capítulo 3

​Nome: Lorenzo Rossi

Idade: 27 anos (Três anos mais velho que Eliza, reforçando a imagem de "garoto grande" da infância.)

Nacionalidade: Italiana

Ocupação: Engenheiro Civil e Herdeiro Relutante de uma Construtora Familiar

Localização Atual: São Paulo / Diadema (chegou recentemente).

O tempo não era mais uma contagem de dias vazios, mas um cronômetro perigoso.

Eliza pegou a mochila e a bolsa térmica que usava para carregar seu almoço. O nervosismo não era mais aquele frio na barriga de menina; era uma adrenalina forte, que a impelia para frente.

— Eu vou sair, Túlio! — gritou da porta. — O portão fecha às oito e quinze! Não se atrase!

O som de Túlio brigando com o cereal veio da cozinha: — Ah, que surpresa! Minha irmã mandona vai me controlar de novo. Já entendi, Eliza.

Ela revirou os olhos. A resposta afiada já estava na ponta da língua, mas hoje ela não tinha paciência para o drama do irmão. Sua cabeça estava em Milão, no aeroporto, em um e-mail escrito em um português torto.

Enquanto descia as escadas do prédio de dois andares, a realidade de Diadema a abraçou com o vento frio e úmido da manhã. Carros buzinavam, a feira municipal já montava suas barracas coloridas. Eliza acelerou o passo. Sua escola ficava a vinte minutos de ônibus, mas ela precisava andar até a Avenida Piraporinha para pegar a condução.

No meio do caminho, seu celular vibrou de novo. O coração deu um salto triplo mortal.

Era Rafael.

> De: \text{Rafael_Agencia@mail.com}

> Assunto: \text{Re: O café da manhã}

>

O alívio foi seguido por uma ponta de culpa. Rafael era tão constante, tão bom. Mas era a constância dele que, de repente, parecia tão sem graça. Ele era a resposta correta para uma pergunta que ela estava começando a reformular.

Guardou o celular, decidida a focar nos planos de aula.

A, E, I, O, U. Ela daria vogais para a turma da manhã. A simplicidade de ensinar cores e formas era o seu refúgio da complexidade da vida.

Ao chegar no ponto de ônibus, a multidão era maior do que o normal. Eliza suspirou, já ensaiando a melhor forma de se equilibrar e não amassar seus livros.

De repente, uma notificação. Não de e-mail, mas de um aplicativo de mensagens que ela raramente usava.

A mensagem vinha de um número desconhecido, com o DDD (21), do Rio de Janeiro.

> Desconhecido (DDD 21): \text{Eu sei que você está quase pegando o ônibus. Por favor, não entre nele.}

>

O corpo de Eliza congelou. Ela olhou em volta, o pânico subindo pela garganta. Era uma brincadeira? Uma ameaça?

Como ele saberia?

Sua mente correu para o único "L" que existia agora. O gringo estava no Rio?

O ônibus chegou, barulhento e lotado. As pessoas começaram a empurrá-la para a porta.

O celular vibrou de novo.

> Desconhecido (DDD 21): \text{Olhe para a esquerda. Naquela padaria velha, atrás da banca de jornal.}

>

Com as pernas bambas, Eliza obedeceu. Naquele ponto, o medo e a curiosidade estavam em guerra, e a curiosidade estava vencendo por nocaute.

Lá estava. Estacionado de forma um tanto desajeitada, um carro que parecia deslocado na paisagem de Diadema — um sedã preto e caro, com vidros escuros e um brilho de carro alugado.

A porta do motorista se abriu.

O tempo parou. O barulho do ônibus, a gritaria dos feirantes, tudo se tornou um eco distante e abafado.

Ele desceu do carro.

Os cabelos, loiros quase prateados, estavam um pouco bagunçados pelo vento. Vestia uma camiseta preta simples, mas que evidenciava ombros largos, e calças de sarja.

Ele era mais alto e mais largo do que ela imaginava. Mais homem. Apenas os olhos, azuis e transparentes, eram exatamente como ela se lembrava, fixos nela.

Era Lorenzo.

O sorriso dele não era o de um homem sedutor, mas sim o de um garoto travesso que finalmente encontrou um tesouro perdido. Era um sorriso que parecia familiar, mas que jamais seria copiado. Um sorriso original.

Ele atravessou a rua, driblando pessoas com a elegância forçada de quem não está acostumado com a desordem do trânsito.

Eliza largou a bolsa térmica na calçada. O ônibus seguiu, levando embora a rotina e a estabilidade.

Lorenzo parou a menos de um metro dela.

— Eu não consegui esperar pelo e-mail — ele disse, a voz rouca, com um sotaque carregado que era música para os ouvidos dela. — Eu cheguei ontem no Rio, dirigi a noite toda. Não lembro o caminho exato para o gramado, mas…

Ele estendeu a mão na direção do rosto dela, hesitando por um segundo.

— … Mas eu lembro que você era a única pessoa em Diadema que tinha a coragem de me encarar. E eu te encontrei.

Eliza conseguiu balbuciar apenas uma única palavra, que ela usava todos os dias, mas que agora parecia ter todo o significado do mundo.

— L.

— Sì. Lorenzo. — Ele sorriu mais abertamente. — E você, Eliza, você não mudou. Mas o que você está fazendo com uma bolsa de professor e essa cara de quem vai ser atropelada a qualquer momento?

Ela olhou para o chão, para o asfalto, para o ônibus que partira, e para o italiano parado ali, que atravessou um oceano por uma lembrança.

— Eu… eu estou tentando não ser atropelada. E estou atrasada para a escola.

— Não está. — Ele pegou a bolsa térmica do chão e a colocou na sua mão, os dedos quentes. — Eu te dou uma carona. Mas primeiro, me diga onde é o gramado. Eu preciso vê-lo.

Eliza sentiu a adrenalina se esvair, dandvo lugar à confusão. Ela tinha aula. Tinha Túlio para supervisionar. Tinha Rafael para ligar.

Mas o homem à sua frente era a resposta para a oração de sua infância.

— O gramado — ela sussurrou, apontando para trás, para a direção oposta à escola. — É por ali. Mas é só uma praça…

Lorenzo balançou a cabeça, os olhos azuis cheios de uma intensidade que ela jamais vira em Rafael.

— Não, Eliza. Não é "só uma praça". É a minha bússola. É o meu "saudade". Me leve até lá, por favor.

Ele não estava pedindo; estava a convidando para pular no desconhecido.

A rotina podia esperar. O destino, não.

Eliza respirou fundo, fechou os olhos por um segundo e sorriu. O sorriso era dela, e não da pedagoga responsável.

— Entra no carro, gringo. Eu te mostro o caminho.

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