Fúria do Corvo
O relógio marcava quase dez da noite quando eu entrei na sala de controle. O cheiro de óleo, cigarro e café queimado era o mesmo de sempre. Na tela à minha frente, os pontos vermelhos piscavam — caminhões atrasados, rotas interrompidas, motoristas com medo. Nada me irrita mais do que incompetência.
Desde que meu pai deixou o quartel nas minhas mãos, eu o transformei num império. Tudo o que ele construiu com sangue, eu tornei indestrutível. E é por isso que cada detalhe importa. Um erro mínimo, e tudo vai pro inferno.
— Dois carregamentos travaram na aduana — disse d’Lucca, encostado na mesa como se estivesse num bar e não no coração do cartel mais poderoso do México.
— Eu quero solução, não desculpas — respondi sem olhar pra ele.
Ele riu baixo. Sempre riu.
— Já mandei dois homens resolverem a aduana. O mecânico do segundo caminhão vai aprender a não mentir sobre peça quebrada. Amanhã de manhã tudo volta ao normal, Corvo.
O tom leve dele sempre me tirou do sério, mas ao mesmo tempo era o que me mantinha em pé. d’Lucca é o único que sobrevive comigo desde moleque. Ele sabe até onde pode ir.
Eu estava revisando os mapas quando Rosária entrou. Bandeja de prata, três xícaras, o perfume doce e irritante dela preenchendo o ar.
— Café, senhor. — disse baixinho.
Deixei que colocasse a xícara sobre a mesa, mas quando senti as mãos dela tocarem meus ombros, algo dentro de mim queimou. Aquela audácia — aquele toque. As unhas pintadas, o cheiro de perfume barato. Maria. A lembrança veio como um raio.
Não pensei.
Agarrei o pulso dela e torci com força. Ouvi o estalo seco, o grito se espalhando pela sala. Ela caiu no chão, o café derramando como sangue sobre o piso.
— Como ousa, sua cadela, tocar em mim com essas mãos imundas? — minha voz saiu baixa, mas cada palavra era uma sentença.
Rosária chorava, os olhos arregalados, o braço pendendo torto. d’Lucca soltou uma gargalhada curta, o tipo de riso que corta a tensão sem piedade.
— Calma, Corvo. Tá estressado hoje. Rosária, vai atrás de um médico… e aprende uma coisa: ser esperta demais aqui às vezes custa a vida.
Ela saiu tropeçando, soluçando. O som dos saltos sumiu no corredor.
Fiquei olhando o chão por alguns segundos, respirando fundo. O gosto do ódio é sempre o mesmo — ferro e cinzas.
— Agora me diz — d’Lucca falou, ainda rindo. — Você vai descontar seu ódio da Maria em todas as mulheres do planeta? Cinco anos, irmão. Cinco. Tá na hora de enterrar essa história.
Virei pra ele tão rápido que a cadeira bateu contra a parede.
— Cala a porra da sua boca, d’Lucca. — O ar pareceu congelar. — Não fala esse nome na minha frente.
Ele me olhou sério, mas não respondeu.
Apertei os punhos.
— Todas elas são iguais a ela. Ou piores. E toda mulher que cruzar o meu caminho vai sentir a fúria do próprio diabo.
Fiquei em silêncio depois disso. O som dos rádios, o estalar dos cabos, o barulho do ventilador velho. Tudo parecia distante.
A verdade é que ele tinha razão, mas eu nunca vou admitir isso.
Desde aquela noite — a noite em que o fogo levou Maria e Andrey — algo morreu dentro de mim. E o que sobrou aprendeu a mandar, a matar e a nunca sentir nada.
Sou Damián, o Corvo Negro.
E o diabo não ama. O diabo só devolve o que o mundo fez com ele.
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Claudia louca por Livros📚
A corvo negro eu não vejo a hora de você conhecer a sua menina e fazer dela sua cadelinha ou você o cachorrinho dela.
2025-10-19
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Elenir Lima
Vamos ver até onde vai esse ódio bebê
2025-10-18
3
XandeLili Cáffaro
O diabo 😈 não ama ele venera .🤪
2025-10-19
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