VISÃO DE LUNA
Capítulo 5 — O Encontro
Corri o máximo que pude, cada músculo queimando, cada respiração rasgada preenchendo meus pulmões com ar frio e limpo.
O coração parecia prestes a explodir. A floresta escura se fechava ao meu redor, mas ainda assim continuei, empurrando-me além do cansaço, além do medo.
A cada passo, a sensação de ser observada se intensificava.
Olhei para trás.
E congelei.
Asas.
Grandes asas negras, imensas, abertas acima de mim, cortando o céu entre as árvores.
Eles estavam lá, me observando.
Não como predadores comuns, mas como se quisessem entender cada movimento, cada decisão, cada hesitação minha.
Meu estômago se contraiu. Tentei acelerar, mas foi inútil.
De repente, a sombra caiu sobre mim.
O impacto foi brutal — uma força que me levantou do chão, me segurando pela cintura por trás.
Eu era pequena, fraca e exausta.
Ele me carregava sem esforço, rindo baixinho como se aquilo fosse apenas um jogo.
Bati nele com tudo o que tinha.
Punhos, cotovelos, joelhos. O rosto, as costas, tudo que meus braços alcançavam.
Mas era inútil.
Ele apenas sorria.
Parecia se divertir com minha raiva, com a fúria que eu não conseguia conter.
“Solta-me!” gritei, respirando com dificuldade, lágrimas queimando meus olhos.
Outro homem se aproximou, suas asas abertas em esplendor negro, sombras que engoliam a luz do sol.
Ele inclinou a cabeça, com um sorriso sarcástico, e falou:
“Nas histórias que contavam sobre fêmeas, elas eram doces. Não raivosas como ela.”
Meu sangue ferveu.
Senti minha boca se contorcer.
Cuspi um xingamento.
E, por um instante, o homem atrás de mim hesitou.
Ele me soltou.
Caí de joelhos, mas imediatamente recuei, mantendo distância, observando aqueles quatro homens que pareciam saídos de um pesadelo.
Altos. Imensos. Musculosos de uma forma que parecia impossível.
E, acima de tudo, com asas negras que se estendiam como nuvens de tempestade.
Respirei fundo e os encarei.
A adrenalina ainda pulsava em minhas veias.
“Que tipo de… homem tem asas?” perguntei, a voz trêmula mas firme.
O de olhos azuis — o mesmo que me derrubara — inclinou a cabeça, como se eu tivesse cometido um erro terrível ao usar a palavra “homem”.
“Não somos homens”, disse ele, a voz profunda e firme, com um peso que fez minhas pernas tremerem. “Somos machos. Sangharii.”
“Que porra é isso?” perguntei, confusa.
Ele suspirou, e então seus olhos me atravessaram, azuis como o céu que eu pensava não ver mais.
“Como uma humana sem mutação genética pode estar viva nos dias atuais?”
Meu cérebro travou.
Mutação genética? Humana sem mutação?
Eu olhei para ele, sem entender nada.
“Do que… do que você está falando?”
“Explique-se”, disse um outro, com as asas cruzadas, a pele bronzeada reluzindo sob a luz.
“Eu… eu fui voluntária”, consegui dizer, a voz vacilante mas determinada.
“Durante a guerra. Quando tudo estava perdido, quando a morte estava em cada esquina… fui votada para dormir na cápsula. Um… experimento. Eu queria apenas acordar em outro tempo, em outro lugar. Eu não queria mais viver naquele mundo.”
O silêncio caiu sobre eles.
Pesado. Gelado. Surpreendentemente humano.
“Quinhentos anos”, disse o de asas brancas, com uma incredulidade visível na voz.
“Você… está dizendo que dormiu… por quinhentos anos?”
Meu coração disparou.
“Quinhentos?!” repeti, sem acreditar.
Eles apenas me observaram, olhos arregalados, como se eu tivesse acabado de revelar o maior segredo do mundo.
“Sim”, disse, respirando fundo. “Quando a guerra atingiu seu ápice… eu me voluntariei. Não queria mais viver entre mortes, entre ruínas. A cápsula era minha única esperança. Eu… adormeci.”
O de olhos azuis me fitava intensamente, como se tentasse penetrar em minha mente.
“Então… você não foi tocada pelo vírus, nem sofreu mutações… e ainda assim sobreviveu?”
“Não sei… eu… sou apenas… eu”, murmurei, confusa.
Meu coração ainda tremia, mas uma parte de mim sentiu alívio.
Alívio por finalmente não estar sozinha.
Alívio por, finalmente, não ter que explicar minha existência em silêncio para mim mesma.
O homem de cabelos negros, tatuagens tribais pelo corpo, suspirou e se aproximou, suas asas batendo levemente, levantando poeira e folhas secas.
“Então… a cápsula”, disse ele, a voz agora mais calma. “Era… real. Você realmente dormiu por todos esses séculos.”
Outro deles — o bronzeado de cabelos vermelhos e olhos flamejantes — riu baixinho.
“Interessante… todos pensávamos que as fêmeas haviam desaparecido para sempre. Que eram apenas histórias.”
O sarcasmo ainda estava presente, mas havia agora curiosidade.
Eles se aproximaram mais, circulando-me, analisando cada detalhe de meu corpo pequeno e frágil.
E mesmo assim, não parecia haver ameaça — pelo menos não imediata.
“Meu nome é Luna”, disse, com a voz mais firme do que imaginei.
E os encarei um a um.
“Meu nome é Luna. E agora… o que acontece comigo?”
O silêncio pairou por um instante.
Então o de olhos azuis sorriu levemente, algo sério e profundo ao mesmo tempo.
“Você foi despertada em um mundo que não conhece. Um mundo que mudou. Nós… somos os que restaram. Os que herdaram a Terra.”
Eu tentei absorver isso.
Milênios de guerra, quinhentos anos de sono, e agora eu era confrontada por criaturas que não eram exatamente humanas, mas não deixavam de me parecer homens — ou algo pior, ou algo mais.
“Então… vocês são… vocês são… monstros?” perguntei, hesitante.
“Não”, disse o de olhos azuis, com calma. “Somos machos. E você… você é uma fêmea. A primeira que vemos em séculos.”
Meu corpo estremeceu.
A palavra fêmea, dita daquela forma, tinha peso. Poder. Algo que não sentia há séculos.
O mundo ainda respirava.
E agora, pela primeira vez, eu sentia que talvez minha história não tivesse terminado.
Mas ainda havia medo.
O medo de estar cercada, fraca, e completamente fora do meu tempo.
Olhei para eles novamente.
Altos. Musculosos. Imensos. Asas negras gigantescas batendo levemente, cortando o ar.
E percebi… que, por mais que temesse, estava diante de algo que jamais teria imaginado.
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Comments
Carla Santos
eita porra não somos homens somos macho e vc é...... uma fêmea que poder nas palavras uau
2025-11-07
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