capítulo 5

Nome: Rafael Mendes

Idade: 26 anos

Ocupação: Analista de Contas em uma Agência de Publicidade (São Bernardo do Campo)

Relação com Eliza: Namorado há dez meses.

O ar-condicionado na sala de estar de Eliza zumbia com uma perfeição monótona, um som que Rafael achava agradável. Ele estava sentado no sofá de canto, revisando uma planilha no tablet – o plano de investimento conjunto para os próximos cinco anos, batizado internamente de “Projeto Horizonte”.

Eliza o observava da soleira da cozinha, uma caneca de chá de camomila fumegando nas mãos. Ele era a ordem personificada. Cada fio de cabelo, cada vírgula na planilha, cada frase de apoio que ele lhe dirigia era uma garantia. Com Rafael, não haveria infortúnios; apenas incrementos.

"Vê, Eliza," ele disse, virando o tablet para ela, os óculos de leitura na ponta do nariz. "Se mantivermos a economia de 20% no final de cada mês, podemos dar a entrada no apartamento em São Caetano no início do próximo ano fiscal. Três quartos. Bom para você, bom para Túlio."

O nome do irmão, Túlio, sempre vinha como um aditivo prático nos planos de Rafael, nunca como uma pessoa a ser amada.

"É perfeito, Rafa," ela murmurou, mas a palavra "perfeito" tinha gosto de pó em sua boca.

A perfeição dele era oposta à desordem que Lorenzo havia trazido. Aquele estrangeiro da infância era o caos em forma de aventura, um fogo espontâneo. Rafael era a lareira controlada, a brasa segura, aquecendo sem queimar. E era isso que ela precisava, certo? A vida já tinha lhe ensinado o preço da aventura.

Naquele momento, Túlio entrou na sala, arrastando os pés e com o rosto amuado.

"Eu não quero ler o livro de História, Eliza. É chato."

Rafael tirou os óculos com um gesto lento e medido, sem irritação, mas com a autoridade de quem lida com um pequeno desvio logístico.

"Túlio, a leitura é um investimento. O conhecimento é o único ativo que ninguém pode roubar de você," Rafael explicou, usando a voz paciente que ele reservava para clientes teimosos ou parentes jovens.

Túlio apenas fez uma careta, sem entender a metáfora financeira, e se retirou, resmungando.

Eliza fechou os olhos por um instante. Ela amava a estabilidade de Rafael, a maneira como ele tentava consertar o mundo com lógica e finanças. Mas, de repente, ela sentiu uma pontada de exaustão. Ele estava tentando transformar seu irmão – e, por extensão, ela – em parte de seu "Projeto Horizonte".

Ela se aproximou, beijou-o na testa e a frieza tranquila dele a acalmou, mas não a incendiou. "Obrigada, Rafa. Vou terminar o chá e depois ajudar o Túlio."

Ao se afastar, a memória de um sorriso travesso, de olhos azuis-cinzentos que prometiam quebrar regras, invadiu sua mente. Era Lorenzo. E a estabilidade de Rafael, que deveria ser um muro, agora parecia um espelho onde ela via refletida a Eliza que ela havia se tornado: segura, mas entediada. E a pior parte era que ela não sabia qual das duas vidas era a farsa.

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