O primeiro raio de sol atravessava as frestas da janela quando Bianca Romano despertou. O canto dos pássaros misturava-se ao cheiro da terra úmida, e, por um breve instante, ela quis acreditar que aquele seria um dia comum — antes de lembrar que, em poucos dias, se casaria com Lorenzo Garibalde.
Vestiu um vestido simples de algodão, prendeu os cabelos em uma trança e caminhou até o estábulo, onde o som familiar dos cascos e o cheiro de feno sempre traziam paz ao seu coração. Assim que abriu a porta, Lua, sua égua branca, relinchou suavemente, aproximando-se com doçura.
— Bom dia, minha menina — disse Bianca, acariciando o focinho do animal. — Você é a única que me ouve sem julgar.
Lua inclinou a cabeça, como se entendesse. Bianca sorriu de leve, mas seus olhos denunciavam o peso que carregava.
— Eu nunca sonhei em me casar por amor, sabe? — começou ela, com a voz baixa, quase um sussurro. — Desde pequena, entendi que o amor é um luxo que filhas de um Don da máfia não podem ter. Meu destino sempre foi decidido pelos negócios, pelas alianças… pelos segredos que sustentam o poder da nossa família.
Ela parou por um momento, olhando para o campo aberto além das cercas.
— Eu só queria que ele me respeitasse, Lua. Só isso. Como papai sempre respeitou mamãe, mesmo em meio a tanto sangue e silêncio.
O animal bufou suavemente, e Bianca suspirou, encostando a testa na crina da égua.
— Dizem que Lorenzo Garibalde é um homem frio, incapaz de sentir… Um homem que comanda com o olhar, que nunca sorri. — Ela engoliu em seco, a voz tremendo levemente. — Tenho medo, Lua. Medo de ser apenas mais uma peça em um jogo que não entendo.
O vento soprou do lado de fora, agitando o vestido de Bianca, como se a própria natureza quisesse consolá-la.
— Mas, se esse for o meu destino, não há como fugir, não é? — murmurou, forçando um sorriso triste. — Então que venha, Lua… que venha o homem sem coração.
Bianca acariciou a égua mais uma vez e se afastou lentamente, levando consigo o silêncio que só o inevitável é capaz de trazer.
♡♥︎♡♥︎♡
O relógio marcava sete horas da noite quando o portão principal da mansão Garibalde se fechou com estrondo. Dentro do salão escuro, apenas a luz das lamparinas iluminava o rosto de Lorenzo, imóvel diante da mesa de carvalho.
O ar cheirava a tabaco e medo.
— Tragam-no — ordenou ele, a voz baixa, cortante como aço.
Dois homens entraram carregando um sujeito ensanguentado, com as mãos amarradas. O som das botas ecoou pelo chão de mármore. O traidor foi jogado de joelhos diante de Lorenzo, que observava em silêncio, os olhos frios como o mar em tempestade.
Enzo Moretti, seu braço direito, aproximou-se com um dossiê nas mãos.
— Descobrimos o vazamento em Palermo. Foi Carlo Ventresca, um dos responsáveis pelo transporte. Ele vendeu as rotas aos Romanos em troca de cinquenta mil euros.
Lorenzo apagou o charuto no cinzeiro, lentamente.
— Cinquenta mil euros — repetiu, com ironia. — Foi esse o preço da sua lealdade?
Carlo tremia, o rosto marcado por hematomas.
— Don Garibalde, eu… Eu precisava do dinheiro… minha mulher está doente, meus filhos—
Lorenzo ergueu a mão, interrompendo-o.
— Quando você entrou para esta família, Carlo, sabia que lealdade não se vende. Ela se prova com sangue.
O silêncio dominou o salão. Os capos observavam, impassíveis, acostumados à frieza do Don.
Lorenzo se levantou devagar, caminhando em volta do homem ajoelhado.
— Meu irmão confiava em você. — Sua voz era um sussurro que fazia o ar gelar. — Ele acreditava que você morreria por nós. Mas você preferiu trair.
Carlo começou a chorar, a respiração acelerada.
— Por favor… Don Garibalde… Me perdoe, eu imploro…
Lorenzo se abaixou, ficando à altura de seu rosto.
— O perdão é um luxo que os traidores não merecem.
Fez um sinal com a cabeça. Dois homens se aproximaram, segurando Carlo pelos ombros. Enzo desviou o olhar — sabia o que viria.
Lorenzo tirou a pistola do coldre, girou-a entre os dedos com calma e encostou o cano na testa do traidor.
— Que sirva de lição — murmurou. — Trair um Garibalde é assinar a própria sentença.
O estampido do tiro ecoou pelo salão, seco, final. Carlo tombou sem vida.
Lorenzo limpou o sangue do rosto com um lenço branco, recolocou o paletó e voltou a se sentar como se nada tivesse acontecido.
— Eliminem o corpo. E certifiquem-se de que todos os nossos aliados saibam o destino de quem vende a família.
Enzo o observou em silêncio.
— Lorenzo… Ás vezes me pergunto se ainda existe algo humano em você.
O Don o fitou com um meio sorriso sombrio.
— A humanidade morreu há muito tempo, Enzo. O que sobrou é o que o mundo criou: Um homem que não sente, apenas age.
Do lado de fora, a noite caiu completamente sobre Nápoles. E, dentro da mansão, Lorenzo Garibalde reafirmava, com sangue, por que era o nome mais temido da máfia italiana.
♡♥︎♡♥︎♡
Horas depois, o relógio de parede no escritório de Lorenzo Garibalde marcava três da manhã, mas o Don não dormia. Ele estava de pé, na sacada que dava para o porto escuro de Nápoles, a fumaça do charuto misturando-se à escuridão.
Enzo entrou sem bater.
— O luto por Carlo foi breve. A notícia chegou a Roma. Don Alessandro enviou uma caixa de vinho do Porto vintage, como "sinal de aliança e respeito".
Lorenzo acendeu um novo charuto. O fogo refletiu nos seus olhos, vazios de qualquer calor.
— Ele pensa que está comprando a minha paz, Enzo. Ele pensa que o vinho e a filha dele valem a vida do meu irmão, Mathew. — Sua voz era um aço temperado.
— Don Alessandro teve realmente envolvimento na morte de Mathew?
— Ele era o único com poder para mover os homens certos naquele dia. Ele me tirou Mathew. — O ódio era uma aura ao redor de Lorenzo. — O casamento é a única paz que me interessa. O Norte e o Sul unidos. E o meu acesso à minha vingança.
— E a noiva. O que você sabe sobre Valentina Romano?
Enzo pigarreou, lendo o dossiê:
— Valentina é a filha mais velha. Vinte oito anos. Dizem que é volátil, Don. Ela é o oposto da irmã, Bianca. Enzo hesitou. — Os rumores... Dizem que ela não é discreta. Ela foi vista em festas em Roma com vários homens de influência. Inclusive com o filho do Consigliere mais velho, D'Luca.
O canto dos lábios de Lorenzo se curvou em um sorriso frio.
— Então o Don Romano me envia a vergonha da família, a mancha, para tentar me desarmar com sua... Leveza moral. Que seja. — Ele deu uma tragada. — Eu aceito a noiva que desonrou a família para humilhar o pai.
— Avise à equipe que o trem que levará a noiva de Roma para Nápoles deve ter a segurança reforçada ao máximo. E prepare a casa para a chegada dela. Quero que Valentina entenda, assim que cruzar a soleira, que a liberdade dela está morta. Ele me tirou Mathew. Eu vou tirar dele a única coisa que ele valoriza mais que o poder: A sua linhagem. Eu a terei. E a quebrarei.
— Ela virá como sua aliada, Lorenzo.
— Não, Enzo. Ela virá como a minha vingança. E ela se curvará ao Don Garibalde.
Lorenzo Garibalde caminhou para o centro do escritório, o mármore frio sob seus sapatos. Quatro dias. O tempo necessário para a cerimônia que transformaria a filha de seu inimigo em sua arma mais afiada. Ele esperava Valentina, a volátil. O confronto entre o desejo de vingança de um e a silenciosa missão de sobrevivência da outra seria o verdadeiro começo da guerra.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 76
Comments
Dulce Gama
tadinha Bianca vai pagar pelo erro do pai e da irmã será que o velho Alessandro não vai comentar que a noiva é a mais nova Bianca 🌟🌟🌟🌟🌟🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍
2025-10-12
2