Capítulo 5 — O Pacto Silencioso
A tempestade não dava sinais de trégua. O vidro do Café Mirante tremia a cada rajada de vento, e o som da chuva já não parecia apenas uma cortina de fundo, mas um chamado insistente para que eles permanecessem ali, presos em um tempo suspenso.
Elias permanecia junto à porta, os braços cruzados em um gesto de autoproteção. Seus olhos estavam fixos na escuridão lá fora, mas a mente voltava, de novo e de novo, às palavras de Rafael. Você é a primeira pessoa em muito tempo que me faz querer lutar contra o que esperam de mim.
Aquilo ecoava dentro dele como uma faísca que se recusava a apagar.
— Você fala como se fosse simples — murmurou Elias, a voz quase perdida no som da chuva. — Mas não é.
Rafael, sentado à mesa próxima, inclinou o corpo para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. Sua postura era relaxada, mas os olhos mantinham uma intensidade que contradizia a calma aparente.
— Eu nunca disse que seria simples. — Uma pausa. — Apenas que não estou disposto a continuar vivendo como esperam que eu viva.
Elias girou o rosto devagar para encará-lo.
— E o que você sugere? Que simplesmente finjamos que não somos quem somos?
— Não — respondeu Rafael, firme. — Sugiro que deixemos de ser apenas isso. Alfa, Ômega... são rótulos. Mas não são tudo. Não podem ser.
Elias riu sem humor, um som breve e amargo.
— Fácil falar quando você é um Alfa.
Rafael franziu o cenho.
— Acha mesmo? — A voz dele soou mais áspera. — Você não tem ideia do que é ser reduzido a um papel que todos veneram, mas que não permite falhas. Acha que não dói ser visto apenas como poder e controle? Sempre como ameaça, nunca como vulnerabilidade?
Elias abriu a boca, mas nenhuma resposta saiu. Ele não esperava aquilo. Estava acostumado a ouvir Alfas se vangloriarem de sua posição, não a confessarem o peso dela.
Um silêncio se instalou, denso, até que Elias suspirou.
— Então somos prisioneiros diferentes da mesma cela.
Rafael assentiu devagar, um reconhecimento silencioso.
— Talvez seja hora de parar de lutar sozinhos.
O coração de Elias acelerou. Parte dele queria recusar, erguer barreiras, lembrar-se das feridas do passado. Mas outra parte, mais teimosa, queria acreditar. A tempestade lá fora parecia reforçar essa ideia: às vezes, era preciso esperar junto, resistir junto.
Ele se aproximou, hesitante, até parar diante da mesa onde Rafael estava. Os olhos dos dois se encontraram, e Elias sentiu aquele arrepio familiar percorrer-lhe a espinha. Mas, em vez de recuar, se obrigou a sustentar o olhar.
— O que exatamente você está propondo?
Rafael endireitou-se na cadeira, sem se afastar.
— Um pacto. — A palavra soou pesada, quase solene. — Não nos deixarmos definir só pelos instintos. Nem pelo cio, nem pelo domínio. Nem pelo que a sociedade quer que sejamos.
Elias arqueou uma sobrancelha, tentando esconder o turbilhão dentro de si.
— E acha que isso é possível?
— Não sei. — Rafael deu um meio sorriso, pequeno, mas sincero. — Mas quero tentar. E... quero tentar com você.
As palavras pairaram no ar como eletricidade antes de um relâmpago. Elias engoliu em seco, sentindo o chão se mover sob seus pés. A ideia era absurda, perigosa até. Mas, pela primeira vez em muito tempo, não parecia impossível.
Ele estendeu a mão, hesitante, sobre a mesa. Não como submissão, não como rendição, mas como um gesto de escolha.
— Então, que seja um pacto.
Rafael olhou a mão estendida por um instante que pareceu eterno. Então, finalmente, pousou a própria sobre a dele. O contato foi breve, contido, mas carregado de algo maior que desejo. Era reconhecimento. Era decisão.
A tempestade rugiu mais uma vez, mas dentro do café, Elias e Rafael haviam encontrado algo que a chuva não poderia apagar: um compromisso silencioso, frágil, mas real.
Um pacto contra o mundo.
---
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 62
Comments