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VISÃO DE LUNA

Capítulo 4 — O Despertar de Luna

A primeira coisa que senti foi o frio.

Um frio profundo, quase gentil, que se infiltrava pelos meus ossos como se tentasse me acordar. Abri os olhos, mas o mundo ainda era uma névoa difusa — luz e sombra se misturando em borrões.

Vi algo. Ou alguém.

Uma figura imensa, negra, de contornos fortes.

Tentei focar.

Um homem — alto, absurdamente alto. A pele bronzeada, os músculos densos, o cabelo preto caindo sobre os olhos de um azul profundo.

Por um instante, achei que ainda estivesse sonhando.

Mas então vi algo atrás dele… algo se movendo.

Asas.

Meu coração disparou.

Asas enormes, negras, abertas como um véu noturno.

Não… impossível.

Asas? Eu devia estar delirando.

Talvez o sono criogênico tivesse danificado meu cérebro. Talvez eu ainda estivesse sonhando, presa em alguma miragem.

O homem se aproximou, o olhar firme e estranho, misto de surpresa e espanto.

“Quem…?” tentei dizer, mas a voz não saiu.

O cansaço tomou conta. A visão escureceu.

E o mundo apagou novamente.

A segunda vez que despertei, o frio tinha sumido.

Em seu lugar, havia um calor suave, quase reconfortante.

Abri os olhos devagar. A escuridão me envolvia, mas não era total — feixes de luz filtravam-se pelas frestas das pedras, refletindo em paredes cobertas de musgo.

Uma caverna.

Tentei me sentar. O chão era macio, forrado por algo que parecia… penas? Folhas secas e tecidos antigos formavam um tipo de ninho.

Um ninho humano.

O coração acelerou.

Lembrei-me das asas. Daquele homem.

Meu corpo ainda tremia, mas a curiosidade venceu o medo.

Arrastei-me até a entrada da caverna. A claridade me cegou por um instante.

E então vi — o céu.

Azul.

Um azul vívido, puro, quase doloroso de tão bonito.

O mesmo céu que eu pensava nunca mais ver.

O mesmo céu que a guerra roubou de nós.

As lembranças vieram como ondas.

O caos. As bombas. O ar envenenado. O som dos gritos e das sirenes.

O mundo morrendo aos poucos.

E eu, sozinha, entre ruínas e corpos, querendo apenas parar de sentir.

Foi por isso que aceitei.

O experimento. A cápsula.

“Um sono até que o mundo volte a viver”, disseram.

Eu ri, na época. “Como se isso fosse acontecer.”

Mas aceitei assim mesmo. Porque nada mais restava para mim.

Eu queria dormir.

Queria acordar em outro tempo, outro mundo.

E agora… parecia que havia conseguido.

Saí da caverna.

O vento bateu no meu rosto, leve, fresco, perfumado com algo que eu não sentia há séculos — vida.

Olhei ao redor. Árvores imensas, lagos cristalinos, flores crescendo entre pedras.

O chão respirava. O ar vibrava.

Tudo estava vivo.

O céu azul refletia nos meus olhos, e sem perceber, um sorriso escapou dos meus lábios.

Corri.

Corri como uma criança, sentindo o chão úmido sob os pés.

Abri os braços, respirei fundo, e por um instante acreditei que o mundo tinha me perdoado.

Mas a ilusão durou pouco.

O vento mudou.

Um som estranho, pesado, ecoou acima de mim — como o bater de asas gigantescas.

Olhei para o céu.

E ele caiu.

O mesmo homem.

O de olhos azuis e cabelo negro.

Desceu do céu como uma flecha viva, as asas negras abertas, o corpo inteiro reluzindo sob a luz do sol.

Ele pousou diante de mim, firme, poderoso, o chão tremendo sob seus pés.

Por um segundo, fiquei paralisada.

Era uma visão ao mesmo tempo magnífica e assustadora — um anjo negro, um deus de outro tempo.

E antes que eu pudesse reagir, mais três figuras desceram atrás dele.

Quatro homens, todos com asas, todos com corpos que pareciam forjados em aço e fogo.

Fiquei sem ar.

A mente tentou buscar explicações: mutação genética? Experimentos militares?

Mas nenhuma fazia sentido.

Eles não eram humanos. Ou talvez fossem… o que restou dos humanos.

O de asas negras deu um passo em minha direção.

“Espere—” disse ele, a voz profunda e calma, mas eu já não ouvia.

Tudo o que vi foram aquelas criaturas monstruosas, belas e terríveis, cercando-me sob o sol.

O instinto falou mais alto.

Virei-me e corri.

Corri com toda a força que tinha, o coração batendo descompassado, os pulmões ardendo. As árvores me engoliram.

Atrás de mim, o som de asas se abrindo, o vento se movendo com violência.

Eles me seguiam.

Ou talvez apenas me observassem.

Eu não sabia — e não importava.

Corria como quem foge do passado.

De tudo.

Do que o mundo tinha sido.

Do que ele havia se tornado.

O chão estava coberto de folhas úmidas, e o ar da floresta parecia respirar junto comigo.

Cada passo ecoava como um grito abafado.

Meu corpo ainda fraco, minhas pernas tremendo — mas o medo era combustível.

Não queria morrer agora. Não depois de acordar em um mundo tão vivo.

“Não me toquem!”, gritei, mesmo sem saber se me ouviam.

O som da minha voz se perdeu entre as árvores.

E então, por um instante, o silêncio.

Nenhum bater de asas. Nenhum som de passos.

Apenas o farfalhar distante das folhas.

Encostei-me em uma árvore, ofegante.

O coração parecia prestes a explodir.

Fechei os olhos.

O sol filtrava-se pelas copas, desenhando linhas douradas no chão.

E, por um segundo, esqueci o medo.

O ar limpo enchia meus pulmões.

O canto de um pássaro — real, vivo — cortava o silêncio.

Sorri, mesmo sem entender nada.

Talvez o mundo tivesse realmente renascido.

Talvez eu tivesse sido escolhida para vê-lo.

Mas as asas...

Aquelas criaturas...

E aquele homem, com olhos tão azuis quanto o céu que eu tanto sonhei ver de novo…

Quem eram eles?

E o que eu era agora, para despertar em um mundo que já não parecia o mesmo?

O vento voltou a soprar, forte, sacudindo as árvores.

E, por um instante, jurei ouvir o som das asas outra vez.

Eles estavam me seguindo.

Ou talvez me observando de longe.

Mas uma coisa eu sabia:

O tempo do sono tinha acabado.

E o novo mundo, esse lugar impossível e magnífico, acabava de me dar algo que eu há muito havia esquecido.

Medo.

E esperança.

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