Capítulo 2 — A Casa do Tio
O carro avançava pela estrada de terra levantando uma poeira fina que entrava pelas frestas da janela. A paisagem ia mudando devagar — o campo verde dava lugar a montanhas, muros altos e arame farpado. Eu olhava tudo com curiosidade e um aperto no peito.
O tio Magno dirigia em silêncio. Às vezes, acendia um cigarro, o olhar perdido no horizonte, como quem carrega o peso de um passado que não quer lembrar. Eu não sabia o que dizer. As palavras pareciam pequenas diante dele.
Quando finalmente chegamos, o portão se abriu automaticamente. Um homem com farda preta fez sinal de respeito para o meu tio, e eu fiquei sem entender. Aquilo não parecia uma simples fazenda. Era tudo grande demais, limpo demais, silencioso demais.
A casa ficava no topo de uma colina. De longe, parecia uma daquelas mansões antigas de filmes — com paredes grossas e janelas altas. Mas ao chegar perto, percebi que não havia flores, nem cortinas, nem risos. Só vigilância e concreto.
— Bem-vinda, Isabela — ele disse, saindo do carro e me estendendo a mão. — Aqui é seguro. Você vai poder descansar.
“Seguro.” Aquela palavra ecoou na minha cabeça. Eu não sabia do quê ele queria me proteger, mas havia algo em sua voz que me fez acreditar.
A empregada apareceu e me levou até o quarto. Era espaçoso, com móveis escuros e um cheiro de madeira antiga. Na parede, um crucifixo. Fiquei aliviada. Tirei o rosário do bolso e o deixei pendurado na cabeceira, como fazia desde criança.
Depois de um banho rápido, desci para o jantar. A mesa era enorme, mas só havia dois lugares arrumados. Ele já estava sentado, com um copo de vinho à frente e o olhar pensativo.
— Sente-se — disse, apontando a cadeira em frente.
O jantar começou em silêncio. Ele comia devagar, observando tudo com atenção, como se analisasse cada movimento meu. Eu me sentia um pouco desconfortável, mas ao mesmo tempo havia algo nele que inspirava respeito.
— Então… — comecei, tentando quebrar o gelo — o senhor vive sozinho aqui?
— Sozinho, não. Tenho gente que trabalha pra mim. — respondeu, sem levantar o olhar do prato.
— E o que o senhor faz, tio?
Ele parou por um instante. Colocou os talheres na mesa e me olhou com calma.
— Trabalho com… segurança. — respondeu, e voltou a comer.
Aquela pausa entre as palavras me deixou curiosa, mas decidi não insistir.
— Seu pai sempre falou com muito orgulho de você — ele disse de repente.
— Falava?
— Dizia que você tinha o mesmo olhar da mãe.
Meu coração apertou. Era a primeira vez que alguém falava dela.
— O senhor a conheceu? — perguntei, esperançosa.
Ele hesitou. O olhar endureceu um pouco.
— Conheci. Era uma mulher boa. Mas o destino foi cruel com ela.
O tom dele não deixava espaço pra mais perguntas, então eu me calei.
Comemos em silêncio por alguns minutos, até que a curiosidade me venceu.
— Tio… por que o senhor não foi ao enterro do papai?
O ar pareceu ficar mais pesado. Ele se recostou na cadeira, olhou para o copo e respondeu devagar:
— Porque quero lembrar do meu irmão vivo. Durão, teimoso, do jeito que sempre foi. — Fez uma pausa longa, os olhos vagando para algum lugar distante. — Aquele corpo na carneira já não era mais ele. Era só a casca.
Fiquei olhando pra ele, tentando entender.
“Casca?” Pensei comigo. Aquilo me soou estranho, mas percebi que havia tristeza verdadeira no olhar dele. Resolvi não dizer nada.
Terminei meu prato devagar. O silêncio entre nós já não era desconfortável — era pesado, como se cada um tivesse seus próprios fantasmas sentados à mesa.
Quando ele terminou o vinho, levantou-se e disse:
— Amanhã vou te mostrar a propriedade. Você vai conhecer as pessoas que trabalham aqui. Se quiser, pode ajudar na cozinha ou na estufa, mas sem se cansar.
Assenti com a cabeça.
— Obrigada, tio.
Ele me olhou com certa ternura, um lampejo rápido que desapareceu antes que eu pudesse entender.
— Descanse, Isabela. E… não saia sozinha à noite. — disse, antes de se afastar pelo corredor escuro.
Fiquei parada por um tempo, observando o vazio da sala. O relógio marcava quase dez da noite. Um vento frio passou pela janela e fez as velas tremeluzirem.
Voltei pro quarto, mas o sono não vinha. A casa parecia viva, cheia de barulhos que eu não reconhecia — passos, portas se abrindo ao longe, murmúrios abafados.
Rezei, pedindo a Deus que me protegesse e que ajudasse o coração do meu tio, que parecia tão solitário.
Mas lá no fundo, algo me dizia que eu estava rezando pelo motivo errado.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 34
Comments
Elenir Lima
E como está 🤣🤣🤣 nem sabe o que te espera menina 🤭
2025-10-18
2
Claudia louca por Livros📚
O livro começou muito bom autora ela vai ser apaixonar pelo gostoso do Damian Harrera,né por favor que ele seja o primeiro homem dela que o hot seja intenso que nem do outro livro seu
2025-10-19
0
XandeLili Cáffaro
Que este tio esconde??? Será tio mesmo???
2025-10-19
0