Promessa de Sangue

Naquela noite, o silêncio reinava na mansão Romano. Bianca permanecia sentada na beira da cama, o coração inquieto. As palavras do pai ecoavam em sua mente — o nome Lorenzo Garibalde não lhe saía da cabeça. Um homem poderoso, envolvido tanto nos negócios quanto nas sombras da máfia. Seu futuro marido.

Ela não sabia quem ele realmente era, nem o que a esperava ao lado dele. A incerteza a consumia. Então, pegou o notebook sobre a mesa e, com dedos trêmulos, digitou o nome dele na barra de pesquisa.

Lorenzo Garibalde.

As imagens e manchetes começaram a surgir na tela.

CEO da Garibalde Corporation, um império bilionário com ramificações em diversos países. Frio. Implacável. Um homem que inspirava respeito e medo em igual medida. Nenhum escândalo, nenhum romance assumido, nenhuma fraqueza exposta. Apenas sucesso e poder.

Bianca percorreu as páginas, observando as fotos dele em eventos empresariais, cercado por políticos e empresários. Os traços do rosto eram fortes, marcados por uma elegância natural. Os olhos… ah, os olhos. Ela se deteve ali.

Havia algo neles que a fez estremecer — uma mistura de controle e dor, de mistério e ameaça. Eram olhos que não pediam, ordenavam. Que não amavam, dominavam. Bianca sentiu o coração acelerar, um arrepio percorrendo sua pele.

— Então é com você que vou me casar… — murmurou para si mesma, com um tom incerto entre curiosidade e temor.

Fechou o notebook lentamente, tentando afastar o peso que sentia no peito. Lorenzo Garibalde não era um homem qualquer. Era alguém moldado pelo poder, pela perda e, talvez, pela vingança.

E Bianca, sem saber, acabava de se tornar a peça principal no jogo mais perigoso de sua vida.

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Naquela mesma noite Lorenzo recebeu Enzo no seu escritório particular — a sala pequena, afastada do brilho corporativo, onde planos sussurrados ganhavam formas. A janela refletia as luzes da cidade; dentro, a atmosfera era tensa e elétrica.

— Então é verdade — disse Enzo, sem rodeios, fechando a porta atrás de si. — Alessandro Romano aceitou o acordo. Vocês se casam em uma semana.

Lorenzo recostou-se na cadeira, as mãos entrelaçadas sobre o peito. Um sorriso frio cruzou o rosto por um segundo, mais máscara do que emoção.

— Sim. Foi a condição que impus ao conselho para aceitar a aliança. — falou com voz baixa e medida. — Pedi que enviassem formalmente a oferta e que o pedido viesse da própria casa Romano. Assim ninguém suspeitaria de nada.

Enzo caminhou até a mesa, apoiando-se, observando o amigo com preocupação que oscillava entre lealdade e incredulidade.

— Você pensou nisso direito, L? — perguntou, encarando-o. — Casar em uma semana? Forçar uma união com aquela família… Você tem ideia de como isso pode ferir alguém? Pode haver uma inocente no meio disso tudo.

Lorenzo deixou os olhos percorrerem o escritório antes de responder. A expressão era dura como pedra.

— Inocente. — repetiu, como se saboreasse a palavra e a destruísse. — Você acha que o sangue dos Romano tem inocentes? Alessandro assinou sentenças com a mesma caligrafia com que assinam contratos. Ele orquestrou a morte de Matteo. Não houve inocência naquele ato.

Enzo fitou o amigo, a voz aflita.

— Eu sei o que ele é, mas… E a moça? Não podemos nos tornar aquilo que combatemos. Se você se casa por vingança, arrisca-se a destruir alguém que não merece pagar por isso.

Lorenzo ergueu a mão, deixando claro que não haveria debate.

— Não é sobre destruir por destruir. — disse. — É sobre infiltrar, armar, esperar. Ser paciente até que eles se exponham por si mesmos. Casando, ganho acesso — às contas, às conversas, às rotas que mantêm o império deles vivo. Não vou lançar bombas cegas. Vou cortar as raízes.

Enzo pousou a mão no encosto da cadeira, observando Lorenzo com um misto de curiosidade e receio. A pergunta saiu antes que pudesse contê-la.

— Como é o nome da noiva?

Lorenzo ergueu os olhos, sem surpresa. A resposta saiu curta, seca.

— A filha mais velha. Valentina Romano.

Enzo mordeu o lábio, avaliando a resposta como quem testa uma peça no tabuleiro. Depois, num tom mais baixo, fez a pergunta que pesava no ar.

— E se você se apaixonar por ela?

Houve um silêncio denso. Lorenzo sorriu, mas era um sorriso sem calor — uma linha fina que não tocava os olhos.

— Amor? — repetiu ele, com desprezo contido. — Nunca mais sentirei essa fraqueza.

— O que eu sinto é utilidade. Qualquer afeto que me arrisque a perder… Enterrei quando enterrei o menino que fui. Se algo parecido nascer de novo, vou usá-lo contra mim mesmo — transformá-lo em arma para o meu plano.

Enzo franziu o cenho.

— E se ela for inocente nesse jogo? — insistiu. — Se você acabar ferindo alguém que não merece? E se você se perder no meio do plano? Se a linha entre justiça e vingança se apagar? Já não é a primeira vez que você se perde, L.

Lorenzo o olhou com uma calma que cortava.

— Eu já me perdi, Enzo. E por isso sei o preço. Agora uso isso como vantagem. Matteo não volta, mas quem o mandou matar pagará. Não farei disso um espetáculo inútil. Farei com método. Com lei quando puder, com sombra quando necessário. Mas pagarão. Todos.

Enzo respirou fundo, os dedos tamborilando na mesa.

— Só espero que você saiba a diferença entre justiça e ódio, velho amigo. Porque, quando o ódio guia, até as melhores intenções se tornam ruína.

Lorenzo levantou-se, aproximou-se da janela e olhou a cidade. A luz refletia em seu rosto, revelando um homem que havia enterrado algo — talvez um passado, talvez uma alma.

— O sangue dos Romano não tem inocentes. — murmurou, quase para si —. Eles escolheram o caminho. Eu apenas pego a trilha que eles deixaram. E, quando o momento chegar, cada um sentirá o preço.

Enzo permaneceu em silêncio, pesado. A amizade antiga tremia entre a admiração e o medo; sabia que, uma vez lançada, a máquina que Lorenzo armara não seria fácil de deter.

— Então faça isso com controle, L. — disse por fim. — Não deixe que a vingança te consuma. Lembre-se de por quem você luta.

Lorenzo virou-se lentamente, os olhos implacáveis.

— Eu luto por Matteo. — respondeu seco. — E quando terminar, não restará pedra sobre pedra.

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