiu pequena. — Mas a gente tem que ir. Ainda tem gente lá.
Ela me encarou. Pela primeira vez, o brilho falso da patricinha caiu de vez — e no lugar apareceu algo menos confortável, um tipo de respeito que eu não pedi e que me deixou com vontade de rir.
— E o que você vai fazer? — perguntou ela, com uma calma que eu não esperava. — Vai me levar pra casa? Vai me largar na calçada? Vai me entregar pro próximo que aparecer?
A raiva veio de novo, dessa vez mais contida. Segurei a borda da jaqueta, o tecido molhado, e decidi pelo que sempre decido ao sentir raiva: mover.
— Vou te tirar daqui. — E eu ia fazer exatamente isso.
Quando nos viramos pra sair do beco, a sombra no fim dele se moveu com fluidez de quem já tinha feito aquilo antes. Uma figura encapuzada bloqueou a saída. Do lado esquerdo do capuz, um símbolo conhecido: as cores da facção rival. Não era só uma provocação. Era uma marca.
A adrenalina veio de novo — mais fria agora. Guardei as opções na cabeça: confronto, fuga, barganha. Não parecia hora de escolher.
— Fica atrás de mim — sussurrei, e pela primeira vez não foi ordem — foi proposta. Uma promessa.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Leitora compulsiva
Caracas que capítulo foi esse 😵👏
2025-10-29
1
Nicolas avila
Muito bommm 👏
2025-10-28
1
Kino No Tabi
Incrível 🤯
2025-10-28
1