Capítulo 2 — Instintos em Conflito
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O café estava cheio, mas para Elias parecia
que só havia ele e Rafael naquele espaço. Cada respiração se tornava difícil, como se o ar tivesse sido substituído por algo mais denso, carregado do cheiro dele. Musgoso, amadeirado, elétrico. Um perfume que não era apenas aroma, mas um aviso gravado no instinto mais primitivo do corpo de Elias.
Seu cio se agitava sob a pele como brasas encobertas, e o supressor já não o protegia o suficiente. As mãos tremiam contra a porcelana da xícara, e a cada vez que tentava beber um gole de chá, o líquido descia amargo, traindo sua ansiedade.
— Você parece nervoso — observou Rafael, a voz grave e calma, como se falasse sobre o clima.
O olhar dele, entretanto, o analisava em silêncio, cada detalhe, cada respiração acelerada.
Elias mordeu o lábio, buscando uma saída plausível.
— Só... não gosto de multidões.
Rafael ergueu uma sobrancelha, descrente. Não insistiu, mas também não desviou os olhos. O silêncio dele era tão pesado quanto as palavras. Elias odiava a sensação de estar nu diante daquele olhar, como se todos os segredos que tentava esconder estivessem ali, expostos sem defesa.
O instinto gritava dentro dele. O cio se tornava um sussurro perigoso em sua mente, pedindo rendição. Era vergonhoso, humilhante, como se uma parte dele não tivesse escolha. Apertou os punhos sob a mesa, tentando se prender a qualquer vestígio de racionalidade.
Rafael, por sua vez, também travava sua própria batalha. O cheiro do Ômega era inconfundível, doce e tentador como fruta madura no auge da estação. Seu corpo reagia naturalmente, músculos tensos, respiração mais profunda, o instinto de domínio rugindo como fera enjaulada. Ele poderia estender a mão, tocar, reivindicar. Era fácil. Era o que se esperava de um Alfa.
Mas não era o que queria.
Fechou a mandíbula, firme, como se cada segundo fosse um exercício de controle. Não permitiria que seu corpo decidisse por ele. Nunca mais.
— Multidões também não me agradam — murmurou, finalmente, a voz baixa, quase íntima. — Mas às vezes... é preciso estar no lugar errado para encontrar o motivo certo.
Elias engoliu em seco. Havia uma ambiguidade perigosa naquelas palavras, uma ponte entre confissão e provocação. O coração batia rápido demais, como se o som fosse audível.
Do lado de fora, a chuva aumentava, os relâmpagos cortando o céu em linhas prateadas. Cada trovão parecia ecoar dentro do peito de Elias, lembrando-o do perigo de ceder.
Ele não podia. Não ali. Não com ele.
Mas quando levantou os olhos e encontrou novamente o olhar de Rafael, viu a mesma luta refletida — desejo e contenção, instinto e escolha. Dois mundos prestes a colidir, presos em um jogo silencioso.
E pela primeira vez, Elias não se sentiu sozinho em sua batalha.
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CONTINUA
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Atualizado até capítulo 62
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