CAPÍTULO 4

Fúria do Corvo

O relógio marcava quase dez da noite quando eu entrei na sala de controle. O cheiro de óleo, cigarro e café queimado era o mesmo de sempre. Na tela à minha frente, os pontos vermelhos piscavam — caminhões atrasados, rotas interrompidas, motoristas com medo. Nada me irrita mais do que incompetência.

Desde que meu pai deixou o quartel nas minhas mãos, eu o transformei num império. Tudo o que ele construiu com sangue, eu tornei indestrutível. E é por isso que cada detalhe importa. Um erro mínimo, e tudo vai pro inferno.

— Dois carregamentos travaram na aduana — disse d’Lucca, encostado na mesa como se estivesse num bar e não no coração do cartel mais poderoso do México.

— Eu quero solução, não desculpas — respondi sem olhar pra ele.

Ele riu baixo. Sempre riu.

— Já mandei dois homens resolverem a aduana. O mecânico do segundo caminhão vai aprender a não mentir sobre peça quebrada. Amanhã de manhã tudo volta ao normal, Corvo.

O tom leve dele sempre me tirou do sério, mas ao mesmo tempo era o que me mantinha em pé. d’Lucca é o único que sobrevive comigo desde moleque. Ele sabe até onde pode ir.

Eu estava revisando os mapas quando Rosária entrou. Bandeja de prata, três xícaras, o perfume doce e irritante dela preenchendo o ar.

— Café, senhor. — disse baixinho.

Deixei que colocasse a xícara sobre a mesa, mas quando senti as mãos dela tocarem meus ombros, algo dentro de mim queimou. Aquela audácia — aquele toque. As unhas pintadas, o cheiro de perfume barato. Maria. A lembrança veio como um raio.

Não pensei.

Agarrei o pulso dela e torci com força. Ouvi o estalo seco, o grito se espalhando pela sala. Ela caiu no chão, o café derramando como sangue sobre o piso.

— Como ousa, sua cadela, tocar em mim com essas mãos imundas? — minha voz saiu baixa, mas cada palavra era uma sentença.

Rosária chorava, os olhos arregalados, o braço pendendo torto. d’Lucca soltou uma gargalhada curta, o tipo de riso que corta a tensão sem piedade.

— Calma, Corvo. Tá estressado hoje. Rosária, vai atrás de um médico… e aprende uma coisa: ser esperta demais aqui às vezes custa a vida.

Ela saiu tropeçando, soluçando. O som dos saltos sumiu no corredor.

Fiquei olhando o chão por alguns segundos, respirando fundo. O gosto do ódio é sempre o mesmo — ferro e cinzas.

— Agora me diz — d’Lucca falou, ainda rindo. — Você vai descontar seu ódio da Maria em todas as mulheres do planeta? Cinco anos, irmão. Cinco. Tá na hora de enterrar essa história.

Virei pra ele tão rápido que a cadeira bateu contra a parede.

— Cala a porra da sua boca, d’Lucca. — O ar pareceu congelar. — Não fala esse nome na minha frente.

Ele me olhou sério, mas não respondeu.

Apertei os punhos.

— Todas elas são iguais a ela. Ou piores. E toda mulher que cruzar o meu caminho vai sentir a fúria do próprio diabo.

Fiquei em silêncio depois disso. O som dos rádios, o estalar dos cabos, o barulho do ventilador velho. Tudo parecia distante.

A verdade é que ele tinha razão, mas eu nunca vou admitir isso.

Desde aquela noite — a noite em que o fogo levou Maria e Andrey — algo morreu dentro de mim. E o que sobrou aprendeu a mandar, a matar e a nunca sentir nada.

Sou Damián, o Corvo Negro.

E o diabo não ama. O diabo só devolve o que o mundo fez com ele.

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Comments

Claudia louca por Livros📚

Claudia louca por Livros📚

A corvo negro eu não vejo a hora de você conhecer a sua menina e fazer dela sua cadelinha ou você o cachorrinho dela.

2025-10-19

0

Elenir Lima

Elenir Lima

Vamos ver até onde vai esse ódio bebê

2025-10-18

3

XandeLili Cáffaro

XandeLili Cáffaro

O diabo 😈 não ama ele venera .🤪

2025-10-19

0

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